sábado, 29 de setembro de 2012
sexta-feira, 28 de setembro de 2012
Lift me up
Plain talking (plain talking)
Take us so far (take us so far)
Broken down cars (broken down cars)
Like strung-out old stars (like
strung-out old stars)
Plain talking (plain talking)
Served us so well (served us so well)
Travelled through hell
(travelled trough hell)
We know how it felt (we
know how it felt)
Lift me up, lift me up
Higher now up now
Lift me up, lift me up
Higher now up now
Plain talking (plain talking)
Making us bold (making us bold)
So strung out and cold (so
strung out and cold)
Feeling so old (feeling so old)
Plain talking (plain talking)
Has ruined us now (has ruined us now)
You'll never know how (you'll never know how)
It's sweeter than doubt (sweeter than doubt)
Lift me up, lift me up
Higher now up now
Lift me up, lift me up
Higher now up now
[4x]
Lift me up, lift me up
Ohla la la la
Lift me up, lift me up
Ohla la la la
[4x]
quinta-feira, 27 de setembro de 2012
quarta-feira, 26 de setembro de 2012
terça-feira, 25 de setembro de 2012
segunda-feira, 24 de setembro de 2012
domingo, 23 de setembro de 2012
E ainda tem gente que precisa de drogas
Resolvi passar para cá algumas partes, negritadas por mim, no livro de Basarab Nicolescu. Espero que goste.
"No mundo quântico reina a deusa "descontinuidade". A energia varia em saltos: entre dois níveis energéticos sucessivos não há nada, estritamente nada, nenhum outro nível de energia. Os "números quânticos" das partículas (que são características dessas partículas, assim como o peso de nosso corpo, a cor de nossos olhos etc. são características de nosso corpo) têm valores precisos, discretos, e entre dois valores sucessivos desses números quânticos não há nada, estritamente nada, nenhum outro número possível. Esta descontinuidade de que falamos é pura e dura, e nada tem em comum com o significado dessa palavra na linguagem ordinária (como, por exemplo, a bifurcação de um caminho). Como imaginar tal descontinuidade? Tentemos imaginar uma "escada quântica" cujos degraus não estão de modo algum ligados entre si, e tentemos imaginar-nos subindo tal escada. Isto é evidentemente impossível; nossa imaginação habitual preenche instintivamente o intervalo entre os degraus. Tentemos outra imagem: um pássaro que salta de um galho a outro de uma árvore sem passar por nenhum ponto intermediário: é como se o pássaro se materializasse subitamente em qualquer galho. É evidente que nossa imaginação habitual se paralisa ante tal possibilidade, mesmo que a matemática possa tratar esse tipo de situação com rigor.
Nesse "Vale da Estupefação",* muitas outras surpresas espreitam o viajante, aguçando seu imaginário e forçando-o a descobrir em si mesmo um grau insuspeito do imaginário que faz tudo retornar à ordem e lugar apropriados. Em seu caminho, o viajante encontra uma dessas partículas quânticas que lhe aparece como onda e partícula ao mesmo tempo. "Contradição!, ilusão!", exclama ele. "É como se me dissessem que sou e não sou ao mesmo tempo". Mas subitamente sua face se ilumina, pois enfim ele compreende ter sido seu próprio olhar que viu uma onda e uma partícula ao mesmo tempo, por um recorte conforme à sua própria natureza. Esse habitante do Vale da Estupefação é, na verdade, muito mais complexo que uma onda ou uma partícula.
*Extraído da Linguagem dos Pássaros, a epopéia de Farid ud-Din Attar, é o nome de um dos sete vales que devem ser transpostos pelo viajante que busca a verdade. Aliás, é com esta passagem de Attar que Nicolescu abre o primeiro capítulo de seu livro Nous, le particule et le monde. (N.T.)
Mais confiante, ele continua sua jornada. Então pára e não quer mais aceitar o que vê, pois vê com seus próprios olhos a famosa não-separatividade quântica, da qual lhe falaram com tanta freqüência nas obras de divulgação publicadas em seu próprio mundo. Até este momento, ele estava pronto a aceitar tudo: que os habitantes desse mundo quântico se movem em velocidades vertiginosas, incomparavelmente maiores que a de nossos foguetes; que o vazio que o cerca está repleto de formas evanescentes que aparecem e desaparecem perpetuamente, numa sinfonia de formas de inigualável beleza; que a energia oculta nesse mundo quântico é imensa, sem proporção alguma com as energias que se manifestam no próprio mundo do viajante. Porém, essa "não-separatividade" o deixa furioso. Ver dois habitantes desse Vale da Estupefação - um numa galáxia, outro noutra - reagir simultaneamente, como um todo, ultrapassa em muito sua capacidade de aceitar o desconhecido. Como pode nosso viajante, que conhece bem a teoria da relatividade e sabe que nenhum sinal pode ultrapassar a velocidade da luz, conceber que essas duas partículas possam reagir simultaneamente quando nenhum sinal conhecido pode ligá-las entre si? "Magia, mística, mistificação!", exclama ele, decidido a sair desse mundo quântico, pois quer, a qualquer preço, preservar sua razão. Nesse exato momento, vê surgir diante de si um outro viajante de seu próprio mundo, um compatriota, que começa a conversar com ele. É verdade que há algo de perturbador em sua face: ora lembra vagamente a de um pensador do século XVI, ora assemelha-se de súbito à de um físico do século XX, e há inclusive momentos em que a face do outro viajante se assemelha perfeitamente à sua própria. Todavia, sua palavra é serena, calma, tranqüilizadora, racional.
"Nada há de estranho aqui, meu amigo," diz o segundo viajante. "Estou aqui há muito tempo e tive a oportunidade de convencer-me disso. Agora é antes nosso próprio mundo que me parece estranho, incompreensível, e quando retornarmos a ele teremos de fazer o esforço necessário para compreendê-lo. Tomemos essa famosa 'não-separatividade' que tanto te perturba. Um exemplo poderia fazer que compreendas por que nada há de estranho ou mágico nela. Imagina-te de novo em teu próprio mundo tão familiar, de três dimensões espaciais. Agora imagina uma folha de papel (de duas dimensões), povoada por todo tipo de habitantes, cujos órgãos dos sentidos lhes permitem perceber com precisão o que se passa em duas dimensões, mas exclusivamente em duas dimensões. Tomemos agora um círculo e deixemos que ele penetre suavemente a folha de papel, num ângulo perpendicular a essa folha. Os habitantes desse mundo bidimensional verão primeiro a súbita aparição de um ponto. Pensarão tratar-se de um novo fenômeno, e que seria conveniente estudá-lo com todos os meios de sua ciência. Em seguida, verão o ponto separar-se em dois, que aos poucos se afastam um do outro. Farão todo tipo de experiências e inventarão teorias para explicar perfeitamente o que se passa.
As complicações começarão quando um desses físicos de duas dimensões - aliás, um dos mais brilhantes de sua época - mostrar sem ambigüidade alguma que o movimento dos dois pontos indica a existência de correlações incompreensíveis: os dois pontos reagem como um conjunto solidário, sem que nenhum sinal possa ligá-los entre si, pois, segundo a teoria há muito formulada por um de seus cientistas, os físicos sabiam que nenhum sinal pode ultrapassar certa velocidade limite. Os físicos desse mundo bidimensional tinham acabado de descobrir a 'não-separatividade'. O círculo continua seu movimento: os dois pontos, após atingir a distância máxima (o diâmetro do círculo), começariam a aproximar-se até se juntarem num só ponto, que em seguida desapareceria subitamente do mundo da folha de papel sem deixar qualquer vestígio: o círculo teria apenas atravessado o papel. Enquanto isso, polêmicas assolariam o mundo de duas dimensões, não apenas na comunidade dos físicos, mas também entre os filósofos e teólogos. De tempos em tempos o grande público assistiria a seus debates televisados ou leria alguns de seus incontáveis compêndios, sem nada compreender do que estaria ocorrendo. Até hoje a não-separatividade continuaria a ser considerada um grande mistério, ainda que uma poderosa associação 'de-pensar-conforme-nossos-próprios-sentidos' tentasse fazer que eles acreditassem não haver mistério algum, dizendo: é necessário ler as equações matemáticas, ver que 'isso de fato ocorre' e não tentar 'compreender' mais do que permitem as equações.
