terça-feira, 31 de dezembro de 2019
Feliz Novo Ano
FAZE O QUE TU QUERES SERÁ O TODO DA LEI.
Para cada homem, mulher e criança, possam compreender instantaneamente que suas almas, suas vidas, em qualquer circunstância, dependem da reta compreensão e reta aplicação de sua verdadeira vontade.
AMOR É A LEI, AMOR SOB VONTADE.
Fotógrafo - W. Eugene Smith
William Eugene Smith (30 de dezembro de 1918 - 15 de outubro de 1978), foi um fotojornalista americano conhecido por sua recusa em se submeter aos padrões profissionais e por suas fotografias brutalmente vivas da Segunda Guerra Mundial.
William Smith nasceu em Wichita e se graduou em Wichita North High School, em 1936. Ele começou sua carreira tirando fotos para dois jornais locais, The Wichita Eagle e Beacon. Acabou se mudando para Nova Iorque começou a trabalhar para a revista Newsweek. Ele se tornou conhecido por seu perfeccionismo incessante e personalidade difícil. Smith foi demitido da Newsweek por se recusar a usar câmeras de médio formato e se juntou à revista Life em 1939, usando uma câmera de 35mm.
Ele continuou a trabalhar no aperfeiçoamento da técnica de foto-ensaio.Trabalhou como correspondente para a revista Ziff-Davis. Fotografou a ofensiva dos Estados Unidos contra o Japão, tirando fotos dos soldados americanos e dos prisioneiros de guerra japoneses em Saipan, Guam, Iwo Jima e Okinawa. Em uma das ilhas de Okinawa foi ferido por um morteiro. Uma vez recuperado e profundamente desiludido da fotografia, Smith continuou seu trabalho na Life e se aperfeiçoou nos ensaios fotográficos nos anos de 1947 a 1954. Em 1950 viaja até o Reino Unido para cobrir as eleições gerais, nas quais sai vitorioso Clement Attle, do partido do trabalhador. O editorial da revista Life se mostrava contra um governo trabalhista, mas os ensaios de Smith sobre Attle eram muito positivos. Ao fim um número limitado de fotografías de Smith sobre a classe operária foi publicada. Na década dos anos 50 Smith rompe relações com a Life e se une a Agência Magnun. Nesse período inicia um projeto documental sobre Pittsburgh, onde aprofunda sua metodologia de grande implicação com o objeto de seu documentário. O trabalho deveria realizar-se em 3 semanas, mas Smith se estende por um ano, sem nunca ficar satisfeito com os resultados, e a Magnun finalmente publica uma seleção. São muito conhecidas as disputas que Smith sustentava com os editores fotográficos com trabalhavam com ele. Foi o primeiro fotógrafo que abriu a discussão sobre a importância da participação do autor das fotografias na edição final, em relação aos processos de seleção das fotos que foram publicadas, sua ordem e disposição na página, assim como os textos e epígrafes que as acompanham. Publica, também, uma série de livros de ensaios fotográficos, nos quais ele buscava ter o autêntico controle sobre o processo do libro, chegando a ter a grande fama de inconformista.
Morreu em 1978 devido ao abuso de drogas e álcool.
Atualmente a fundação William Eugene Smith promove a "fotografia humanista", que desde 1980 premia os fotógrafos comprometidos nesse campo.
"A minha função é capturar a ação da vida, a vida no mundo, seu humor, sua tragédia. Em outras palavras, a vida como ela é".
Texto extraído do http://mundo-e-arte.blogspot.com/
domingo, 29 de dezembro de 2019
Água e Vinho
Água e Vinho
Todos os dias passeava secamente na soleira do quintal
A hora morta, pedra morta, agonia e as laranjas do quintal
A vida ia entre o muro e as paredes de silencio
E os caes que vigiavam o seu sono nao dormiam
Viam sombras no ar, viam sombras no jardim
A lua morta, noite morta, ventania e um rosario sobre o chao
E os caes que vigiavam o seu sono nao dormiam
Viam sombras no ar, viam sombras no jardim
A lua morta, noite morta, ventania e um rosario sobre o chao
E um incendio amarelo e provisorio consumia o coracao
E comecou a procurar pelas fogueiras lentamente
E o seu coracao ja nao temia as chamas do inferno
E das trevas sem fim. Haveria de chegar o amor.
E comecou a procurar pelas fogueiras lentamente
E o seu coracao ja nao temia as chamas do inferno
E das trevas sem fim. Haveria de chegar o amor.
sexta-feira, 27 de dezembro de 2019
quarta-feira, 25 de dezembro de 2019
O Poema - Ezra Pound
ENVOI (1919)
Vai, livro natimudo,
E diz a ela
Que um dia me cantou essa canção de Lawes:
Houvesse em nós
Mais canção, menos temas,
Então se acabariam minhas penas,
Meus defeitos sanados em poemas
Para fazê-la eterna em minha voz
Diz a ela que espalha
Tais tesouros no ar,
Sem querer nada mais além de dar
Vida ao momento,
Que eu lhes ordenaria: vivam,
Quais rosas, no âmbar mágico, a compor,
Rubribordadas de ouro, só
Uma substância e cor
Desafiando o tempo.
Diz a ela que vai
Com a canção nos lábios
Mas não canta a canção e ignora
Quem a fez, que talvez uma outra boca
Tão bela quanto a dela
Em novas eras há de ter aos pés
Os que a adoram agora,
Quando os nossos dois pós
Com o de Waller se deponham, mudos,
No olvido que refina a todos nós,
Até que a mutação apague tudo
Salvo a Beleza, a sós.
(tradução de Augusto de Campos)
terça-feira, 1 de outubro de 2019
Wislawa Szymborska
O fim e o início
Wislawa Szymborska
Depois de toda guerra
alguém tem que fazer a faxina.
As coisas não vão
se ajeitar sozinhas.
Alguém tem que tirar
o entulho das ruas
para que as carroças possam passar
com os corpos.
Alguém tem que abrir caminho
pelo lamaçal e as cinzas,
as molas dos sofás,
os cacos de vidro,
os trapos ensanguentados.
Alguém tem que arrastar o poste
para levantar a parede,
alguém tem que envidraçar a janela,
pôr as portas no lugar.
Não é fotogênico
e leva anos.
Todas as câmeras já foram
para outra guerra.
Precisamos das pontes
e das estações de trem de volta.
Mangas de camisas ficarão gastas
de tanto serem arregaçadas.
Alguém de vassoura na mão
ainda lembra como foi.
Alguém escuta e concorda
assentindo com a cabeça ilesa.
Mas haverá outros por perto
que acharão tudo isso
um pouco chato.
De vez em quando alguém ainda
tem que desenterrar evidências enferrujadas
debaixo de um arbusto
e arrastá-las até o lixo.
Aqueles que sabiam
o que foi tudo isso,
têm que ceder lugar àqueles
que sabem pouco.
E menos que pouco.
E finalmente aos que não sabem nada.
