domingo, 11 de abril de 2021

PND - O DEVER DA ESPERANÇA

O DEVER DA ESPERANÇA

DE TODOS OS CRIMES COMETIDOS contra o Brasil nos últimos três anos, o mais triste foi o roubo da esperança. Se pudéssemos atribuir doenças a países, eu diria que o nosso hoje está em depressão, e não só econômica. Por onde quer que andemos vemos abulia, uma profunda desilusão, um ressentimento contra o próprio país e seus concidadãos, uma vontade de abandonar a própria pátria numa tentativa desesperada de garantir um futuro melhor para os filhos.

Em parte dessa depressão está um sentimento difuso de perda de amor pela nossa pátria, como se aquele país diverso, tolerante, pacífico, alegre, de cultura rica e exuberante que aprendemos a amar tivesse sido um sonho, uma ilusão juvenil.

Mas eu não tenho o direito de me abater, porque o Brasil me deu tudo. Me deu renda e comida através de pais amorosos e trabalhadores, me deu educação pública de qualidade, me capacitou, me honrou com a confiança de um mandato após o outro e depois com os prêmios máximos do carinho, confiança e gratidão de meu povo.

Eu tenho o dever de ter esperança.

Eu tenho esse dever porque minha geração ganhou todas, e ganhou por meio do milagre da política. Reunimo-nos para redemocratizar o país e o redemocratizamos. Reunimo-nos para vencer a superinflação e a vencemos. Reunimo-nos para acabar com a fome e acabamos com ela.

Eu tenho esse dever porque tenho filhos, uma neta e outro netinho, que acabou de nascer, e tenho como filhos e netos milhões de novos brasileiros que merecem ter as oportunidades que tive um dia. Foi a essa luta que entreguei minha vida.

Eu tenho o dever da esperança, porque de tantos brasileiros o direito a ela foi tomado.

A tarefa é árdua, mas não podemos desistir. Nós já reconciliamos um país depois de uma ditadura, por que não o reconciliaríamos agora o suficiente para colocar as pessoas de novo em torno da mesma mesa? Pessoas da mesma família, amigos de infância, colegas de trabalho não podem mais conversar? Eu não vou aceitar meu país dilacerado por intolerância política e rótulos enquanto seus inimigos o depauperam e roubam seu futuro.

Não, com fé em Deus e em meus compatriotas, continuarei tentando. Quero conversar (não bajular) com todos os brasileiros que quiserem debater o país. Falar francamente com os empresários que estão falidos, o microempreendedor que está esmagado, a classe média que está pobre e o pobre que está miserável, o trabalhador que está sem direitos, o aposentado que está com proventos atrasados, o desempregado que está desesperado, a esquerda e a direita que falharam tragicamente, e tentar mostrar que esse modelo que tem nos garroteado há 25 anos faliu, nos faliu, e não pode mais continuar nem por um único dia.

Acredito que conseguiremos mudar a pauta do debate e colocar o Brasil novamente para dialogar. Por que não seria possível? Quando é que uma transformação social numa sociedade democrática foi diferente? Somos milhões de brasileiros – entre os quais empresários, operários, autônomos, comerciários, servidores públicos, trabalhadores rurais e aposentados, intelectuais, artistas – levados ao limite de nossa capacidade de suportarmos a exploração para enriquecer ainda mais uma casta de 0,01% de privilegiados.

Pessoas que recebem essa riqueza sem qualquer origem meritória e sem que por ela tenham produzido ou arriscado qualquer coisa. Somos uma nação devastada por agiotas. Temos que ter esperança de livrar este país do parasitismo, pois qual é a nossa opção? Voltarmo-nos uns contra os outros numa luta fratricida pelos restos do rentismo? Uma luta minuciosamente alimentada por seus sócios? Empresários vs. trabalhadores, mulheres vs. homens, brancos vs. negros, trabalhadores privados vs. servidores públicos, militares vs. civis? 

Compatriotas, o Brasil chegou ao seu limite, e nos anos vindouros pode estar chegando a hora de sua última chamada. Esta pode ser a última chamada para aproveitar a janela internacional de juros negativos e realizarmos uma transição suave para fora do rentismo.