"No entanto, para nós a situação é muito simples e racional: trata-se apenas de um círculo que atravessa uma folha de papel."
A face do viajante torna a iluminar-se. Ele compreende que seus próprios hábitos de pensamento o impedem de perceber a nova realidade.
Ele continuou sua jornada por longo tempo e descobriu muitas outras maravilhas. Após sua viagem (seria demasiado descrevê-la aqui em detalhe) ele retornou a seu mundo e escreveu um livro de grande erudição: Da natureza do Espaço-Tempo, que teve extraordinária repercussão entre seus compatriotas; não apenas entre cientistas e filósofos, mas também em toda a população. A prova disso é que agora muitos se empenham em empreender a viagem ao Vale da Estupefação, com a secreta esperança de com isso poderem enfim compreender seu próprio mundo, tornado, nesse meio tempo, caótico, anárquico, violento, louco."
PS: Coloquei essa imagem só para dizer que esse conceito já foi ultrapassado a muito tempo.
sábado, 22 de setembro de 2012
Esclarecimento
Uma característica da cosmologia moderna é a união da cosmologia astronômica e da física de partículas. Deste modo, busca-se uma descrição unificada que abarque todos os níveis da organização do Universo, desde o nível subatômico até o do Universo alcançado pelo astrônomo em seu raio máximo de visibilidade. A teoria cosmológica de maior aceitação atualmente é a do "Big Bang", que apresenta a história do Universo dividida em diversas eras, cada uma delas marcada por um acontecimento dramático. Assim, fala-se na "era da matéria", que teriá começado quando a densidade da matéria superou a da radiação. Ou ainda, na "era da recombinação", que começou quando o Universo se resfriou o suficiente para que os eletrons se ligassem aos núcleos (principalmente os prótons), constituindo os primeiros átomos.
Uma repartição de eras do Universo, que tem profundas conseqüências, é aquela que considera o número de "forças" atuantes na matéria. A era atual é caracterizada por quatro forças: gravitacional, eletromagnética, fraca e forte. No Universo extremamente primitivo, todas estas forças estariam unificadas numa força única. A evolução do Universo pode então ser representada como o resfriamento (a separação) de determinadas forças a partir de uma única força primitiva. No momento mais primordial que pode ser vislumbrado pela nossa física, o chamado "instante de Planck", quando o Universo tem apenas 1043 segundo de idade, há apenas uma força única. Neste instante ocorre a primeira crise, a separação entre a força da gravidade e a força GUT, assim batizada pela Grand Unification Theory, que propõe unificar as forças eletromagnética, forte e fraca. A segunda crise ocorre quando o Universo tem 1035 segundos de idade, e marca a separação da força GUT em força forte e força eletro-fraca. Essa separação provoca uma imensa expansão do Universo, a chamada "Inflação". Posteriormente temos três forças: a gravitacional, a forte e a eletro-fraca. Quando chegamos ao tempo de 1 segundo, ocorre a divisão da força eletro-fraca em fraca e eletromagnética, e, desde então, temos o Universo com as quatro forças, com as quais estamos familiarizados.
Cada uma dessas crises ou transições de fase ocorre através de "janelas" extremamente estreitas. O resultado é a falta de simetria do Universo em que vivemos. Por exemplo, o nosso Universo é constituído por matéria e não por antimatéria. Mas qual a razão dessa assimetria, se matéria e antimatéria são especulares, isto é, se a diferença entre elas é apenas a troca do sinal das quantidades eletromagnéticas? À primeira vista, não há razão alguma para que uma exista em maior quantidade do que a outra. De fato, a predominância da matéria representa um "ajuste fino". Pois, em épocas mais primitivas havia antimatéria e a desigualdade entre esta e a matéria era mínima, isto é, a diferença era de 1 parte a cada 10 bilhões, o que dá uma idéia da estreiteza das "janelas" cosmológicas. Outro exemplo é fornecido pelo fato da força forte ser 137 vezes mais forte que a força eletromagnética. Isto é conseqüência de uma constante fundamental da física, a constante de estrutura fina (cujo valor é 137), pois se a força forte fosse ligeiramente mais fraca do que é, o único elemento estável seria o hidrogênio, o que impossibilitaria a complexidade microscópica do Universo e, conseqüentemente a vida.
Supercordas: Teoria quântica que abarca todas as forças da natureza, incluindo a força da gravidade. Esta teoria é uma teoria de unificação, ou seja, uma teoria que visa a unificar todas as forças da natureza. O projeto da teoria de unificação foi iniciado por Albert Einstein, que tentou, sem sucesso, até o fim da sua vida, elaborar a Teoria do Campo Unificado, que unificaria todas as forças conhecidas. Todas as teorias de unificação enfrentaram grandes dificuldades em incorporar a gravidade, dificuldades que foram superadas com algum sucesso pela teoria de supercordas. Proposta pelo físicos Michael Green e John Schwartz, em 1984, seu elemento fundamental é uma corda sub-microscópica em substituição à usual partícula pontual. Essa teoria é consistente apenas em 10 dimensões, que não são relevantes nas condições às quais estamos familiarizados, que são adequadamente descritas pelo continuum quadridimensional de espaço-tempo da Teoria da Relatividade.
BASARAB NICOLESCU
sexta-feira, 21 de setembro de 2012
Para que serve o IPad...
Cara, não é porque sou a favor do Android, não.. Pois para mim, quando mais livre, melhor... Mas esse vídeo é ótimo... hahahahaha!!!!
quinta-feira, 20 de setembro de 2012
Máquina forte
Sempre babei por essa motinha.... Ainda mais com as suspensões trocadas.... Deve ter ajudado ela bastante....
Ciência, Sentido & Evolução II
Não me contive. Tenho que colocar o prefácio da edição francesa do livro do título do post. Como já havia colocado o prefácio da edição americana escrito por Joscelyn Godwin, antes de guardar o livro, reli o que Antoine Faivre escreveu e me senti obrigado a colocá-lo aqui. Um complementa o outro na explicação da narativa que se segue no livro. Com já havia dito em algum lugar por aqui, esse blog é para você e para que eu guarde em um lugar especial, informações que me levaram a ser quem sou na atualidade. Um repositório de informações que minha mente insiste em guardar. E talvez para tentar conseguir que algum incauto se aventure na leitura desse livro. Incauto porque, uma vez adentrado nessa senda, e compreendido o que ela faz com o, primeiramente, curioso, nunca mais será possível voltar a trás e dizer para si mesmo que não tem o conhecimento. E que esse conhecimento nunca é o bastante. Até verificar que, paradoxalmente, esse conhecimento não se encontra em livros. Daí, estará a um passo de entrar no silêncio.
Prefácio a edição francesa
A relação entre a Natureza e o Espírito é talvez a questão mais fundamental da metafísica. Certamente é possível esquivar-se dela afirmando que só existe uma única ordem de realidade: seja a Natureza, reduzida à matéria ou a uma forma de energia; seja (seguindo o exemplo de uma corrente que se diz representante da "Tradição") o Espírito, fora do qual tudo, inclusive a Natureza em sua totalidade, não passaria de uma ilusão. O panteísmo, que não deixa a Deus lugar algum fora da Natureza, seria então uma variante desse monismo de duas faces. Pode-se também estabelecer um corte entre Espírito e Natureza, uma solução radical de sua continuidade, de onde provêm os diversos tipos de dualismo: seja o deísmo, com seu tranqüilo Deus otiosus, seja as figuras trágicas desenvolvidas pelas gnoses de tipo maniqueísta, prontas a lançar sobre a Natureza um anátema irrevogável.