Alguém tem que deitar ali
na grama que cobriu
as causas e conseqüências,
com um matinho entre os dentes
e o olhar perdido nas nuvens.
A cortesia dos cegos
Wislawa Szymborska
O poeta lê seus versos para os cegos.
Não esperava que fosse tão difícil.
Sua voz fraqueja.
Suas mãos tremem.
Ele sente que cada frase
está submetida à prova da escuridão.
Ele tem que se virar sozinho,
sem cores e luzes.
Uma aventura perigosa
para as estrelas da poesia,
para as manhãs, o arco-íris, as nuvens, os neons, a lua,
para o peixe tão cintilante sob a água
e o falcão tão alto e quieto no céu.
Ele lê - pois já não pode parar -
sobre o menino de casaco amarelo num campo verde,
telhados vermelhos que se contam no vale,
números irrequietos na camisa dos jogadores
e a desconhecida, nua, na fresta da porta.
Ele gostaria de omitir - embora seja impossível -
todos os santos no teto da catedral,
a mão que acena do trem em partida,
a lente do microscópio, o anel e seu brilho,
as telas de cinema, os espelhos, os álbuns de
fotografia.
Mas é enorme a cortesia dos cegos,
admirável a sua compreensão, a sua grandeza.
Eles escutam, sorriem e aplaudem.
Um deles até se aproxima
com o livro de cabeça para baixo
pedindo um autógrafo invisível.
Utopia
Wislawa Szymborska
Ilha onde tudo se torna claro.
Chão sólido debaixo dos pés.
As únicas estradas, aquelas que oferecem acesso.
Arbustos curvam-se sob o peso das provas.
A Árvore das Suposições Válidas cresce aqui
com ramos desembaraçados desde tempos imemoriais.
A Árvore do Entendimento, deslumbrantemente reta e simples,
brota pela primavera chamada Agora Eu Entendi.
Quanto mais espessos os bosques, mais vasta a vista:
o Vale dos Obviamente.
Se algumas dúvidas surgem, o vento as dissipa instantaneamente.
Ecos agitam-se sem citar
e ansiosamente explicam os segredos dos mundos.
À direita, uma caverna, onde o Significado repousa.
À esquerda, o Lago das Convicções Profundas.
A verdade verte do profundo e move-se para superfície.
Inabaláveis torres da Confiança sobre o vale.
Seus picos oferecem uma excelente vista da Essência das Coisas.
Apesar de seus encantos, a ilha está desabitada,
e as pegadas fracas espalhadas em suas praias
apontam sem exceção para o mar.
Como se tudo o que você possa fazer aqui é deixar
e mergulhar, para nunca mais voltar, nas profundezas.
Na vida insondável.
Encontro inesperado
Wislawa Szymborska
Nós nos tratamos com extrema cortesia,
dizemos: quanto tempo, que bom revê-lo.
Nossos tigres bebem leite.
Nossos falcões preferem o chão.
Nossos tubarões se afogam no mar.
Nossos lobos bocejam diante da jaula aberta.
Nossas cobras perderam seu lampejo,
nossos macacos, sua graça; nossos pavões, suas plumas.
Faz tempo que os morcegos deixaram nossos cabelos.
Caímos em silêncio no meio da conversa,
e não há sorriso que nos salve.
Nossos humanos
não sabem falar uns com os outros.
Museu
Wislawa Szymborska
Há pratos, mas falta apetite.
Há alianças, mas o amor recíproco se foi
há pelo menos trezentos anos.
Há um leque – onde os rubores?
Há espada – onde a ira?
E o alaúde nem ressoa na hora sombria.
Por falta de eternidade
juntaram dez mil velharias (…)
A coroa sobreviveu à cabeça.
A mão perdeu para a uva.
A bota direita derrotou a perna.
Quanto a mim, vou vivendo, acreditem.
Minha competição com o vestido continua.
E que teimosia a dele!
Como ele adoraria sobreviver!
Por um acaso
Wislawa Szymborska
Poderia ter acontecido.
Teve que acontecer.
Aconteceu antes. Depois. Mais perto. Mais longe.
Aconteceu, mas não com você.
Você foi salvo pois foi o primeiro.
Você foi salvo pois foi o último.
Porque estava sozinho. Com outros. Na direita. Na esquerda.
Porque chovia. Por causa da sombra.
Por causa do sol.
Você teve sorte, havia uma floresta.
Você teve sorte, não havia árvores.
Você teve sorte, um trilho, um gancho, uma trave, um freio,
um batente, uma curva, um milímetro, um instante.
Você teve sorte, o camelo passou pelo olho da agulha.
Em conseqüência, porque, no entanto, porém.
O que teria acontecido se uma mão, um pé,
a um passo, por um fio
de uma coincidência.
Então você está aí? A salvo, por enquanto, das tormentas em curso?
Um só buraco na rede e você escapou?
Fiquei mudo de surpresa.
Escuta,
como seu coração dispara em mim.
Wislawa Szymborska
Poderia ter acontecido.
Teve que acontecer.
Aconteceu antes. Depois. Mais perto. Mais longe.
Aconteceu, mas não com você.
Você foi salvo pois foi o primeiro.
Você foi salvo pois foi o último.
Porque estava sozinho. Com outros. Na direita. Na esquerda.
Porque chovia. Por causa da sombra.
Por causa do sol.
Você teve sorte, havia uma floresta.
Você teve sorte, não havia árvores.
Você teve sorte, um trilho, um gancho, uma trave, um freio,
um batente, uma curva, um milímetro, um instante.
Você teve sorte, o camelo passou pelo olho da agulha.
Em conseqüência, porque, no entanto, porém.
O que teria acontecido se uma mão, um pé,
a um passo, por um fio
de uma coincidência.
Então você está aí? A salvo, por enquanto, das tormentas em curso?
Um só buraco na rede e você escapou?
Fiquei mudo de surpresa.
Escuta,
como seu coração dispara em mim.
Quarto do suicida
Wislawa Szymborska
Vocês devem achar, sem dúvida, que o quarto esteve vazio.
Mas lá havia três cadeiras de encosto firmes.
Uma boa lâmpada para afastar a escuridão.
Uma mesa, sobre a mesa uma carteira, jornais.
Buda sereno, Jesus doloroso,
sete elefantes para boa sorte, e na gaveta — um caderno.
Vocês acham que nele não estavam nossos endereços?
Acham que faltavam livros, quadros ou discos?
Mas da parede sorria Saskia com sua flor cordial,
Alegria, a faísca dos deuses,
a corneta consolatória nas mãos negras.
Na estante, Ulisses repousando
depois dos esforços do Canto Cinco.
Os moralistas,
seus nomes em letras douradas
nas lindas lombadas de couro.
Os políticos ao lado, muito retos.
E não era sem saída este quarto,
ao menos pela porta,
nem sem vista, ao menos pela janela.
Binóculos de longo alcance no parapeito.
Uma mosca zumbindo — ou seja, ainda viva.
