sexta-feira, 27 de setembro de 2019

Escolhas II....

O Êxito de qualquer Relação

O encanto do casamento resume-se, numa medida embaraçosa, ao facto de ser tão desagradável estar sozinho. Isto não é necessariamente culpa nossa como indivíduos. A sociedade como um todo parece determinada a tornar o estado de solteiro tão vexatório e deprimente quanto possível: uma vez acabados os tempos despreocupados da escola e da universidade, companhia e afeto tornam-se desanimadoramente difíceis de encontrar; a vida social começa a girar opressivamente em torno de casais; não resta ninguém a quem telefonar ou com quem passar o tempo. Não é para admirar, então, que quando encontramos alguém medianamente decente possamos ficar-lhe agarrados. 

Noutros tempos, quando as pessoas só podiam (em teoria) ter sexo depois de casarem, observadores sábios sabiam que alguns podiam ser tentados a casar pelas razõs erradas - e, assim, sustentavam que os tabus à volta do sexo pré-matrimonial deviam ser levantados para ajudar os jovens a tomar decisões mais calmas, menos conduzidas pelos impulsos. 

Mas se é verdade que esse particular impedimento ao bom senso foi removido, o facto é que uma outra espécie de ânsia parece ter tomado o seu lugar. O anseio de companhia pode não ser menos poderoso ou irresponsável nos seus efeitos do que foi em tempos o motivo sexual. Passar a sós cinquenta e dois domingos seguidos pode fazer gato-sapato da prudência de qualquer pessoa. Também a solidão pode provocar precipitações e a repressão das dúvidas e da ambivalência acerca de um potencial cônjuge. O êxito de qualquer relação não deveria ser determinado apenas pela satisfação que um casal tem em estar junto mas também pelo grau de preocupação que cada um dos parceiros tem em não estar num qualquer relacionamento. 

Alain de Botton, in 'O Curso do Amor'


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