Por Milton Temer
GREGÓRIO BEZERRA, "feito de ferro e de flor". Um Bravo. Um herói do povo trabalhador brasileiro. Nascia há exatos 120 anos, depois dele muitos poucos chegaram perto do que fez em toda a sua vida - marcada por imensa coragem e ternura - pelos deserdados e oprimidos.
CONHECI GREGÓRIO, num dos eventuais encontros dominicais na casa de Luis Carlos Prestes, em Moscou, lá nos anos 70. O gigante lendário me chegava como um doce e modesto camarada. De fala mansa. Sorridente.
"NÃO LUTO CONTRA PESSOAS. Luto por idéias. Luto contra a opressão", ouvia dele, extasiado, lembrando as imagens de 2 abril, com ele arrastado por um jipe do Exército através das ruas de Recife. tal o ódio dos golpistas por aquele valente, já de cabelos brancos em 1964.
FOMOS NOS REENCONTRAR EM Paris, alguns anos depos. Ele estava de passagem em suas andanças continentais para reuniões com a militância exilada,. Estava alojado na casa do meu então vizinho e irmão, Leandro Konder, onde pude conhecer a faceta vovô do gigante. Foram dias de muita conversa onde não consegui ouvir manifestação mínima de ódio pessoal pelos que o torturaram tão barbaramente em 64. Preferia falar da "rapaziaa" que o havia libertado, mesmo sem ter sido de qualquer organização de luta armada, como primeiro nome na lista dos trocados pelo embaixador americano Charles Burke, no sequestro onde pontificaram Cid Benjamin e Franklin Martins, em parceria com Joaquim Ferreira.
NA VOLTA AO BRASIL. abracei-o pela última vez, ao recebê-lo no Galeão. Do abraço herdei uma foto que, dias depois, um fotógrafo amigo encarregado da cobertura da chegada me entregou discretamente na redação do jornal em que trabalhávamos.
GREGÓRIO BEZERRA está entre os que, no meu Pantheon particular, coloco ao lado de Marighela, Apolônio de Carvalho e Prestes. E cuja imagem mais completa, vou buscar no cordel que Enio Silveira, o grande editor da saudosa Civilização Brasileira, usou para encerrar a orelha do primeiro volume da biografia de Gregório que publicou:
"Mas existe nesta Terra
Muitos Homens de Valor
Que é bravo sem matar gente
Mas não teme matador
Que gosta de sua gente
E que luta em seu favor.
Como Gregório Bezerra
Feito de ferro e de flor"
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