Por outro lado, é possível conceber essa relação entre Natureza e Espírito como algo de uma complexidade rica e paradoxal. Essa abordagem não impede que um dos dois termos seja absorvido pelo outro, como resultado de um processo dialético, por exemplo: a Natureza pode ser absorvida por um espírito em busca de auto-realização. Contudo, não somos obrigados a sucumbir a essa tentativa de conceber o Ser, mesmo que absoluto, como uma espécie de antropófago. Então um caminho singularmente fecundo se abre, o caminho sempre trilhado pelo Ocidente quando o interesse pela Natureza como realidade e não uma ilusão, pela Natureza como sujeito, é acompanhado pelo questionamento do que haveria fora dela, fora do que pode ser apreendido pela observação e experimentação científicas. A tradição judaico-cristã certamente não trazia em seu germe o desdém por essas possibilidades; no entanto, a reiterada tentativa de reprimir a Natureza - o aspecto feminino, identificado confusamente à Sophía decantada por Jacob Boehme -, de reduzi-la e humilhá-la, é uma das mais interessantes e desconcertantes de sua história, sensível sobretudo nas igrejas institucionalizadas; pois embora no interior delas tenham florescido outras correntes - como na Idade Média, por exemplo, as Escolas de Chartres e de Oxford -, foram rapidamente esquecidas. Assim, é muitas vezes à margem das igrejas, ainda que freqüentemente ligados espiritualmente a elas, que são encontrados os homens mais inspirados, cuja relativa independência e secularidade lhes conferia certa margem de liberdade. É entre esses homens que são encontradas as mais inspiradas "Tábuas vivas ou naturais das relações que unem Deus, o Homem e o Universo", para ecoar o título do admirável livro de Louis Claude de Saint-Martin (Tableau Naturel des Raports qui existent entre Dieu, 1'Homme et 1'Univers, 1782, Lyons).
Jacob Boehme é um desses. Sem dúvida esse mestre de Saint-Martin, de Franz von Baader e de muitos outros é o maior de todos eles. Seus escritos são os de um visionário perpetuamente aberto ao reino mítico judaico-cristão, cuja inspiração faz jorrar tormentas e tempestades, lava vulcânica e um conjunto de sentidos e cores suaves ordenadas como as do arco-íris. Aceitar hipoteticamente, reconhecer em tal discurso uma dimensão profética comparável à de Ezequiel, arriscar consentir que a imaginação criadora de Jacob Boehme poderia muito bem permanecer irredutível aos caprichos de uma subjetividade fechada em si mesma, não constituiria necessariamente um ato de fé, mas revelaria uma aposta metodológica que certamente valeria o risco. É essa aposta que Basarab Nicolescu nos convida a fazer, e parece-me que ela pode ser aceita ao menos por três razões.
Em primeiro lugar, se não há mais dúvida de que a imaginação, tomada agora no mais amplo sentido do termo, exerce uma função orientadora na escolha da pesquisa, tendo inclusive influência na natureza das próprias descobertas, talvez ainda não se tenha ponderado o bastante sobre a fecundidade potencial das estruturas com vocação para a universalidade, como as encontradas em certos visionários. Cada uma dessas estruturas, afirmadas por seu autor como absoluta, parece relegar as anteriores à condição de curiosidades ultrapassadas; porém, cada uma delas mereceria sem dúvida ser reavaliada de tempos em tempos pelo pesquisador que se permite ir em busca de esquemas unificadores, que, como um órganon, poderiam ajudá-lo a lançar suas redes nas águas de sua representação do real. Entre os pensadores ocidentais que elaboraram tais estruturas figuram Raymond Lulle, Hoëné Wronski, Raymond Abelio e Jacob Boehme; mas este último foi sem dúvida o único a forjar sua chave na incandescência visionária do mítico. Ele empregou uma estrutura simbólica cuja arquitetura barroca, longe de abalar a coerência interna de seu discurso, lhe dá substância e o encarna em esquemas figurativos e concretos.
Talvez nada se tenha a perder por postular a existência de uma natureza comum, uma conatureza, entre a mente humana e o Universo, e em seguida tomar uma linha de pensamento hipotético-dedutiva, cujas implicações e dimensões Basarab Nicolescu explora aqui. Essa natureza comum significa que os dois termos, mente e Universo, estariam associados numa relação de analogia, de tal modo que a mente humana seria por vezes capaz de interiorizar - faculdade cuja noção foi desenvolvida no Corpus Hermeticum alexandrino do século III - e em seguida projetar, sob a forma de imagens e símbolos, as próprias estruturas que, para citar o verso do Fausto de Goethe, "sustentam o Universo em sua coesão mais íntima" (Was die Welt im Innersten zusammenhklt).
Assim, Raymond Abellio, surpreso com a estreita analogia revelada por uma comparação entre os sessenta e quatro hexagramas do I Ching e os elementos do código genético, pôde chamar a atenção para a possibilidade dessa conatureza.
Ora, parece-me - e essa seria a segunda razão para aceitar a aposta sugerida por Basarab Nicolescu - que dentre os visionários cuja imaginação se apresenta sobretudo como "criadora", isto é, apta a recriar e, de certo modo, reproduzir as configurações arquetípicas, os que vão mais longe e de cujas obras se depreende uma impressão de autenticidade, são aqueles que tomam por fundamento, por base, por suporte de suas meditações, como trampolim e ferramenta heurística, o mítico. O mítico é, aqui, história experimentada em imagens, um cenário organizado como um tríptico: primeiro cosmogonia (ou teogonia) e antropogonia, depois cosmologia (ou cosmosofia), por fim escatologia. Em Jacob Boehme, a hermenêutica dessa história desenvolve-se sempre a partir da revelação judaico-cristã, e leva o nome de teosofia, que também se aplica à cabala judaica do Zohar.
O que ela nos pode oferecer? Nada menos que a possibilidade de reconstituir nosso caduceu. Se o mítico, assim compreendido, volta a ser levado a sério, graças àqueles, pouco numerosos, que escapam ao domínio dos reducionismos, e desde que o homem já não se sente em casa numa natureza que tende a tornar-se radicalmente "outra", surge, ao mesmo tempo, o questionamento sobre o sentido da ciência e de sua finalidade. É por isso que se sente uma urgente necessidade de uma Filosofia da Natureza, no sentido em que lhe atribuíam os pensadores do romantismo alemão, tais como Franz von Baader, o Boehmius redivivus. Uma Naturphilosophie não restrita por uma teologia, e muito menos por uma ideologia, mas aberta ao ontológico e apta a acolher o produto de uma transdisciplinaridade fecunda. Uma imaginação criadora como a de Jacob Boehme, lançando suas raízes - como a árvore carregada de flores e frutos que extrai do solo sua fecundidade - no terreno do mítico, estabeleceria um duplo laço, à semelhança do caduceu de Hermes, com uma ciência cuja especificidade não mais impediria o cientista de ser também um filósofo.
Há, por fim, uma terceira razão, ligada às duas primeiras, que diz respeito à própria escolha de Jacob Boehme pelo autor do presente livro. Até este momento, no século XX, o caráter embrionário de uma Naturphilosophie, que ainda não tomou corpo, apresenta-se sobretudo sob a forma de comparações ou aproximações entre um real descrito pela ciência e imagens tomadas do simbolismo de diversas tradições religiosas. Nada há nisso que seja contrário às orientações sugeridas acima; contudo essas aproximações, como a do Tao à física, por mais atraentes que possam ser, resultam essencialmente estéticas e, por falta de fundamento ontológico, não servem por si mesmas como prolegômenos de uma Filosofia da Natureza. Se é verdade, como insiste Basarab Nicolescu, que os graus de realidade "corresponde" aos do Imaginário, as comparações até aqui oferecidas a nós convidam-nos a considerarmos apenas os primeiros graus ou ordens de realidade a serem percorridos. Enfim, verifica-se que a grande maioria dessas comparações tomam suas imagens de tradições do Extremo-Oriente, como se nosso solo ocidental, ainda tão mal explorado sob esse enfoque, não estivesse pronto a revelar sua beleza, como se não contivesse jazidas teosóficas, alquímicas e herméticas a serem exploradas, com riquezas sem dúvida mais acessíveis que as exóticas pérolas do Oriente. São essas jazidas que devem orientar nossa busca, e, também por isso, saudamos o surgimento do livro de Basarab Nicolescu como um importante acontecimento.