Esta pode ser a última chamada para mantermos o que restou de nossa indústria e desenvolvermos setores ainda viáveis. Esta pode ser a última chamada para salvarmos o Estado-nação e termos um país soberano diante da escalada tecnológica das grandes potências.

Não é coincidência que o neoliberalismo nos tenha destruído três vezes, com Collor, FHC e Dilma-Temer. Agora o veremos em sua face mais cruel na gestão do ministro Paulo Guedes. Não é coincidência que desde que essa máquina de destruição econômica conseguiu hegemonizar o discurso de nossa mídia e classe política, o país tenha sido acorrentado à beira de um abismo para ter seu fígado comido todos os dias pelos abutres da agiotagem nacional e internacional.

Temos que libertar o gigante. Chega de autodesprezo. Somos brasileiros, nós fizemos o país que mais cresceu no século XX, o país que se industrializou em trinta anos. Não podemos assistir impávidos a um governo destruir o país para servir a interesses estrangeiros.

Não precisamos procurar no exemplo chinês ou sul-coreano o caminho de nosso crescimento. Embora possamos e devamos aprender com suas experiências, nunca ninguém fez mais e mais rápido do que nós mesmos já fizemos um dia.

O exemplo somos nós. Podemos adaptá-lo aos novos tempos e às novas limitações e evitar seus erros conhecidos. É a tarefa de nossa geração. Atenda como eu essa chamada do destino, do dever para com nossos filhos e netos e todos os brasileiros que jamais conheceram boas oportunidades na vida. Junte-se a nós para romper a barreira de silêncio da grande mídia sobre a exploração dos juros ao consumidor e às empresas, a destruição da capacidade de investimento do Estado e a falta de um projeto de desenvolvimento.

Junte-se a nós para lutar sem cessar contra o projeto de destruição nacional que está sendo implementado por esse governo. Sim, são todas grandes ambições. E tem se dito de mim a vida inteira que sou um homem ambicioso. Eu sou. Tem se dito de mim que minha grande ambição é ser presidente da República. Sim, eu quero. Eu quero muito servir ao meu país como presidente. Mas essa não é a minha ambição. Se ser presidente fosse a minha verdadeira ambição, eu, que aos 37 anos já tinha sido o prefeito e governador mais popular do país e ministro da Fazenda, que tinha acabado de ajudar a eleger o primeiro governo nacional de um partido do qual era fundador, já teria feito os acordos e dado as cartas que me permitiriam angariar o apoio da mídia e dos bancos brasileiros, já teria prometido em sigilo entregar o país aos interesses internacionais, já teria ao menos sido o candidato do sistema duas ou três vezes, ou ainda me ajoelhado à arrogância personalista de quem acha que pode manter um país inteiro aprisionado à sua vontade.

Aos que pediam minha “Carta aos brasileiros”, deixo este livro. Nele, a reiteração dos compromissos de toda a minha vida. Porque minha verdadeira ambição não é ser presidente, minha verdadeira ambição é mudar meu país. Minha ambição é ajudar a transformar o Brasil no país fantástico que ele ainda pode ser. E se um dia eu tiver a honra de presidir este país, antes de tomar posse me despedirei de minha família que amo tanto e entrarei no cargo preparado para mudar o Brasil ou morrer tentando.

Se não tiver, continuarei com a outra honra de dedicar minha vida política à luta para debater com as novas gerações sobre os problemas brasileiros e a necessidade de seguirmos projetos, não pessoas.

Já minha ambição ao escrever este livro é a de despertar em você, que me deu a honra de ler algumas de minhas ideias, um pouco dessa ambição, para que nos ajude nessa caminhada. Todo dia de manhã, eu venço o impulso de me vergar à tristeza pela situação de nosso país e a transformo em revolta para sair a mais um dia de luta. Se é muito pedir isso a você, peço ao menos que, não importa o que tenha acontecido ou venha a acontecer ainda, não permita nunca que alguém o faça sentir vergonha de ter esperança em seu próprio país. Porque ter essa esperança não é nada mais do que nosso dever para com nossos descendentes.

Nenhum comentário:

Postar um comentário