Acham então que talvez uma carta explicava algo.
Mas se eu disser que não havia carta nenhuma —
éramos tantos, os amigos, e todos coubemos
dentro de um envelope vazio encostado num copo.
Wislawa Szymborska
Vocês devem achar, sem dúvida, que o quarto esteve vazio.
Mas lá havia três cadeiras de encosto firmes.
Uma boa lâmpada para afastar a escuridão.
Uma mesa, sobre a mesa uma carteira, jornais.
Buda sereno, Jesus doloroso,
sete elefantes para boa sorte, e na gaveta — um caderno.
Vocês acham que nele não estavam nossos endereços?
Acham que faltavam livros, quadros ou discos?
Mas da parede sorria Saskia com sua flor cordial,
Alegria, a faísca dos deuses,
a corneta consolatória nas mãos negras.
Na estante, Ulisses repousando
depois dos esforços do Canto Cinco.
Os moralistas,
seus nomes em letras douradas
nas lindas lombadas de couro.
Os políticos ao lado, muito retos.
E não era sem saída este quarto,
ao menos pela porta,
nem sem vista, ao menos pela janela.
Binóculos de longo alcance no parapeito.
Uma mosca zumbindo — ou seja, ainda viva.
Acham então que talvez uma carta explicava algo.
Mas se eu disser que não havia carta nenhuma —
éramos tantos, os amigos, e todos coubemos
dentro de um envelope vazio encostado num copo.
O prazer da escrita
Wislawa Szymborska
Por que a palavra corça surge em meio a esse bosque escrito?
Para bebericar água da primavera descrita
cuja superfície copiará seu focinho mole?
Por que ela levanta a cabeça; será que ouve alguma coisa?
Debruçada sobre quatro pernas finas emprestadas da verdade,
ela pica até as orelhas sob os meus dedos.
Silêncio - esta palavra também se agita por toda a página
e parte os ramos
que surgiram a partir da palavra "bosque".
De emboscada, definidas para atacar a página em branco,
estão palavras não muito boas,
garras de cláusulas tão subordinadas
que nunca irão deixá-la ir embora.
Cada gota de tinta contém um suprimento justo
de caçadores, equipados com olhos apertados por trás de suas vistas,
preparados para mergulhar a inclinada caneta a qualquer momento,
cercar a corça e lentamente apontar as suas armas.
Eles se esquecem de que o que está aqui não é vida.
Outras leis, preto no branco, valem.
O piscar de olhos vai demorar tanto quanto eu disser,
e, se eu quiser, será dividido em pequenas eternidades
cheias de balas, paradas em pleno voo.
Nada vai acontecer, a menos que eu diga.
Sem a minha bênção, nem uma folha cairá,
nem uma lâmina de grama irá se dobrar sob aquele pequeno casco.
Há então um mundo
onde eu governe absolutamente o destino?
Um tempo que eu ligue com cadeias de sinais?
Uma existência tornada interminável sob meu lance?
O prazer da escrita.
O poder de preservação.
Vingança de uma mão mortal.
Wislawa Szymborska
Por que a palavra corça surge em meio a esse bosque escrito?
Para bebericar água da primavera descrita
cuja superfície copiará seu focinho mole?
Por que ela levanta a cabeça; será que ouve alguma coisa?
Debruçada sobre quatro pernas finas emprestadas da verdade,
ela pica até as orelhas sob os meus dedos.
Silêncio - esta palavra também se agita por toda a página
e parte os ramos
que surgiram a partir da palavra "bosque".
De emboscada, definidas para atacar a página em branco,
estão palavras não muito boas,
garras de cláusulas tão subordinadas
que nunca irão deixá-la ir embora.
Cada gota de tinta contém um suprimento justo
de caçadores, equipados com olhos apertados por trás de suas vistas,
preparados para mergulhar a inclinada caneta a qualquer momento,
cercar a corça e lentamente apontar as suas armas.
Eles se esquecem de que o que está aqui não é vida.
Outras leis, preto no branco, valem.
O piscar de olhos vai demorar tanto quanto eu disser,
e, se eu quiser, será dividido em pequenas eternidades
cheias de balas, paradas em pleno voo.
Nada vai acontecer, a menos que eu diga.
Sem a minha bênção, nem uma folha cairá,
nem uma lâmina de grama irá se dobrar sob aquele pequeno casco.
Há então um mundo
onde eu governe absolutamente o destino?
Um tempo que eu ligue com cadeias de sinais?
Uma existência tornada interminável sob meu lance?
O prazer da escrita.
O poder de preservação.
Vingança de uma mão mortal.
Fotografia do 11 de setembro
Wislawa Szymborska
Pularam dos andares em chamas-
um, dois, alguns outros,
acima, abaixo.
A fotografia os manteve em vida,
e agora os preserva
acima da terra rumo à terra.
Ainda estão completos,
cada um com seu próprio rosto
e sangue bem guardado.
Há tempo suficiente
para cabelos voarem,
para chaves e moedas
caírem dos bolsos.
Permanecem nos domínios do ar,
na esfera de lugares
que acabam de se abrir.
Só posso fazer duas coisas por eles-
descrever este voo
e não acrescentar o último verso.
Wislawa Szymborska
Pularam dos andares em chamas-
um, dois, alguns outros,
acima, abaixo.
A fotografia os manteve em vida,
e agora os preserva
acima da terra rumo à terra.
Ainda estão completos,
cada um com seu próprio rosto
e sangue bem guardado.
Há tempo suficiente
para cabelos voarem,
para chaves e moedas
caírem dos bolsos.
Permanecem nos domínios do ar,
na esfera de lugares
que acabam de se abrir.
Só posso fazer duas coisas por eles-
descrever este voo
e não acrescentar o último verso.
Possibilidades
Wislawa Szymborska
Prefiro filmes.
Prefiro gatos.
Prefiro os carvalhos ao longo de Warta.
Prefiro Dickens a Dostoievsky.
Prefiro-me gostando de indivíduos
a mim mesma amando a humanidade.
Prefiro manter uma agulha e linha à mão, em caso de precisão.
Prefiro a cor verde.
Prefiro não suster
que a razão é a culpada de tudo.
Prefiro exceções.
Prefiro sair mais cedo.
Prefiro falar com os médicos sobre outra coisa.
Prefiro as antigas bem alinhadas ilustrações.
Prefiro o absurdo de escrever poemas
ao absurdo de não escrever poemas.
Prefiro, quando o amor diz respeito, aniversários inespecíficos
que podem ser comemorados todos os dias.
Prefiro moralistas
que me prometem nada.
Prefiro bondade astuta ao tipo super confiante.
Prefiro a terra à paisana.
Prefiro conquistados a países conquistadores.
Prefiro ter algumas reservas.
Prefiro o inferno do caos ao inferno da ordem.
Prefiro os contos de fadas dos Grimms às primeiras páginas dos jornais.
Prefiro as folhas sem flores às flores sem folhas.