ANTOINE FAIVRE
A relação entre a Natureza e o Espírito é talvez a questão mais fundamental da metafísica. Certamente é possível esquivar-se dela afirmando que só existe uma única ordem de realidade: seja a Natureza, reduzida à matéria ou a uma forma de energia; seja (seguindo o exemplo de uma corrente que se diz representante da "Tradição") o Espírito, fora do qual tudo, inclusive a Natureza em sua totalidade, não passaria de uma ilusão. O panteísmo, que não deixa a Deus lugar algum fora da Natureza, seria então uma variante desse monismo de duas faces. Pode-se também estabelecer um corte entre Espírito e Natureza, uma solução radical de sua continuidade, de onde provêm os diversos tipos de dualismo: seja o deísmo, com seu tranqüilo Deus otiosus, seja as figuras trágicas desenvolvidas pelas gnoses de tipo maniqueísta, prontas a lançar sobre a Natureza um anátema irrevogável.
Por outro lado, é possível conceber essa relação entre Natureza e Espírito como algo de uma complexidade rica e paradoxal. Essa abordagem não impede que um dos dois termos seja absorvido pelo outro, como resultado de um processo dialético, por exemplo: a Natureza pode ser absorvida por um espírito em busca de auto-realização. Contudo, não somos obrigados a sucumbir a essa tentativa de conceber o Ser, mesmo que absoluto, como uma espécie de antropófago. Então um caminho singularmente fecundo se abre, o caminho sempre trilhado pelo Ocidente quando o interesse pela Natureza como realidade e não uma ilusão, pela Natureza como sujeito, é acompanhado pelo questionamento do que haveria fora dela, fora do que pode ser apreendido pela observação e experimentação científicas. A tradição judaico-cristã certamente não trazia em seu germe o desdém por essas possibilidades; no entanto, a reiterada tentativa de reprimir a Natureza - o aspecto feminino, identificado confusamente à Sophía decantada por Jacob Boehme -, de reduzi-la e humilhá-la, é uma das mais interessantes e desconcertantes de sua história, sensível sobretudo nas igrejas institucionalizadas; pois embora no interior delas tenham florescido outras correntes - como na Idade Média, por exemplo, as Escolas de Chartres e de Oxford -, foram rapidamente esquecidas. Assim, é muitas vezes à margem das igrejas, ainda que freqüentemente ligados espiritualmente a elas, que são encontrados os homens mais inspirados, cuja relativa independência e secularidade lhes conferia certa margem de liberdade. É entre esses homens que são encontradas as mais inspiradas "Tábuas vivas ou naturais das relações que unem Deus, o Homem e o Universo", para ecoar o título do admirável livro de Louis Claude de Saint-Martin (Tableau Naturel des Raports qui existent entre Dieu, 1'Homme et 1'Univers, 1782, Lyons).
Jacob Boehme é um desses. Sem dúvida esse mestre de Saint-Martin, de Franz von Baader e de muitos outros é o maior de todos eles. Seus escritos são os de um visionário perpetuamente aberto ao reino mítico judaico-cristão, cuja inspiração faz jorrar tormentas e tempestades, lava vulcânica e um conjunto de sentidos e cores suaves ordenadas como as do arco-íris. Aceitar hipoteticamente, reconhecer em tal discurso uma dimensão profética comparável à de Ezequiel, arriscar consentir que a imaginação criadora de Jacob Boehme poderia muito bem permanecer irredutível aos caprichos de uma subjetividade fechada em si mesma, não constituiria necessariamente um ato de fé, mas revelaria uma aposta metodológica que certamente valeria o risco. É essa aposta que Basarab Nicolescu nos convida a fazer, e parece-me que ela pode ser aceita ao menos por três razões.
Em primeiro lugar, se não há mais dúvida de que a imaginação, tomada agora no mais amplo sentido do termo, exerce uma função orientadora na escolha da pesquisa, tendo inclusive influência na natureza das próprias descobertas, talvez ainda não se tenha ponderado o bastante sobre a fecundidade potencial das estruturas com vocação para a universalidade, como as encontradas em certos visionários. Cada uma dessas estruturas, afirmadas por seu autor como absoluta, parece relegar as anteriores à condição de curiosidades ultrapassadas; porém, cada uma delas mereceria sem dúvida ser reavaliada de tempos em tempos pelo pesquisador que se permite ir em busca de esquemas unificadores, que, como um órganon, poderiam ajudá-lo a lançar suas redes nas águas de sua representação do real. Entre os pensadores ocidentais que elaboraram tais estruturas figuram Raymond Lulle, Hoëné Wronski, Raymond Abelio e Jacob Boehme; mas este último foi sem dúvida o único a forjar sua chave na incandescência visionária do mítico. Ele empregou uma estrutura simbólica cuja arquitetura barroca, longe de abalar a coerência interna de seu discurso, lhe dá substância e o encarna em esquemas figurativos e concretos.
Talvez nada se tenha a perder por postular a existência de uma natureza comum, uma conatureza, entre a mente humana e o Universo, e em seguida tomar uma linha de pensamento hipotético-dedutiva, cujas implicações e dimensões Basarab Nicolescu explora aqui. Essa natureza comum significa que os dois termos, mente e Universo, estariam associados numa relação de analogia, de tal modo que a mente humana seria por vezes capaz de interiorizar - faculdade cuja noção foi desenvolvida no Corpus Hermeticum alexandrino do século III - e em seguida projetar, sob a forma de imagens e símbolos, as próprias estruturas que, para citar o verso do Fausto de Goethe, "sustentam o Universo em sua coesão mais íntima" (Was die Welt im Innersten zusammenhklt).
Assim, Raymond Abellio, surpreso com a estreita analogia revelada por uma comparação entre os sessenta e quatro hexagramas do I Ching e os elementos do código genético, pôde chamar a atenção para a possibilidade dessa conatureza.
Ora, parece-me - e essa seria a segunda razão para aceitar a aposta sugerida por Basarab Nicolescu - que dentre os visionários cuja imaginação se apresenta sobretudo como "criadora", isto é, apta a recriar e, de certo modo, reproduzir as configurações arquetípicas, os que vão mais longe e de cujas obras se depreende uma impressão de autenticidade, são aqueles que tomam por fundamento, por base, por suporte de suas meditações, como trampolim e ferramenta heurística, o mítico. O mítico é, aqui, história experimentada em imagens, um cenário organizado como um tríptico: primeiro cosmogonia (ou teogonia) e antropogonia, depois cosmologia (ou cosmosofia), por fim escatologia. Em Jacob Boehme, a hermenêutica dessa história desenvolve-se sempre a partir da revelação judaico-cristã, e leva o nome de teosofia, que também se aplica à cabala judaica do Zohar.
O que ela nos pode oferecer? Nada menos que a possibilidade de reconstituir nosso caduceu. Se o mítico, assim compreendido, volta a ser levado a sério, graças àqueles, pouco numerosos, que escapam ao domínio dos reducionismos, e desde que o homem já não se sente em casa numa natureza que tende a tornar-se radicalmente "outra", surge, ao mesmo tempo, o questionamento sobre o sentido da ciência e de sua finalidade. É por isso que se sente uma urgente necessidade de uma Filosofia da Natureza, no sentido em que lhe atribuíam os pensadores do romantismo alemão, tais como Franz von Baader, o Boehmius redivivus. Uma Naturphilosophie não restrita por uma teologia, e muito menos por uma ideologia, mas aberta ao ontológico e apta a acolher o produto de uma transdisciplinaridade fecunda. Uma imaginação criadora como a de Jacob Boehme, lançando suas raízes - como a árvore carregada de flores e frutos que extrai do solo sua fecundidade - no terreno do mítico, estabeleceria um duplo laço, à semelhança do caduceu de Hermes, com uma ciência cuja especificidade não mais impediria o cientista de ser também um filósofo.
