sábado, 28 de setembro de 2019

Caso Dino

Anda-se falando muito de Flávio Dino recentemente. Para o bem dele. Antes de fazermos algumas análises sobre ele, fica um alerta: nada do que falamos aqui o Dino não percebe. Antes de mais nada, Dino é um político extremamente inteligente e articulado e sabe muito bem analisar e antecipar cenários. Não deve ser subestimado em nenhuma hipótese e sim respeitado.

A religião neopentecostal lulista e sua blogosfera de fiéis aguardando a volta do seu messias no purgatório de Curitiba exultam. No desespero da falta de opções além de Lula para 2022 e na necessidade de destruir as verdades incômodas ditas por Ciro, agarram-se à figura de Dino de forma que beira à cegueira. Nada mais insensato. Porém, cobrar sensatez da seita parece ser tarefa cada vez mais impossível de retorno.

Primeiramente, vamos aos fatos: Lula apoiou a família-quadrilha Sarney no Maranhão, contra o Dino. A célebre picada do escorpião tanto dita pelo Ciro aí tem mais um exemplo. Dino foi picado e não esqueceu. Só omite porque sabe que o eleitorado do relativamente pobre Maranhão é lulista até o osso. E surfa na onda, até agora com sucesso. Mas a lembrança da traição faz com que o Governador do Maranhão não seja um lulista fanatizado, apenas um estrategista habilidoso que deseja alçar seu voo próprio sempre e que aguarda o seu momento.

Outro ponto é a legenda: se a bandeira vermelha da foice e martelo do Partido Comunista for digerida pelo eleitorado do Sul e Sudeste em 2022 este quem escreve lhes promete que arrancará um dedo. Uma candidatura do PCdoB, pelo contrário, fará a alegria do Dória, Witzel e Moro. A sigla é totalmente estigmatizada e conhecida no eleitorado como "um puxadinho" do PT. Para voos fora de seu Estado, Dino terá que necessariamente se desfiliar do PCdoB. E ele parece estar avaliando isso. Os caminhos naturais seriam 1- o PSB; 2- a Rede; e 3- o PDT, este a 3a opção porque é o único que tem um rival que lhe bloqueia: Ciro Ferreira Gomes. Mesmo assim, a direita bombardeará a questão do Dino "comunista disfarçado em outra sigla para enganar o povo". Algo difícil de superar, dado que ele teria um desgaste grande para se explicar como socialdemocrata que é. Vale lembrar que por questões bem menores que essa Ciro gastou uma parte preciosa da sua campanha para - a contragosto - se explicar.

Por fim, mesmo se Dino almejar ser vice de uma chapa progressista - o que é possível - dificilmente um candidato de centroesquerda (PSB, PDT, REDE) colocaria um "comunista" nela. Por exemplo, Ciro necessita de um(a) vice mais tecnocrata e ao centro, melhor se for do Sudeste ou Sul, para expandir sua base eleitoral como contrapeso ao Nordeste que a ele se inclinaria melhor num cenário sem o PT. Dino, nordestino e "comunista", portanto, não é uma opção seguindo a lógica fria eleitoral. Essa estigmatização é injusta mas é um fato. O estigma antipetista e anticomunista sobreviverá ao bolsonarismo decadente no eleitorado do Centro-Sul.

Dino sabe de todo esse cenário. Tem a admiração e o repeito do trabalhismo que o considera um dos melhores políticos brasileiros. O que ele fez pelo Maranhão foi histórico, um exemplo para toda a esquerda, mesmo com a traição do populista Lula a ele, apoiando a quadrilha Sarney. Porém, se Dino enveredar pela permanência na sigla comunista ou - pior - não se desvincular do antipetismo que lhe aguarda de braços abertos no centro-sul do país, seriam dois equívocos graves numa pretensão ao Planalto como cabeça ou vice, porém erros pouco prováveis, dado a perspicácia típica de Flávio Dino, que tem no seu currículo a destruição - pela via da esquerda - da estrutura da dinastia Sarney no Maranhão. Feito notável que por si só já lhe coloca como uma das maiores lideranças de esquerda na História do Brasil.


Via Daniel da Vitória Melo



Nenhum comentário:

Postar um comentário