sexta-feira, 5 de junho de 2020

PND - Introdução


INTRODUÇÃO

ESTE LIVRO É UM APELO ao debate racional a respeito da questão nacional. Um debate verdadeiro sustentado em dados e ideias sobre nossos problemas e possibilidades, um diálogo entre cidadãs e cidadãos que querem o bem do Brasil, que têm opiniões distintas sobre seus rumos, problemas e projetos. Apesar de ser, como todo livro autoral, um discurso sem réplicas, ele resume os debates e palestras que mantive percorrendo o Brasil nestes últimos dez anos dramáticos de sua história, e que estão disponíveis hoje nesse formidável meio de registro histórico que é a internet. E como chamado que é, quer despertar as contrapropostas, respostas e contestações de todos, aliados ou adversários de ideias que respeitam o debate democrático. 

Nenhuma das minhas ideias aqui apresentadas é uma ideia fixa. Todas poderão mudar a depender apenas de que outra ideia melhor se apresente no debate.

Importante mencionar também que são minhas ideias, não necessariamente as de meu partido ou de eventuais alianças que eu tenha feito no passado ou venha a fazer no futuro. É minha contribuição pessoal a uma reflexão inadiável sobre o Brasil, as raízes de seus graves problemas e as pistas para sua solução.

Porque nós, brasileiros, precisamos visceralmente discutir de forma fraternal nossos problemas, usar a razão e considerar os fatos. Só isso nos fará sair da densa cortina de fumaça de ódio e personalismo que nos impede de reencontrar o caminho para a paz e a prosperidade.

Nosso país adoeceu gravemente. As marcas do enfraquecimento de nossa democracia se fazem sentir no espaço público, em nossos ambientes de trabalho e mesmo em nossa vida familiar. A polarização política que vem se acentuando desde os estranhos eventos de junho de 2013 impôs um enorme obstáculo ao debate político e econômico, que tem ficado reduzido aos símbolos, adjetivos e narrativas. E a narrativa predominante, que tentou reduzir ao longo de cinco anos o país a uma fissura incontornável entre “coxinhas” e “mortadelas”, durante a campanha eleitoral totalmente atípica do ano de 2018, se agravou perigosamente. Ela desaguou numa tosca reedição de anticomunismo contra uma imaginária ameaça bolchevique quase trinta anos depois da queda do Muro de Berlim e do fim da Guerra Fria.

Hoje, por ocasião dessa polarização, encontra-se, de um lado, um governo desastroso que se afirma no ataque a um partido que está há mais de três anos fora do poder. Do outro lado, quase como a outra face da mesma moeda, se escorando nesse governo, encontra-se um petismo adoecido e sem projeto de país, que, machucado com o evento da prisão de seu líder, sem autocrítica alguma por suas responsabilidades na situação atual e sem compromisso algum com a gestão presente ou futura do país, radicaliza seu discurso de volta à demagogia fácil. Pregando de novo tudo o que não tentaram fazer no poder, disfarçam sua velha política do “quanto pior melhor”.

As máquinas artificiais de rede do governo e a da fração corrompida do petismo oferecem e alimentam essa narrativa da polarização do país entre “comunistas” e “fascistas”. Tudo se passa como se o país estivesse condenado a escolher entre um desastre ou outro. O radicalismo retórico, no entanto, esconde, dos dois lados, a absoluta falta de coragem e capacidade para fazer o que o país precisa para se desenvolver de forma soberana, fratura nossa nação e aumenta o estado de guerra de todos contra todos.

Eu não posso aceitar essa redução do país. Não posso aceitar que 68% dos eleitores de São Paulo, 68% dos eleitores do Rio de Janeiro, 68% dos eleitores da Região Sul ou 66% dos eleitores do Centro-Oeste que compareceram ao segundo turno para votar em Bolsonaro sejam “fascistas”. Também não posso aceitar que todos os votos que o PT teve no segundo turno sejam de eleitores de cabresto. Porque sei que, assim como eu, uma quantidade gigantesca de pessoas votou contra um defensor da tortura e da ditadura, e não na falta de projeto petista. O Brasil não cabe nesses adjetivos tolos, nessas classificações grosseiras, não cabe na marketagem política ou no moralismo difuso dos falsos profetas, falsos justiceiros e falsos messias. O Brasil é muito maior do que isso, tem que ser muito maior do que isso.

Estou determinado a continuar no meu esforço de campanha para pararmos de tratar a política como algo superficial, fazendo dela um jogo de afetos pessoais, mitos vazios, performances midiáticas, barulho odiento, slogans, bandeiras, jargões ou culto a personalidades. A saída para o Brasil passa por aquilo de que infelizmente muitos de nós estão fartos e desiludidos: a democracia e a sua linguagem que é a política. Fora da democracia, as cortinas de fumaça são muito mais impenetráveis e ameaçadoras, pois silenciosas. E democracia é barulho sempre, mas que seja o barulho do diálogo com aquelas e aqueles de quem discordamos.