Há, por fim, uma terceira razão, ligada às duas primeiras, que diz respeito à própria escolha de Jacob Boehme pelo autor do presente livro. Até este momento, no século XX, o caráter embrionário de uma Naturphilosophie, que ainda não tomou corpo, apresenta-se sobretudo sob a forma de comparações ou aproximações entre um real descrito pela ciência e imagens tomadas do simbolismo de diversas tradições religiosas. Nada há nisso que seja contrário às orientações sugeridas acima; contudo essas aproximações, como a do Tao à física, por mais atraentes que possam ser, resultam essencialmente estéticas e, por falta de fundamento ontológico, não servem por si mesmas como prolegômenos de uma Filosofia da Natureza. Se é verdade, como insiste Basarab Nicolescu, que os graus de realidade "corresponde" aos do Imaginário, as comparações até aqui oferecidas a nós convidam-nos a considerarmos apenas os primeiros graus ou ordens de realidade a serem percorridos. Enfim, verifica-se que a grande maioria dessas comparações tomam suas imagens de tradições do Extremo-Oriente, como se nosso solo ocidental, ainda tão mal explorado sob esse enfoque, não estivesse pronto a revelar sua beleza, como se não contivesse jazidas teosóficas, alquímicas e herméticas a serem exploradas, com riquezas sem dúvida mais acessíveis que as exóticas pérolas do Oriente. São essas jazidas que devem orientar nossa busca, e, também por isso, saudamos o surgimento do livro de Basarab Nicolescu como um importante acontecimento.
ANTOINE FAIVRE
quarta-feira, 19 de setembro de 2012
terça-feira, 18 de setembro de 2012
Skulls Rock Band
Quinta-feira da semana retrasada, teve um 0800 na sede dos Skulls Moto Clube (http://www.skulls.com.br/) no RJ, em homenagem a um amigo de longa data do Clube: Celso Blues Boy. Como sou "agregado" do Clube, claro que estive lá.
Foi diversão garantida para quem passou por lá. Abaixo um vídeo de uma das músicas tocadas.
segunda-feira, 17 de setembro de 2012
Há quem não goste...
E não sou eu..... 6 cilindro em linha....
O que você vê pilotando....
E o que vêem chegando no retrovisor...
O que você vê pilotando....
E o que vêem chegando no retrovisor...
Ciência, Sentido & Evolução
O texto abaixo é o prefácio da primeira edição americana do livro "Ciência, Sentido & Evolução" de Basarab Nicolescu, físico moderno que se dispôs a revelar os pontos em comum entre o pensamento de Jacob Boehme e a física moderna. Preferi colocar esse prefácio, e não excertos do livro, porque é mais conciso na explicação do que se propõe o livro.
Para quem não conhece, Jacob Boehme foi um místico alemão do século XVI/XVII que teve várias experiências místicas muito jovem e que, após alguns anos, resolveu divulgá-las.
Esse livro é, vamos dizer assim, um tanto "técnico" ou "específico". Portanto, não indicado para a maioria das pessoas, pois é complexo e, basicamente, de estudos e não leitura recreativa. Mas não me furto de sugerir a leitura, pois certamente a pessoa tenderá a ler a obra de Jacob Boehme que são de leitura bem mais complexa. Esse livro de Basarab é, com certeza, um prenunciador, para quem não conhece o místico, das idéias desse.
Prefácio
Já que este livro trata da união dos opostos e da reconciliação dos contrários, é provável que atraia o interesse de dois tipos de leitores. De um lado, aqueles que suspeitam que a ciência moderna está à beira de um abismo de descobertas tão formidáveis quanto a Revolução Copernicana. A estes dirigimos nosso Prefácio.
De outro, aqueles já familiarizados com Jacob Boehme ou com o esoterismo ocidental, que sentem que seus estudos filosóficos não podem permanecer alheios às questões científicas dos dias de hoje. O Prefácio de Antoine Faivre falará a estes.
Que base comum poderia servir a um diálogo entre Basarab Nicolescu, um físico moderno, e Jacob Boehme, um visionário renascentista? Para a maioria das pessoas, ciência é fato, imaginação é ficção, e ponto final.
Todavia, esta cisão, que como uma fenda começou a se abrir no século de Boehme e pode começar a fechar-se no nosso, é o sintoma de uma perigosa desarmonia em nossos mundos interior e exterior. Muitas décadas atrás houve um acalorado debate, iniciado por C. P (e mais tarde Lord) Snow, cientista britânico e também famoso romancista, a respeito do que ele chamou "Duas Culturas". Snow advertiu que as comunidades científicas e humanistas estavam afastando-se cada vez mais, ao ponto de tornar os membros de uma "cultura" incapazes não
só de entender, mas até mesmo de avaliar a linguagem e os interesses da outra, chegando mesmo a desprezá-los.
Os cientistas se emaranharam num mundo de tecnologia e pensamento quantitativo, para o qual o mundo qualitativo das artes e das letras, da filosofia e da religião não passava de um agradável adorno. De outro lado, os humanistas contentavam-se em serem analfabetos na matemática e nas ciências, seguros da superioridade de seus propósitos elevados diante de trabalhos sujos como a engenharia. Snow não deixou a seu público nenhuma dúvida quanto ao perigo potencial de tal cisão.
Se, desde os anos 60 houve alguma melhora, foi provavelmente graças aos cientistas, e em especial aos físicos, muitos dos quais foram levados, pelas descobertas deste século, a tornarem-se "metafísicos". Há entre os cientistas uma certa hierarquia, na medida em que os princípios fundamentais de uma ciência servem de material de estudo à outra. Engenheiros e outros técnicos não precisam questionar ou demonstrar os princípios oferecidos a eles pelas ciências teóricas, como a biologia, a química e a física. De modo geral, os biólogos apóiam-se em leis da química, enquanto os químicos se fiam nos princípios da física. Todavia, os modelos da estrutura atômica, tão úteis aos químicos, são ficções para os físicos contemporâneos. E, indo mais além, seria possível afirmar que os princípios em que se apóia o físico são estudados pelo metafísico? Em certos círculos, podemos ser perdoados por tais palavras, uma vez que nos níveis mais altos e especulativos, a física atual investiga o que está além (meta) do mundo físico, e trata - com que surpresa ante a própria audácia! - das mesmas questões do ser e do não-ser que outrora estavam reservadas aos filósofos.
Os humanistas podem opor-se à idéia de uma hierarquia paralela extraída de suas próprias disciplinas, a menos que lembrem que a Teologia foi tradicionalmente considerada a rainha das artes liberais, que eram baseadas antes na investigação humana que na Revelação divina. Porém, que disciplina é essa que estuda os princípios da Teologia? É uma questão delicada, para a qual há várias respostas possíveis. A primeira, e a que menos despertaria interesse nos dias de hoje, é a negação da possibilidade de haver qualquer disciplina acima das "revelações" de Escrituras como a Torá, o Corão e o Novo Testamento. Este é o ponto de vista exotérico. Em segundo lugar, e mais positivamente, há a metafísica, o estudo dos princípios de existência e não-existência, inclusive a de Deus. Este ponto de vista não está limitado pelos dogmas de religião alguma, uma vez que seus princípios, se verdadeiros, devem ser universais. A metafísica é um estudo esotérico, na medida em que não se atém às formas exteriores, mas ao lado interior da religião. Basarab Nicolescu refere-se a um desenvolvimento particular dela, associado ao nome de Renê Guénon, sob o nome de "Tradição". Em terceiro lugar, há a teosofia, que pode ser definida genericamente como o estudo experiencial das coisas divinas.
A Teosofia, em sua investigação dos poderes por detrás e no interior do Universo, que alguns chamam Deus ou deuses, é tomada, não sem razão, com desconfiança: a história está repleta de excêntricos e fanáticos que reivindicaram tal intimidade. No entanto, de maneira muito ocasional, surge um teósofo cujas asserções pedem uma séria atenção da parte daqueles que estão em busca de Sabedoria. Jacob Boehme é um desses. Suas proposições apóiam-se tanto na sua inatacável integridade pessoal, como na fecundidade espiritual de suas descobertas teosóficas. Se Basarab Nicolescu está correto, há então uma terceira garantia: a aplicabilidade do sistema de Boehme às questões com que se depara a ciência moderna, na verdade, a humanidade moderna.