Prefiro cães com caudas descortadas.
Prefiro os olhos claros, uma vez que os meus são escuros.
Prefiro gavetas.
Prefiro muitas coisas que não mencionei aqui
a muitas coisas que também deixei não ditas.
Prefiro os zeros à solta
àqueles alinhados atrás de uma cifra.
Prefiro o tempo de insetos ao tempo de estrelas.
Prefiro bater na madeira.
Prefiro não perguntar quanto tempo e quando.
Eu prefiro manter em mente a possibilidade
de que a existência tem sua própria razão de ser.
Wislawa Szymborska
Prefiro filmes.
Prefiro gatos.
Prefiro os carvalhos ao longo de Warta.
Prefiro Dickens a Dostoievsky.
Prefiro-me gostando de indivíduos
a mim mesma amando a humanidade.
Prefiro manter uma agulha e linha à mão, em caso de precisão.
Prefiro a cor verde.
Prefiro não suster
que a razão é a culpada de tudo.
Prefiro exceções.
Prefiro sair mais cedo.
Prefiro falar com os médicos sobre outra coisa.
Prefiro as antigas bem alinhadas ilustrações.
Prefiro o absurdo de escrever poemas
ao absurdo de não escrever poemas.
Prefiro, quando o amor diz respeito, aniversários inespecíficos
que podem ser comemorados todos os dias.
Prefiro moralistas
que me prometem nada.
Prefiro bondade astuta ao tipo super confiante.
Prefiro a terra à paisana.
Prefiro conquistados a países conquistadores.
Prefiro ter algumas reservas.
Prefiro o inferno do caos ao inferno da ordem.
Prefiro os contos de fadas dos Grimms às primeiras páginas dos jornais.
Prefiro as folhas sem flores às flores sem folhas.
Prefiro cães com caudas descortadas.
Prefiro os olhos claros, uma vez que os meus são escuros.
Prefiro gavetas.
Prefiro muitas coisas que não mencionei aqui
a muitas coisas que também deixei não ditas.
Prefiro os zeros à solta
àqueles alinhados atrás de uma cifra.
Prefiro o tempo de insetos ao tempo de estrelas.
Prefiro bater na madeira.
Prefiro não perguntar quanto tempo e quando.
Eu prefiro manter em mente a possibilidade
de que a existência tem sua própria razão de ser.
sábado, 28 de setembro de 2019
O arquétipo da sombra, o lado sombrio da sua alma
Segundo a psicologia analítica de Carl Jung, o arquétipo da sombra representa “o lado sombrio” de sua personalidade. É um submundo feroz da alma onde você armazena a parte mais primitiva de si mesmo. Há o egoísmo, os instintos oprimidos e o eu “não aprovado” que rejeita sua mente consciente. Esta é a parte que está enterrada nas camadas mais profundas do seu ser. A sombra é o arquétipo do lado negro da sua alma.
Você provavelmente já ouviu falar sobre esse conceito no passado. A ideia do arquétipo da sombra é um conceito familiar. Os psicólogos ainda usam isso para falar sobre confronto. Refere-se àquela percepção de um conflito interno que você às vezes experimenta quando está frustrado, com medo, inseguro ou zangado.
“Uma pessoa não é iluminada por imaginar figuras de luz, mas por estar ciente da escuridão.” -Carl Jung-
Mas você não deve esquecer que a ideia que Jung descreveu em seu trabalho sobre os arquétipos já era histórica e culturalmente presente em nossa sociedade. O conceito de sombra ou lado sombrio da alma é uma dúplice comum. Até inspirou Robert Louis Stevenson a escrever seu romance clássico, O Estranho Caso do Dr. Jekyll e Mr. Hyde. Stevenson, é claro, escreveu este romance antes mesmo de Jung desenvolver sua teoria sobre o arquétipo da sombra.
Tudo o que consideramos em um determinado momento como “ruim” devido à nossa educação e aos padrões morais da nossa sociedade se transforma na nossa sombra. No entanto, não é aconselhável ver todas essas dinâmicas internas como experiências reprováveis ou perigosas, até o ponto de pensar que todos nós carregamos um Hyde que quer se manifestar.
O próprio Jung explicou que existem diferentes tipos de sombras e que uma maneira de alcançar o bem-estar, a cura e a liberdade pessoal é torná-las conscientes e enfrentando todas elas.
O arquétipo da sombra, o lado negro dos seres humanos
O arquétipo da sombra está intimamente ligado ao conceito de “subconsciente” de Freud. Mas possui aspectos únicos que o distinguem de maneira significativa dessa ideia. Esses aspectos únicos também enriquecem o conceito de Jung. Não podemos esquecer que o que começou como um idílio intelectual entre Freud e Jung acabou esfriando, até o ponto de Jung dizer que o pai da psicanálise era “uma figura trágica, um grande homem, mas uma pessoa com a qual ele não concordava”.
Jung desenvolveu seu próprio método, a psicologia analítica. Ele rejeitou o banco e a relação assimétrica entre o terapeuta e o paciente. Jung era a favor de uma terapia baseada na conversa. Ele acreditava que a terapia deveria penetrar na estrutura da mente e no inconsciente onde os arquétipos vagueiam. De todos os arquétipos, o arquétipo da sombra é, sem dúvida, o arquétipo com o valor mais terapêutico. Vamos aprender as características deste arquétipo no restante deste artigo …
A sombra, uma presença conhecida mas oprimida
– Jung emprestou o termo “sombra” de Friedrich Nietzsche.
– Essa ideia representa a personalidade oculta que todo ser humano possui. Do lado de fora, a maioria de nós (e nós também acreditamos) são pessoas boas e amigáveis. Mas algumas partes de nós são suprimidas. Esses são instintos herdados que às vezes escondem violência, raiva e ódio.
– O arquétipo da sombra não existe apenas nos indivíduos. Também grupos de pessoas (seitas, grupos religiosos, partidos políticos) podem ter um arquétipo da sombra. Em algum momento, esses grupos podem mostrar seu lado sombrio e justificar fatos violentos contra a humanidade.
– Quanto mais reprimimos a sombra, mais destrutiva, traiçoeira e perigosa ela se torna. De acordo com Jung, ela pode “projetar-se”. Ocorre então na forma de uma neurose ou psicose .
– Jung também identificou duas tipologias dentro do arquétipo da sombra. A primeira é a sombra pessoal. Todos nós temos isso. Inclui todas as nossas pequenas frustrações, medos, egoísmo e negatividade comum. O outro tipo é a sombra impessoal. Ela contém a essência mais arquetípica do mal e acompanha o genocídio, o assassinato implacável e assim por diante.