Em síntese, o que quero é ajudar a criar uma corrente de opinião que prepare as bases sociais para refundarmos entre nós um Projeto Nacional de Desenvolvimento.

Estamos atravessando a maior crise política e econômica de nossa história, e só conseguiremos sair maiores disso se chamarmos a razão como protagonista do debate e deixarmos de lado o ódio e a revolta, se exercitarmos a capacidade de perdoar para nos vermos todos novamente como brasileiros que dividem o mesmo chão e querem um país melhor para seus filhos.

Eu sei que isso é difícil. Esse também é um exercício que estou me impondo, porque não há outro caminho. Não é fácil lidar com tanta traição, pequenez e descaso com o futuro de nosso país, nem com a indignação diante do dano que causaram a nossa democracia ou do roubo continuado das riquezas e soberania de nossa pátria que tem sido promovido. Não quero fingir ser alguém que não sou, mas tenho que continuar a me esforçar para transformar minha indignação em determinação para discutir e salvar o país. Enquanto Deus me der a chance de lutar, meu erro nunca será o da acomodação. Que vocês possam me perdoar dos outros. Se a maioria de nós também conseguir trilhar esse caminho, sairemos dessa.

É com a autoridade de quem tinha abandonado a vida pública inconformado com os rumos da política nacional, que volto a ela premido pelo dever de denunciar um golpe de Estado, que sacrificou a vida privada para alertar aos seus concidadãos que atentar contra a democracia nos atiraria em anos de instabilidade, que alertou que as medidas do Governo Dilma Rousseff e depois do Governo Michel Temer nos levariam ao desastre econômico, que enfrentou uma eleição presidencial sem recursos estrangeiros, máquinas artificiais de rede ou obscuros conchavos partidários, que buscou elevar o debate e discutir propostas claras para o país, que venho aqui pedir humildemente que me deem o privilégio de algumas horas de sua atenção e reflexão.

Vamos pensar o Brasil. Aqui seguirei um método que tenho tentado conferir ao debate nos últimos anos. Definir o problema, oferecer um diagnóstico da situação atual e, por fim, uma proposta de solução. Você pode discordar da definição, do diagnóstico, ou ter outras propostas. Mas é importante saber onde discordamos.

Porque precisamos imperiosamente desmontar a lógica diversionista deste governo ou de sua contraparte na burocracia do PT.

Precisamos voltar a debater problemas e propostas, e não supostas motivações emocionais e pessoais, a cor da roupa de meninos e meninas ou vídeos pornográficos.

Não podemos adotar a impostura do “quanto pior melhor”, porque a vida dos brasileiros está terrivelmente sofrida e alguns danos a nosso país podem ser irreversíveis. Este livro, portanto, também cumpre o papel que tentei cumprir na campanha: quis me eleger por ideias e propostas, quero fazer oposição com ideias e propostas. Estarei pronto a apoiar medidas do governo que forem na direção do que consideramos bom para o Brasil, e a combater medidas que acreditamos que nos levarão a uma ruína ainda maior.

E o critério da minha conduta nos próximos anos estará definido pelas ideias defendidas neste livro.

Aproveito de saída para me desculpar com o leitor antecipadamente pelas várias referências que farei a minha experiência acumulada nesses quarenta anos de serviço ao país. E já as começarei aqui repetindo o que tanto enfatizei na campanha presidencial de 2018: que durante essa vida pública nunca respondi a nenhum processo por corrupção, nem sequer para ser absolvido.

Farei isso porque acredito que a política brasileira hoje não está carente de promessas ou de discursos, mas de exemplos. Se os exemplos que eu tenho para dar são valiosos, cabe à leitora ou ao leitor julgar. Aqui eu falarei da história que ajudei a construir, de soluções que já foram executadas em menor escala por mim ou por outros brasileiros. Aqui eu falarei do grande amor da minha vida, que eu não tenho como abandonar: o Brasil.

Continuo, então, na luta. Pois estamos à beira de vários precipícios: o precipício do autoritarismo, da desindustrialização, do desemprego, da miséria e da perda completa da soberania nacional.

Nosso país encontra-se perto de um ponto de não retorno. Um ponto que, se atravessado, pode nos condenar definitivamente à periferia do mundo e à perda de nossa soberania. Não podemos mais alimentar os ódios, os diversionismos e os devaneios.

Precisamos acordar desse sono da razão que só produz monstros e encontrar o caminho para o Brasil retomar seu sonho sempre interrompido e adiado de se tornar um país desenvolvido e justo.

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