O leitor encontrará neste livro um sumário admiravelmente lúcido de algumas descobertas de Boehme, acrescido de fontes primárias provenientes dos textos do próprio teósofo. E se a questão é fecundidade, este livro é um dos mais ricos frutos que cresceram da árvore boehmiana. Colocando a questão da maneira mais simples possível, sua tese é a de que Boehme, através de alguma faculdade de visão supra-sensorial, foi capaz de contemplar o princípio que está por detrás da criação e da evolução do cosmos. Se isso for de algum modo verdadeiro, tal conhecimento deve despertar definitivamente o interesse da ciência contemporânea. Além do mais, Boehme não se limitou a explicar como o cosmos veio à existência - uma questão ainda não resolvida pela física, mas com a qual esta ao menos não se sente incomodada - mas revela também como e por que evoluiu desde então. Para discutir isso, foi forçado a abordar as qualidades últimas do bem e do mal em suas mais profundas raízes na Natureza divina. Basarab Nicolescu sugere que é chegado o tempo de a ciência deixar de abster-se de tais temas e considerações, como se fossem menos "reais" que as ondas e partículas às quais os físicos reduziram nosso mundo.
Os primeiros princípios de Boehme são as três forças metafísicas que estão por detrás da existência do Universo. Elas começam não com Deus, que é o primeiro Ser, mas com o Sem-fundo (ungrund) do Não-ser (ou o Além-ser), em relação ao qual mesmo o Criador e seu cosmos são como um nada, embora, paradoxalmente, dê origem a ambos. Aqui Boehme eleva ao mais alto limite o princípio hermético da polaridade como geradora da existência, e também desce à maior profundidade da questão relativa àquilo que experimentamos como "mal". A segunda série de princípios de Boehme constitui-se de sete forças que promovem o desenvolvimento do cosmos e de suas testemunhas criadoras: a mente e a alma humanas, que revelam a tragédia e a promessa subjacente à evolução cósmica e humana.
Stephen Hawking conclui seu Uma breve História do Tempo (1988), obra merecidamente popular, com uma enigmática reflexão sobre a existência ou não-existência de Deus, numa dramática demonstração de como em nossos dias a física lança tais questões. Infelizmente, o diálogo entre Hawking e seus leitores não poderia ir além disso, pois foi expresso ou forjado numa linguagem teológica e não metafísica e muito menos teosófica. Hawking escreveu para pessoas que, se tivessem alguma crença religiosa, provavelmente seria num nível exotérico. Por isso, a questão sobre o que é Deus e se ele "existe" ou não jamais poderia ser tratada com a necessária sutileza.
Enquanto o livro de Hawking começa com uma exposição da física e da astronomia e termina numa questão teosófica, este livro começa com uma exposição de Boehme, o teósofo, e termina num questionamento da ciência não menos penetrante que o desafio que Hawking oferece aos teístas. No entanto, talvez a abordagem deste livro seja mais frutífera, uma vez que está fundamentada nos princípios do esoterismo. A própria física foi compelida a tornar-se "esotérica", isto é, a ir além das imagens de realidade do século XIX, que ainda são aceitáveis para a maioria da humanidade. Essa compulsão adveio do que poderíamos chamar justificadamente visões e revelações de Max Planck, Albert Einstein, Neils Bohr, Werner Heisenberg e outros homens dotados de um temperamento claramente metafísico. Por outro lado, a religião declinou de ouvir os teósofos como Plotino, Mestre Eckhart e Boehme, e com isso caiu numa estagnação exotérica. Apenas no seio de uma estrutura duplamente esotérica estas duas culturas poderão reconciliar-se.
É comovente testemunhar este encontro de um físico sofisticado e cosmopolita com um homem do extremo oposto da era moderna: simples, sem escolaridade e não viajado, exceto nos caminhos interiores. Especialmente impressionante é a humildade de Nicolescu diante das revelações do sapateiro. É quase inacreditável que a obra de Boehme esteja destinada a romper o impasse imaginal e moral da ciência moderna. No entanto, nas páginas que se seguem, ocorre o inconcebível!
JOSCELYN GODWIN
domingo, 16 de setembro de 2012
sábado, 15 de setembro de 2012
Indecisão
Essa é a Magrela que tenho.... Tá um passo para ficar toda original.... Motor todo refeito, por precaução, não por necessidade. Tudo com peças originais.
Nesse estilo que queria colocar ela..... Mas como é refrigerada a água e ainda tem um reservatório de óleo 2T (seria de menos, pois poderia abastecer com gasolina e óleo diretamente), o quadro não ficaria tão "pelado" assim.
Mas essa é a opção mais em conta e fácil de fazer... Basicamente, pintar o quadro, comprar um kit de rabeta e paralama dianteiro Acerbis, um aro de alumínio Three Heads de 18x3,5, para a traseira, outro de 18x2,5 na dianteira e tirar o que mais puder dela.... Isso, obviamente, desmontando toda ela e limpando/polindo/pintando todas as peças. O que me deixa indeciso é o fato de fazer 16Km/l na cidade. Ela anda muito, mas também compra seu preço no consumo.
sexta-feira, 14 de setembro de 2012
Bom FDS....
Que tal dar uma peladadinha nesse final de semana? ....
Best Bike Rental (Director's version) . from Stason bros. on Vimeo.
Ah!!! Se achar que consegue, acompanhe a letra da música. Mas isso depois de decorar o vídeo...
hahahahahah!!!
The Show
Songwriters: Kripac, Lenka Eden; Reeves, Jason;
I'm just a little bit caught in the middle
Life is a maze and love is a riddle
I don't know where to go, can't do it alone
I've tried and I don't know why
Slow it down, make it stop or else my heart is going to pop
'Cause it's too much, yeah it's a lot to be something I'm not
I'm a fool out of love 'cause I just can't get enough
I'm just a little bit caught in the middle
Life is a maze and love is a riddle
I don't know where to go, can't do it alone
I've tried and I don't know why
I'm just a little girl lost in the moment
I'm so scared but I don't show it
I can't figure it out, it's bringing me down
I know I've got to let it go and just enjoy the show
The sun is hot in the sky just like a giant spotlight
The people follow the signs and synchronize in time
It's a joke nobody knows, they've got a ticket to the show
Yeah, I'm just a little bit caught in the middle
[ From: http://www.elyrics.net/read/l/lenka-lyrics/the-show-lyrics.html ]
Life is a maze and love is a riddle
I don't know where to go, can't do it alone
I've tried and I don't know why
I'm just a little girl lost in the moment
I'm so scared but I don't show it
I can't figure it out, it's bringing me down
I know I've got to let it go and just enjoy the show
Just enjoy the show
I'm just a little bit caught in the middle
Life is a maze and love is a riddle
I don't know where to go, can't do it alone
I've tried and I don't know why
I'm just a little girl lost in the moment
I'm so scared but I don't show it
I can't figure it out, it's bringing me down
I know I've got to let it go and just enjoy the show
Just enjoy the show, just enjoy the show
I want my money back, I want my money back
I want my money back, just enjoy the show
I want my money back, I want my money back
I want my money back, just enjoy the show
Best Bike Rental (Director's version) . from Stason bros. on Vimeo.
Ah!!! Se achar que consegue, acompanhe a letra da música. Mas isso depois de decorar o vídeo...
hahahahahah!!!