Jung sobre como lidar com o lado negro da sua alma
“Infelizmente, não há dúvida de que o homem, como um todo, é menos bom do que pensa ou quer ser de si mesmo. Todo mundo carrega uma sombra. E quanto menos é expresso na vida consciente do indivíduo, mais escura e pesada ela é. Se um sentimento de inferioridade é consciente, há sempre uma chance de melhorá-lo. Além disso, está em contato constante com outros interesses, de modo que está constantemente sujeito a mudanças. Mas se for suprimido e separado da consciência, nunca é corrigido. Além disso, provavelmente entrará em erupção em um momento inconsciente. Em qualquer caso, é um problema inconsciente que bloqueia as tentativas mais recentes. ”
-Carl Jung-
Como posso enfrentar minha própria sombra?
Você pode pensar que a teoria do arquétipo da sombra é interessante. Em sentido metafórico, tem seu charme e certa mística. Porque nesta imagem vemos o reflexo do que é tabu de uma maneira clássica. Representa o mal e o lado sombrio da personalidade humana que sempre desperta nosso interesse. Mas há alguma coisa nessa teoria que possamos aplicar em nossas vidas diárias?
A resposta é “sim”. Jung nos lembra em seus escritos, em livros como O Arquétipo e o Inconsciente Coletivo. Ele diz que é nosso trabalho na vida nos aceitar plenamente e integrar nossa “sombra” em nossa personalidade. Desta forma, podemos estar cientes disso e trabalhar face a face com ela. Ignorar e permitir que permaneça no inconsciente pode nos privar do equilíbrio e da chance de sermos felizes.
Também não devemos esquecer quais aspectos esse conceito significa que chamamos de “sombra”. Aqui encontramos nossos medos, nossos traumas passados, as decepções que nos envenenam e os sonhos que nunca se realizaram como resultado de nossa própria indecisão. Se escondermos todos esses demônios interiores, eles se tornarão mais violentos. Se os silenciarmos, eles eventualmente nos controlarão. Eles vão retratar uma imagem de nós mesmos que não gostamos ou discordamos.
Devemos, portanto, lembrar que nosso crescimento pessoal e nosso bem-estar psicológico sempre dependerão da nossa capacidade de trazer essas sombras à luz. Assim que fazemos esse esforço corajoso, o delicado, mas valioso trabalho de cura começa. Só então poderemos encontrar paz e bem-estar.
Caso Dino
Anda-se falando muito de Flávio Dino recentemente. Para o bem dele. Antes de fazermos algumas análises sobre ele, fica um alerta: nada do que falamos aqui o Dino não percebe. Antes de mais nada, Dino é um político extremamente inteligente e articulado e sabe muito bem analisar e antecipar cenários. Não deve ser subestimado em nenhuma hipótese e sim respeitado.
A religião neopentecostal lulista e sua blogosfera de fiéis aguardando a volta do seu messias no purgatório de Curitiba exultam. No desespero da falta de opções além de Lula para 2022 e na necessidade de destruir as verdades incômodas ditas por Ciro, agarram-se à figura de Dino de forma que beira à cegueira. Nada mais insensato. Porém, cobrar sensatez da seita parece ser tarefa cada vez mais impossível de retorno.
Primeiramente, vamos aos fatos: Lula apoiou a família-quadrilha Sarney no Maranhão, contra o Dino. A célebre picada do escorpião tanto dita pelo Ciro aí tem mais um exemplo. Dino foi picado e não esqueceu. Só omite porque sabe que o eleitorado do relativamente pobre Maranhão é lulista até o osso. E surfa na onda, até agora com sucesso. Mas a lembrança da traição faz com que o Governador do Maranhão não seja um lulista fanatizado, apenas um estrategista habilidoso que deseja alçar seu voo próprio sempre e que aguarda o seu momento.
Outro ponto é a legenda: se a bandeira vermelha da foice e martelo do Partido Comunista for digerida pelo eleitorado do Sul e Sudeste em 2022 este quem escreve lhes promete que arrancará um dedo. Uma candidatura do PCdoB, pelo contrário, fará a alegria do Dória, Witzel e Moro. A sigla é totalmente estigmatizada e conhecida no eleitorado como "um puxadinho" do PT. Para voos fora de seu Estado, Dino terá que necessariamente se desfiliar do PCdoB. E ele parece estar avaliando isso. Os caminhos naturais seriam 1- o PSB; 2- a Rede; e 3- o PDT, este a 3a opção porque é o único que tem um rival que lhe bloqueia: Ciro Ferreira Gomes. Mesmo assim, a direita bombardeará a questão do Dino "comunista disfarçado em outra sigla para enganar o povo". Algo difícil de superar, dado que ele teria um desgaste grande para se explicar como socialdemocrata que é. Vale lembrar que por questões bem menores que essa Ciro gastou uma parte preciosa da sua campanha para - a contragosto - se explicar.
Por fim, mesmo se Dino almejar ser vice de uma chapa progressista - o que é possível - dificilmente um candidato de centroesquerda (PSB, PDT, REDE) colocaria um "comunista" nela. Por exemplo, Ciro necessita de um(a) vice mais tecnocrata e ao centro, melhor se for do Sudeste ou Sul, para expandir sua base eleitoral como contrapeso ao Nordeste que a ele se inclinaria melhor num cenário sem o PT. Dino, nordestino e "comunista", portanto, não é uma opção seguindo a lógica fria eleitoral. Essa estigmatização é injusta mas é um fato. O estigma antipetista e anticomunista sobreviverá ao bolsonarismo decadente no eleitorado do Centro-Sul.
Dino sabe de todo esse cenário. Tem a admiração e o repeito do trabalhismo que o considera um dos melhores políticos brasileiros. O que ele fez pelo Maranhão foi histórico, um exemplo para toda a esquerda, mesmo com a traição do populista Lula a ele, apoiando a quadrilha Sarney. Porém, se Dino enveredar pela permanência na sigla comunista ou - pior - não se desvincular do antipetismo que lhe aguarda de braços abertos no centro-sul do país, seriam dois equívocos graves numa pretensão ao Planalto como cabeça ou vice, porém erros pouco prováveis, dado a perspicácia típica de Flávio Dino, que tem no seu currículo a destruição - pela via da esquerda - da estrutura da dinastia Sarney no Maranhão. Feito notável que por si só já lhe coloca como uma das maiores lideranças de esquerda na História do Brasil.
Via Daniel da Vitória Melo
A religião neopentecostal lulista e sua blogosfera de fiéis aguardando a volta do seu messias no purgatório de Curitiba exultam. No desespero da falta de opções além de Lula para 2022 e na necessidade de destruir as verdades incômodas ditas por Ciro, agarram-se à figura de Dino de forma que beira à cegueira. Nada mais insensato. Porém, cobrar sensatez da seita parece ser tarefa cada vez mais impossível de retorno.
Primeiramente, vamos aos fatos: Lula apoiou a família-quadrilha Sarney no Maranhão, contra o Dino. A célebre picada do escorpião tanto dita pelo Ciro aí tem mais um exemplo. Dino foi picado e não esqueceu. Só omite porque sabe que o eleitorado do relativamente pobre Maranhão é lulista até o osso. E surfa na onda, até agora com sucesso. Mas a lembrança da traição faz com que o Governador do Maranhão não seja um lulista fanatizado, apenas um estrategista habilidoso que deseja alçar seu voo próprio sempre e que aguarda o seu momento.
