Um tributo a esse que já foi dado como o maior filósofo Brasileiro, quiçá do mundo, no século XX. Esse homem analisou a obra de Nietzsche como nenhum outro. Nietzsche começou a ser mal compreendido quando o ideal do super-homem foi colocado como representado no sonho nazista. De lá para cá, com essa pecha, ele foi analisado erroneamente tantas e tantas vezes. Isso por que o ideal Nietzschiano é muito sério para ser compreendido pelo homem ordinário.
Mário Ferreira dos Santos foi um homem de tal magnitude, que ao analisar obras e obras filosófica, como uma grande mente, desenvolveu sua própria compreensão filosófica da vida que é chamada Filosofia Concreta. Abaixo, um excerto de sua obra.
Sobre Nietzsche (De um papel avulso sem data)
A leitura leve que hoje se costuma fazer, passando rápida sobre as linhas dos livros é a mais imprópria quando aplicada à sua obra. Há autores que nos exigem que assumamos a sua personalidade para fruir a essência de sua obra.
Nietzsche é assim; exige de nós uma entrega porque ele jamais se separa de sua obra.
É comum afirmarem que o ideal do super-homem nietzschiano está representado no sonho hitlerista. Nietzsche nunca desejou discípulos e, sempre afirmou, que ser-se discípulo é próprio dos medíocres. Pregou um homem senhor de si mesmo. E quando elogiou os fortes não elogiou a brutalidade. Queria homens fortes, mas era outra força além da dos músculos. A altivez por ele pregada aos homens é a altivez da dignidade. Pode ser-se digno até em andrajos. E quando combateu "a moral dos escravos", combateu os escravos que faziam uma moral de renúncia. Ele só admitia grandeza no escravo quando este se rebelava.
Aquele que aceita suas algemas e cria, para justificá-las, uma filosofia de algema, não é nietzschiano. Se Hitler prega a obediência cega de um homem-massa, sem vontade, que aceita um guia, um chefe, não é nietzschiano, porque Nietzsche combatia os guias como combatia os rebanhos. O super-homem não é o dominador de homens, o chefe, o herói. Nestes via Nietzsche algumas das virtudes que o super-homem deveria possuir. O escravo para rebelar-se, para conquistar sua liberdade, precisa ter as virtudes dos livres e dos dominadores. Era isso que ele pregava. O homem deve superar-se. Não queria que o homem se satisfizesse com a moeda falsa da felicidade da nivelação. Isso não bastaria. Sabia que se os homens atingissem uma época em que todos fossem economicamente iguais, havia possibilidade da ditadura da igualdade. E essa ditadura poderia querer tornar os homens semelhantes em série, por uma educação em série, por "estandardizações" que tirariam o poder criador o indivíduo, e entregando esse poder somente à massa. Nietzsche pregava um homem que, independente da igualização econômica continuasse homem para superar-se intelectualmente, quer em seus sentimentos, como em seus gestos e em suas virtudes. E se do hominídeo primitivo, através de uma lenta e milenária evolução, os precursores do homem chegaram até o "homo sapiens", queria e afirmava que o homem deveria ter a certeza que a sua evolução não havia parado aí. O homem prosseguiria evoluindo física e mentalmente como até aqui evoluíra. Mas nessa evolução, nesse progresso, deveria pôr sua consciência, já que adquirira a doença da consciência. Deveria pôr a sua vontade já que adquirira a virtude da vontade. A super-humanidade que ele acreditava era uma humanidade conscientemente desejada, forjada, realizada, cuja característica não seria a de uma humanidade-massa hitleriana. Seria uma humanidade-força, com um indivíduo senhor de sua vontade, empregando, ao menos, a consciência de sua vontade, para atingir superações de si próprio. O homem buscando sempre mais longe, mais longe: isto é Nietzsche. E isso não é Hitler. Hitler é aquele filho espúrio que busca tragicamente uma paternidade. E a Nietzsche coube a grande decepção de ter sido o escolhido. Como ele se revoltaria se estivesse vivo, como protestaria com aquele seu tom alciônico e enérgico, e exigiria uma nova investigação de paternidade.
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