The Show
Songwriters: Kripac, Lenka Eden; Reeves, Jason;
I'm just a little bit caught in the middle
Life is a maze and love is a riddle
I don't know where to go, can't do it alone
I've tried and I don't know why
Slow it down, make it stop or else my heart is going to pop
'Cause it's too much, yeah it's a lot to be something I'm not
I'm a fool out of love 'cause I just can't get enough
I'm just a little bit caught in the middle
Life is a maze and love is a riddle
I don't know where to go, can't do it alone
I've tried and I don't know why
I'm just a little girl lost in the moment
I'm so scared but I don't show it
I can't figure it out, it's bringing me down
I know I've got to let it go and just enjoy the show
The sun is hot in the sky just like a giant spotlight
The people follow the signs and synchronize in time
It's a joke nobody knows, they've got a ticket to the show
Yeah, I'm just a little bit caught in the middle
[ From: http://www.elyrics.net/read/l/lenka-lyrics/the-show-lyrics.html ]
Life is a maze and love is a riddle
I don't know where to go, can't do it alone
I've tried and I don't know why
I'm just a little girl lost in the moment
I'm so scared but I don't show it
I can't figure it out, it's bringing me down
I know I've got to let it go and just enjoy the show
Just enjoy the show
I'm just a little bit caught in the middle
Life is a maze and love is a riddle
I don't know where to go, can't do it alone
I've tried and I don't know why
I'm just a little girl lost in the moment
I'm so scared but I don't show it
I can't figure it out, it's bringing me down
I know I've got to let it go and just enjoy the show
Just enjoy the show, just enjoy the show
I want my money back, I want my money back
I want my money back, just enjoy the show
I want my money back, I want my money back
I want my money back, just enjoy the show
quinta-feira, 13 de setembro de 2012
Falando em Nikos Kazantzakis...
Eis a frase dita por ele um pouco antes de ser excomungado pela Igreja Ortodoxa Grega por causa do seu livro "A Última Tentação". Aliás, outro lindo livro para se ler ou ver a adaptação para o cinema em "A Última Tentação de Cristo". Obviamente, o que ficou marcado nas mentes foi a cena de amor entre Jesus e Maria Madalena. Mas isso é para quem não quer pensar e analisar com mais profundidade as questões do livro/filme.
Vocês me amaldiçoaram, pais sagrados, eu dou a vocês uma benção: possam as suas consciências ser tão claras quanto a minha e possam vocês serem tão morais e religiosos quanto eu.
Outro ótimo livro dele é o "Ascese - os salvadores de Deus". Eis um trecho dele:
E as duas correntes se originam no imo da substância primeva. De começo, a vida surpreende; parece uma reação ilegítima, desnaturada e efêmera às trevas das fontes eternas; mas, quando nos aprofundamos, percebemos que a Vida é o próprio curso, sem princípio nem fim, do Universo. Se assim não fosse, de onde viria a força sobre-humana que nos lança do incriado ao criado e nos impele: plantas, animais, homens à luta? As duas correntes antagônicas são pois sagradas. Cumpre-nos, então, aceder a uma visão que articule e harmonize estes dois prodigiosos impulsos sem princípio nem fim, e por ela regular o nosso pensamento e ação.
Morris West
Outro que li grande parte de sua obra. Talvez por humanizar pessoas pelas quais não ofereço tanta simpatia.
O primeiro que li foi "O Advogado do Diabo" que fala sobre os conflitos pessoais enfrentados por um padre que é levado ao sul da Itália para se fazer de Advogado do Diabo numa investigação sobre um processo de canonização.
Depois veio o livro "As Sandálias do Pescador" que conta a história da eleição de um ex-prisioneiro soviético ao Papado e seus conflitos como tal. Esse também pode ser visto numa grande produção cinematográfica estrelada por Anthony Quinn, Laurence Olivier, Vittorio De Sica, Leo McKern e John Gielgud. Anthony Quinn é o mesmo que protagoniza o filme "Zorba, o Grego" adaptação do livro de Nikos Kazantzakis.
E por aí vai.... gosto do tipo de narrativa dele. É de fácil leitura.
Abaixo, trechos do "As Sandálias do Pescador".
kamenev
Lamentas-nos? Interrogo-me quanto a isso. Gostaria de pensar que sim, porque te lamento. Podíamos ter feito grandes coisas juntos, tu e eu, mas tu estavas ligado a esse louco sonho da vida além-túmulo, enquanto eu acreditava, e continuo a acreditar, que o melhor que o homem pode fazer é tornar frutuosa a terra estéril e sábios os homens ignorantes e ver os filhos de pais franzinos crescerem altos e direitos por entre os girassóis.
........
Suponho que seria cortês congratular-te pela tua eleição. Aceita os meus cumprimentos, por aquilo que valem. Tenho grande curiosidade em saber o que essa função fará de ti. Deixei-te partir porque não conseguia modificar-te, nem forçar-me a degradar-te mais. Ficaria envergonhado se te deixasses corromper pela eminência.
........
Podemos ainda vir a precisar um do outro, tu e eu. Não viste nem metade, mas digo-te, com toda a verdade, que levamos este país a uma prosperidade que ele não conheceu em todos os seus séculos de existência. Estamos rodeados de espadas. Os americanos têm medo de nós; os chineses invejam-nos e querem fazer-nos recuar cinquenta anos. Temos fanáticos dentro das nossas fronteiras que não estão satisfeitos com o pão, paz e trabalho para todos, mas querem transformar-nos em místicos barbudos como os do Dostoievski. Para ti, talvez eu seja um anticristo. Aquilo em que creio, tu rejeitas, mas de momento sou a Rússia e sou o guardião deste povo. Tens armas nas tuas mãos e sei, apesar de não ousar admiti-lo em público, quão poderosas são. Resta-me, ter a esperança de que não as virarás contra a tua pátria nem as empenharás numa aliança a leste ou a ocidente.
........
Quando as sementes começarem a crescer, recorda-te da mãe rússia e recorda-te que me deves a vida. Quando chegar o momento de reclamar o pagamento, enviar-te-ei um homem que te falará de girassóis. Acredita no que ele disser, mas não trates com outros, agora ou mais tarde. Contrariamente ao que se passa contigo, não tenho o espírito santo para me proteger e continuo a precisar de ter cuidado com os amigos. Desejaria poder dizer seres um deles. saudações. kamenev.
........
A diferença entre ti e mim, Kiril, está em que me dedico ao possível enquanto tu te dedicas ao insensato... Deus deseja que todos os homens sejam salvos e tomem conhecimento da verdade. É o que tu pregas, não é verdade? No entanto sabes que é uma loucura. Uma loucura sublime, admito-o, mas continua a ser uma loucura. É uma coisa que não acontece, não acontecerá e não pode acontecer. Que mais é o teu paraíso, senão uma cenoura para fazer trotar o burro? Que mais é o teu inferno, senão um montão de lixo para todos os vossos falhanços... os falhanços de Deus, meu amigo! E dizes que ele é omnipotente. E agora, que vais fazer? Vens comigo, para conseguirmos o pouco que é possível, ou continuarás a perseguir a grande impossibilidade...? sei o que me queres dizer: Deus torna tudo possível. Mas não vês? Sou Deus para ti, neste momento, porque nem sequer podes sair dessa cadeira até que eu dê a ordem... toma! Deus manda-te um pequeno presente! um cigarro...
Kiril
Nenhum homem se mantém inalterado depois da experiência do poder. Alguns pervertem-se e mergulham na tirania. Outros deixam-se corromper pelas lisonjas e pela auto-indulgência, alguns, muito poucos, ganham a têmpera dos sábios pela sua compreensão das consequências das ações executivas. Creio que foi isto o que aconteceu com kamenev. Nunca foi um homem vulgar. quando o conheci tinha-se rendido ao cinismo, mas a rendição nunca foi completa. Provou-o com a sua ação para comigo. Diria que no seu pensamento não existe nenhum domínio verdadeiramente espiritual ou religioso. Aceitou, de um modo exagerado, uma concepção materialista do homem e do universo. Contudo, acredito que dentro dos limites da sua própria lógica atingiu uma compreensão da dignidade do homem e um certo sentido da obrigação de os preservar até onde lhe for possível. Não posso pensar que seja governado por sanções morais, tal como as entendemos no sentido espiritual, mas compreende que é essencial uma certa moralidade prática para a ordem social, e até para a sobrevivência da civilização tal como a conhecemos. Creio que está a tentar dizer-me o seguinte: que posso confiar em que proceda logicamente dentro do seu próprio sistema de pensamento, mas que nunca poderei vir a esperar que trabalhe dentro do meu.
Il Cimiterio di Praga
Umberto Eco é Foda!!!!