Outro ponto é a legenda: se a bandeira vermelha da foice e martelo do Partido Comunista for digerida pelo eleitorado do Sul e Sudeste em 2022 este quem escreve lhes promete que arrancará um dedo. Uma candidatura do PCdoB, pelo contrário, fará a alegria do Dória, Witzel e Moro. A sigla é totalmente estigmatizada e conhecida no eleitorado como "um puxadinho" do PT. Para voos fora de seu Estado, Dino terá que necessariamente se desfiliar do PCdoB. E ele parece estar avaliando isso. Os caminhos naturais seriam 1- o PSB; 2- a Rede; e 3- o PDT, este a 3a opção porque é o único que tem um rival que lhe bloqueia: Ciro Ferreira Gomes. Mesmo assim, a direita bombardeará a questão do Dino "comunista disfarçado em outra sigla para enganar o povo". Algo difícil de superar, dado que ele teria um desgaste grande para se explicar como socialdemocrata que é. Vale lembrar que por questões bem menores que essa Ciro gastou uma parte preciosa da sua campanha para - a contragosto - se explicar.
Por fim, mesmo se Dino almejar ser vice de uma chapa progressista - o que é possível - dificilmente um candidato de centroesquerda (PSB, PDT, REDE) colocaria um "comunista" nela. Por exemplo, Ciro necessita de um(a) vice mais tecnocrata e ao centro, melhor se for do Sudeste ou Sul, para expandir sua base eleitoral como contrapeso ao Nordeste que a ele se inclinaria melhor num cenário sem o PT. Dino, nordestino e "comunista", portanto, não é uma opção seguindo a lógica fria eleitoral. Essa estigmatização é injusta mas é um fato. O estigma antipetista e anticomunista sobreviverá ao bolsonarismo decadente no eleitorado do Centro-Sul.
Dino sabe de todo esse cenário. Tem a admiração e o repeito do trabalhismo que o considera um dos melhores políticos brasileiros. O que ele fez pelo Maranhão foi histórico, um exemplo para toda a esquerda, mesmo com a traição do populista Lula a ele, apoiando a quadrilha Sarney. Porém, se Dino enveredar pela permanência na sigla comunista ou - pior - não se desvincular do antipetismo que lhe aguarda de braços abertos no centro-sul do país, seriam dois equívocos graves numa pretensão ao Planalto como cabeça ou vice, porém erros pouco prováveis, dado a perspicácia típica de Flávio Dino, que tem no seu currículo a destruição - pela via da esquerda - da estrutura da dinastia Sarney no Maranhão. Feito notável que por si só já lhe coloca como uma das maiores lideranças de esquerda na História do Brasil.
Via Daniel da Vitória Melo
Tomada a morte, sem exagero
Espero colocar mais coisas dela por aqui. Gostei muito...
Tomada a morte, sem exagero
Wislawa Szymborska
Ela não pode fazer uma piada
encontrar uma estrela, construir uma ponte.
Ela nada sabe sobre tecelagem, mineração, agricultura,
construir navios, ou assar bolos.
No nosso plano para o amanhã,
ela tem a última palavra,
que está sempre ao lado do ponto.
Nem mesmo pode tomar parte
nas tarefas que fazem parte do seu comércio:
cavar uma sepultura,
fazer um caixão,
limpar tudo depois de si.
Preocupada com o matar,
ela faz o trabalho desajeitada,
sem sistematização ou habilidade.
Como se cada um de nós fosse a sua primeira morte.
Ah, ela tem seus triunfos,
mas olhe para os seus incontáveis fracassos,
sopros perdidos,
e tentativas de repetição!
As vezes, ela não é forte o suficiente
para golpear uma mosca no ar.
Muitas são as lagartas
que a superam.
Todas esses bulbos, vagens,
tentáculos, barbatanas, traqueias,
pluma nupcial e peles de inverno
mostram que ela tem ficado para trás
com o seu trabalho meia-boca.
A vontade da doença não basta
e até nossa mãozinha com guerras e golpes de estado
não é suficiente.
Corações batem dentro de ovos.
Esqueletos de bebês crescem.
Sementes, em trabalho duro, brotam o seu primeiro pequenino par de folhas
e, às vezes, até mesmo árvores altas seguem seu curso.
Quem afirma que ela é onipotente
está ele mesmo provando
que ela não é.
Não há vida
que não possa ser imortal
pelo menos por um momento.
Morte
sempre chega ao momento atrasada.
Em vão ela puxa a maçaneta
da porta invisível.
Tão logo você veio
não pode ser desfeito.
Tomada a morte, sem exagero
Wislawa Szymborska
Ela não pode fazer uma piada
encontrar uma estrela, construir uma ponte.
Ela nada sabe sobre tecelagem, mineração, agricultura,
construir navios, ou assar bolos.
No nosso plano para o amanhã,
ela tem a última palavra,
que está sempre ao lado do ponto.
Nem mesmo pode tomar parte
nas tarefas que fazem parte do seu comércio:
cavar uma sepultura,
fazer um caixão,
limpar tudo depois de si.
Preocupada com o matar,
ela faz o trabalho desajeitada,
sem sistematização ou habilidade.
Como se cada um de nós fosse a sua primeira morte.
Ah, ela tem seus triunfos,
mas olhe para os seus incontáveis fracassos,
sopros perdidos,
e tentativas de repetição!
As vezes, ela não é forte o suficiente
para golpear uma mosca no ar.
Muitas são as lagartas
que a superam.
Todas esses bulbos, vagens,
tentáculos, barbatanas, traqueias,
pluma nupcial e peles de inverno
mostram que ela tem ficado para trás
com o seu trabalho meia-boca.
A vontade da doença não basta
e até nossa mãozinha com guerras e golpes de estado
não é suficiente.
Corações batem dentro de ovos.
Esqueletos de bebês crescem.
Sementes, em trabalho duro, brotam o seu primeiro pequenino par de folhas
e, às vezes, até mesmo árvores altas seguem seu curso.
Quem afirma que ela é onipotente
está ele mesmo provando
que ela não é.
Não há vida
que não possa ser imortal
pelo menos por um momento.
Morte
sempre chega ao momento atrasada.
Em vão ela puxa a maçaneta
da porta invisível.
Tão logo você veio
não pode ser desfeito.
sexta-feira, 27 de setembro de 2019
Estados da Mente....
Quando a mente fica entediada, quer satisfazer sua fome lendo um livro, assistindo à tevê, navegando na Internet. A alternativa é aceitar o tédio e a ansiedade e observar como é sentir-se entediado e ansioso. À medida que você se dá conta dessa sensação, surge um espaço arejado e uma calma em volta da sensação. O tédio, a ansiedade, a raiva, a tristeza e o medo não são seus. Eles são estados da mente. É por isso que vão e voltam. Nada que vai e volta é você.
Eckhart Tolle
Eckhart Tolle
Estar inteiro....
Muitas vezes não percebemos como é fácil não estar presente, mesmo que sem sair do lugar. Já se tornou rotineiro estar na rua, restaurantes ou bares e ver pessoas com os celulares na mão, mesmo quando acompanhadas de outras. Sempre tem alguém em algum lugar tentando manter uma conversa e acabando falando sozinho, ou tendo de repetir tudo o que havia acabado de falar. Nossa realidade é tão acelerada, com horários tão urgentes e constante movimento que, se não fosse essencial, esqueceríamos até mesmo de respirar.
Não adianta, temos que criar consciência de que o futuro não pertence a nós, afinal, a vida sempre vai encontrar uma maneira de nos surpreender. Estar presente não é apenas conversar com alguém ou “levar seu corpo para passear”. É sentir a energia do que acontece, prestar atenção no que lhe é dito e no significado além das palavras. Estar presente é ter sempre em mente que há sentimento e energia envolvidos em tudo aquilo que se faz. Conexão não é apenas interagir, é criar vínculo.
É importante tirarmos um tempo para meditar sobre onde estamos e para onde queremos ir, mas tire um tempo especial para isso, alguns minutos do seu dia e não o tempo todo. Viver o tempo todo no futuro só vai te deixar ansioso. Assim como viver no passado só lhe trará tristeza e sentimento de saudade. Aproveite mais seu agora.
Desde que comecei a pensar mais no agora, passei a me tornar uma pessoa menos ansiosa e cada vez mais realizada. Aprendi a saborear mais minha comida, sentir tudo com mais intensidade e descobrir mais sobre as pessoas com as quais convivo. Passe a apreciar mais o vento e os raios solares quando tocam sua pele, busque redescobrir as pessoas que ama e faça do agora um momento pelo qual você se sente agradecido.
Faça da sua presença, sua essência.
Lya....
Canção da Minha Ternura
Rondaste o meu castelo solitário
como um rio de vozes e de gestos;
baixei as minhas pontes fatigadas
e conheci teus lumes, teus agrados
teus olhos de ouro negro que confundem;
andei na tua voz como num rio
de fogo e mel e raros peixes belos,
cheguei na tua ilha e atrás da porta
me deste o banquete dos ardores
teus.
Rondaste o meu castelo solitário
como um rio de vozes e de gestos;
baixei as minhas pontes fatigadas
e conheci teus lumes, teus agrados
teus olhos de ouro negro que confundem;
andei na tua voz como num rio
de fogo e mel e raros peixes belos,
cheguei na tua ilha e atrás da porta
me deste o banquete dos ardores
teus.
Mas às vezes sou quem volta
a erguer as pontes e cavar o fosso
e agora em sua torre, ternamente,
sem mágoa se debruça nas varandas
vendo-te ao longe , barco nessas águas,
querendo ainda estar se regressares
-porque seria pena naufragarmos
se poderias ter, sem tantas dores,
viagens e chegadas nos amores meus.
a erguer as pontes e cavar o fosso
e agora em sua torre, ternamente,
sem mágoa se debruça nas varandas
vendo-te ao longe , barco nessas águas,
querendo ainda estar se regressares
-porque seria pena naufragarmos
se poderias ter, sem tantas dores,
viagens e chegadas nos amores meus.
Lya Luft
Grande Mario....
"Quem faz um poema abre uma janela.
Respira, tu que estás numa cela abafada,
esse ar que entra por ela.
Por isso é que os poemas têm ritmo
- para que possas profundamente respirar.
Quem faz um poema salva um afogado."
Respira, tu que estás numa cela abafada,
esse ar que entra por ela.
Por isso é que os poemas têm ritmo
- para que possas profundamente respirar.
Quem faz um poema salva um afogado."
Escolhas II....
O Êxito de qualquer Relação
O encanto do casamento resume-se, numa medida embaraçosa, ao facto de ser tão desagradável estar sozinho. Isto não é necessariamente culpa nossa como indivíduos. A sociedade como um todo parece determinada a tornar o estado de solteiro tão vexatório e deprimente quanto possível: uma vez acabados os tempos despreocupados da escola e da universidade, companhia e afeto tornam-se desanimadoramente difíceis de encontrar; a vida social começa a girar opressivamente em torno de casais; não resta ninguém a quem telefonar ou com quem passar o tempo. Não é para admirar, então, que quando encontramos alguém medianamente decente possamos ficar-lhe agarrados.
Noutros tempos, quando as pessoas só podiam (em teoria) ter sexo depois de casarem, observadores sábios sabiam que alguns podiam ser tentados a casar pelas razõs erradas - e, assim, sustentavam que os tabus à volta do sexo pré-matrimonial deviam ser levantados para ajudar os jovens a tomar decisões mais calmas, menos conduzidas pelos impulsos.
Mas se é verdade que esse particular impedimento ao bom senso foi removido, o facto é que uma outra espécie de ânsia parece ter tomado o seu lugar. O anseio de companhia pode não ser menos poderoso ou irresponsável nos seus efeitos do que foi em tempos o motivo sexual. Passar a sós cinquenta e dois domingos seguidos pode fazer gato-sapato da prudência de qualquer pessoa. Também a solidão pode provocar precipitações e a repressão das dúvidas e da ambivalência acerca de um potencial cônjuge. O êxito de qualquer relação não deveria ser determinado apenas pela satisfação que um casal tem em estar junto mas também pelo grau de preocupação que cada um dos parceiros tem em não estar num qualquer relacionamento.
Alain de Botton, in 'O Curso do Amor'
O encanto do casamento resume-se, numa medida embaraçosa, ao facto de ser tão desagradável estar sozinho. Isto não é necessariamente culpa nossa como indivíduos. A sociedade como um todo parece determinada a tornar o estado de solteiro tão vexatório e deprimente quanto possível: uma vez acabados os tempos despreocupados da escola e da universidade, companhia e afeto tornam-se desanimadoramente difíceis de encontrar; a vida social começa a girar opressivamente em torno de casais; não resta ninguém a quem telefonar ou com quem passar o tempo. Não é para admirar, então, que quando encontramos alguém medianamente decente possamos ficar-lhe agarrados.
Noutros tempos, quando as pessoas só podiam (em teoria) ter sexo depois de casarem, observadores sábios sabiam que alguns podiam ser tentados a casar pelas razõs erradas - e, assim, sustentavam que os tabus à volta do sexo pré-matrimonial deviam ser levantados para ajudar os jovens a tomar decisões mais calmas, menos conduzidas pelos impulsos.
Mas se é verdade que esse particular impedimento ao bom senso foi removido, o facto é que uma outra espécie de ânsia parece ter tomado o seu lugar. O anseio de companhia pode não ser menos poderoso ou irresponsável nos seus efeitos do que foi em tempos o motivo sexual. Passar a sós cinquenta e dois domingos seguidos pode fazer gato-sapato da prudência de qualquer pessoa. Também a solidão pode provocar precipitações e a repressão das dúvidas e da ambivalência acerca de um potencial cônjuge. O êxito de qualquer relação não deveria ser determinado apenas pela satisfação que um casal tem em estar junto mas também pelo grau de preocupação que cada um dos parceiros tem em não estar num qualquer relacionamento.