Como a muito não lia algo dele, pois o último foi o livro "Baudolino" e que não me chamou muito a atenção, foi com prazer que redescobri nele o autor de romances que gosto tanto. Estou acabando de ler o livro "O Cemitério de Praga" e estou gostando imensamente. Cheguei a ler um texto de um professor chamado Sr. Selvino Antonio Malfatti em que, mesmo não falando mal, sugeri que ele deveria ter se aprofundado mais nas questões do antagonismo entre Liberalismo e Conservadorismo no final do século XIX, mas não acho que o livro tenha sido feito para isso, pois não é um ensaio e sim um romance. Só sei que o livro nos leva ao final do século XIX e, com muita maestria, discorre sobre conspirações, atentados e assassinatos.
Entre aspas: Hoje em dia ler um livro com a ajuda da internet é maravilhoso. Com ela podemos ver pelo google maps os locais em que a trama se desenrola, pesquisar sobre citações do livro e nos aprofundar nas informações contidas nele. Ter em mãos, já que me acostumei a ler diretamente na tela do Laptop, Tablet ou celular, dicionários de nossa língua e de tradutores, facilitando sobre maneira a compreensão do texto e verificação das traduções, pois não se engane, traduções bem feitas são raras.
Tente ler esse excerto do original em Italiano abaixo e verá que não há muita dificuldade de compreensão entre nossa língua e o italiano.
– Immaginarsi come elemento necessario nell’ordine dell’universo equivale, per noi gente di buone letture, aquello che è la superstizione per gli illetterati. Non si cambia il mondo con le idee. Le persone con poche idee sono meno soggette all’errore, seguono ciò che fanno tutti e non disturbano nessuno, e riescono, si arricchiscono, raggiungono buone posizioni, deputati, decorati, uomini di lettere rinomati, accademici, giornalisti. Si può essere sciocchi quando si fanno così bene i propri affari? Lo sciocco sono io, che hovoluto battermi coi mulini a vento.
- Imaginar-se como elemento necessário na ordem do universo equivale, para nós, gente de boas leituras, àquilo que é a superstição para os iletrados. Não se muda o mundo com ideias. As pessoas com poucas ideias estão menos sujeitas ao erro, seguem aquilo que todos fazem, não incomodam ninguém, têm sucesso, enriquecem e alcançam boas posições, como deputados, condecorados, homens de letras renomados, acadêmicos, jornalistas. Pode-se ser idiota quando se cuida tão bem dos próprios assuntos? O idiota sou eu, que quis lutar contra moinhos de vento.
quarta-feira, 12 de setembro de 2012
Humberto de Campos
Desde bem cedo, varava as noites lendo livros. No começo, eram aqueles pequenos livros de histórias de caubóis americanos em que o roteiro consistia, basicamente, de uma cidade comandada por bandidos, uma jovem mulher vivendo com seu idoso pai e um mocinho que aparecia na cidade, sem se identificar, e ao final era um Xerife Federal, salvando a cidade e a mocinha. Meu pai não gostava que eu os lesse por que normalmente eram de péssima edição com erros grosseiros de língua portuguesa. Depois, já na pré-adolescência, dei de ler as obras completas de Humberto de Campos, escritor maranhese. Gostava dele porque, como bom iniciante em leitura, preferia as crônicas a livros enormes.
Abaixo uma de suas crônicas.
Microscópio
Humberto de Campos
Os salões do desembargador Marcelino Pedreira, à rua São Clemente, achavam-se repletos, como poucas vezes acontecia, naquela noite memorável. Políticos, magistrados, médicos, bacharéis, homens de letras e homens de negócios enchiam os grandes compartimentos do palacete magnífico, de mistura com o que há de mais fino, de mais chic, de mais distinto, nas rodas femininas do Rio. Lauro Müller, Miguel Couto, Pires do Rio, Antônio Azeredo, são silhuetas em evidência. O encanto da reunião está, entretanto, na revoada de moças e senhoras que volteiam pelas salas, e entre as quais se destaca, pela formosura, pela mocidade, pela inocência do olhar e dos modos, Mlle. Júlia Petersen, noiva do Dr. Abelardo Moura e filha única do desembargador Feliciano Mendonça.
De repente, como se um punhado de folhas e flores obedecesse a um redemoinho invisível, faz-se uma roda em torno a uma das mesas da sala de chá. Homens de ciência e damas inteligentes formam o grupo. Elevada, culta, a palestra versa os assuntos mais variados, encantando as senhoras.
Na sala contígua, dança-se. E, entre os pares, o Dr. Abelardo e a noiva. Súbito, parando, põem-se os dois a conversar:
— Que mãos tens tu, Julita! — elogia o noivo, maravilhado, apertando os dedos miúdos, finos, quase infantis, da sua prometida.
— Acha-a pequena? — indaga a moça.
— Microscópica!
— Como?
— Microscópica! — insiste o rapaz.
Intrigada com o vocábulo, que ouvia pela primeira vez, a moça pede licença por um instante, penetra no salão de chá e, com a sua ingenuidade, indaga do Dr. Álvaro Osório:
— Doutor, que significa “microscópico?”
— É um derivado de “microscópio”, Mademoiselle! — explica o ilustre fisiologista.
— E que é “microscópio”? — torna a menina, franzindo a testa morena, que os olhos iluminam.
O Dr. Álvaro medita um momento, e, para não perder tempo, explica:
— É um aparelho que faz as coisas crescerem. Compreende?
A menina sorri, agradecida. De repente, porém, pisca os olhos, franze mais a testa, e enrubescendo:
— Ahn!...
Morde o dedinho róseo, meio brejeira, meio encabulada:
— Sem vergonha! Agora é que eu compreendo porque é que ele diz que eu tenho a mão microscópica ...
E sai correndo, vermelha, a abraçar-se com o noivo.
Humberto de Campos
Os salões do desembargador Marcelino Pedreira, à rua São Clemente, achavam-se repletos, como poucas vezes acontecia, naquela noite memorável. Políticos, magistrados, médicos, bacharéis, homens de letras e homens de negócios enchiam os grandes compartimentos do palacete magnífico, de mistura com o que há de mais fino, de mais chic, de mais distinto, nas rodas femininas do Rio. Lauro Müller, Miguel Couto, Pires do Rio, Antônio Azeredo, são silhuetas em evidência. O encanto da reunião está, entretanto, na revoada de moças e senhoras que volteiam pelas salas, e entre as quais se destaca, pela formosura, pela mocidade, pela inocência do olhar e dos modos, Mlle. Júlia Petersen, noiva do Dr. Abelardo Moura e filha única do desembargador Feliciano Mendonça.
De repente, como se um punhado de folhas e flores obedecesse a um redemoinho invisível, faz-se uma roda em torno a uma das mesas da sala de chá. Homens de ciência e damas inteligentes formam o grupo. Elevada, culta, a palestra versa os assuntos mais variados, encantando as senhoras.
Na sala contígua, dança-se. E, entre os pares, o Dr. Abelardo e a noiva. Súbito, parando, põem-se os dois a conversar:
— Que mãos tens tu, Julita! — elogia o noivo, maravilhado, apertando os dedos miúdos, finos, quase infantis, da sua prometida.
— Acha-a pequena? — indaga a moça.
— Microscópica!
— Como?
— Microscópica! — insiste o rapaz.
Intrigada com o vocábulo, que ouvia pela primeira vez, a moça pede licença por um instante, penetra no salão de chá e, com a sua ingenuidade, indaga do Dr. Álvaro Osório:
— Doutor, que significa “microscópico?”
— É um derivado de “microscópio”, Mademoiselle! — explica o ilustre fisiologista.
— E que é “microscópio”? — torna a menina, franzindo a testa morena, que os olhos iluminam.
O Dr. Álvaro medita um momento, e, para não perder tempo, explica:
— É um aparelho que faz as coisas crescerem. Compreende?
A menina sorri, agradecida. De repente, porém, pisca os olhos, franze mais a testa, e enrubescendo:
— Ahn!...
Morde o dedinho róseo, meio brejeira, meio encabulada:
— Sem vergonha! Agora é que eu compreendo porque é que ele diz que eu tenho a mão microscópica ...
E sai correndo, vermelha, a abraçar-se com o noivo.
Assinar:
Postagens (Atom)