Alain de Botton, in 'O Curso do Amor'
Escolhas....
Eu não sei se é uma nova era, mas existe um movimento mundial para que você tenha liberdade de procurar qual vida é a sua vida.
A gente fala do sucesso profissional tanto quanto a gente fala da sua capacidade de lidar com o fracasso. Porque se você está decidida a ter um sucesso você não pode tirar da equação que seu maior professor é o fracasso. Não que a gente incentive que você fracasse, mas a questão é como você lida com isso em algumas áreas. Existe na nossa sociedade um enaltecimento ao sucesso. As pessoas, quando contam suas histórias, tendem a não dizer que elas aprenderam efetivamente quando as coisas começaram a dar errado. O Alain de Botton tem uma frase que diz que as pessoas só ficam verdadeiramente interessantes quando começam a chacoalhar as barras das suas jaulas.
Será que se você decidir ser uma pessoa muito bem-sucedida na sua área profissional você vai ter sucesso na sua área emocional? Qual dos dois você privilegia? É muito pessoal essa resposta, mas você tem que entender que um implica em perder um pouco do outro. É impossível você ser bom em todas as áreas. E isso tem que ficar muito claro porque essas conclusões e essas percepções nunca são colocadas. Se você privilegia sua vida profissional você tem que abrir mão de alguma área da sua vida. Se não é a amorosa, é a familiar. Se não é a familiar, é a dos seus amigos. Se não é a dos seus amigos, é o tempo que você passa lendo… Não cabe tudo. O grande problema é que as pessoas, quando tomam decisões, não trazem junto para o bolo das decisões o que elas vão ter que abrir mão.
Texto: Jackie de Botton
A gente fala do sucesso profissional tanto quanto a gente fala da sua capacidade de lidar com o fracasso. Porque se você está decidida a ter um sucesso você não pode tirar da equação que seu maior professor é o fracasso. Não que a gente incentive que você fracasse, mas a questão é como você lida com isso em algumas áreas. Existe na nossa sociedade um enaltecimento ao sucesso. As pessoas, quando contam suas histórias, tendem a não dizer que elas aprenderam efetivamente quando as coisas começaram a dar errado. O Alain de Botton tem uma frase que diz que as pessoas só ficam verdadeiramente interessantes quando começam a chacoalhar as barras das suas jaulas.
Será que se você decidir ser uma pessoa muito bem-sucedida na sua área profissional você vai ter sucesso na sua área emocional? Qual dos dois você privilegia? É muito pessoal essa resposta, mas você tem que entender que um implica em perder um pouco do outro. É impossível você ser bom em todas as áreas. E isso tem que ficar muito claro porque essas conclusões e essas percepções nunca são colocadas. Se você privilegia sua vida profissional você tem que abrir mão de alguma área da sua vida. Se não é a amorosa, é a familiar. Se não é a familiar, é a dos seus amigos. Se não é a dos seus amigos, é o tempo que você passa lendo… Não cabe tudo. O grande problema é que as pessoas, quando tomam decisões, não trazem junto para o bolo das decisões o que elas vão ter que abrir mão.
Texto: Jackie de Botton
Mario Quintana
Os poemas são pássaros que chegam
não se sabe de onde e pousam
no livro que lês.
Quando fechas o livro, eles alçam vôo
como de um alçapão.
Eles não têm pouso
nem porto;
alimentam-se um instante em cada
par de mãos e partem.
E olhas, então, essas tuas mãos vazias,
no maravilhado espanto de saberes
que o alimento deles já estava em ti...
não se sabe de onde e pousam
no livro que lês.
Quando fechas o livro, eles alçam vôo
como de um alçapão.
Eles não têm pouso
nem porto;
alimentam-se um instante em cada
par de mãos e partem.
E olhas, então, essas tuas mãos vazias,
no maravilhado espanto de saberes
que o alimento deles já estava em ti...
Enterrado vivo....
"As emoções que não expressamos não morrem dentro de nós, elas são simplesmente enterradas vivas e surgem da pior maneira."
( Sigmund Freud )
Excerto de A Peste de Camus
Foi mais ou menos nessa época que os nossos concidadãos começaram a se inquietar com o caso, pois, a partir do dia 18, as fábricas e os depósitos vomitaram centenas de cadáveres de ratos. Em alguns casos, foi necessário acabar de matar os bichos, pois sua agonia era demasiado longa. Mas desde os bairros, exteriores até o centro da cidade, por toda parte onde o doutor Rieux passava, por toda parte onde os nossos concidadãos se reuniam, os ratos esperavam em montes, nas lixeiras ou junto às sarjetas, em longas filas. A imprensa da tarde ocupou-se do caso a partir desse dia e perguntou se a municipalidade se propunha ou não a agir e que medidas de urgência tencionava adotar para proteger os seus munícipes dessa repugnante invasão. A amunicipalidade nada se tinha proposto e nada previra, mas começou por reunir-se em conselho para deliberar. Foi dada a ordem ao serviço de desratização para recolher os ratos mortos todas a madrugadas. Em seguinda, dois carros do serviço de desratização deveriam transportar os animais até o forno de incineração de lixo a fim de serem queimados.
Mas, os dias se seguiram, a situação agravou-se. O número de roedores apanhados ia crescendo e a coleta era a cada manhã mais abundante. A partir do quarto dia, os ratos começaram a sair para morrerem em grupos. Dos porões, das adegas, dos esgotos, subiam em longas filas titubeantes, para virem vacilar à luz, girar sobre si mesmos e morrer perto dos seres humanos. À noite, nos corredores e nas ruelas, ouviam-se distintamente seus guinchos de agonia. De manhã, nos subúrbios, encontravam-se estendidos nas sarjetas com uma pequena flore de sangue nos focinhos pontiagudos; uns, inchados e pútridos; outros, rígidos e com bigodes ainda eriçados. Na própria cidade, eram encontrados em pequenos montes nos patamares ou nos pátios. Vinham, também, morrer isoladamente nos evstíbulos das repartições, nos recreios das escolas, por vezes nos terraços dos cafés. Nossos concidadãos, estupefatos, encontravam-nos nos locais mais frequentados da cidade.
Dentro de mim....
No meio do ódio eu achei que havia dentro de mim um amor invencível. No meio das lágrimas eu achei que havia dentro de mim um sorriso imbatível. Em medo do caos eu achei que havia dentro de mim uma calma imbatível.
Dei-me conta, apesar de tudo, que no meio do inverno havia dentro de mim um verão invencível. E isso me faz feliz. Porque não importa o quão duro o mundo empurra contra mim, dentro de mim há algo melhor empurrando de volta.
*Albert Camus*
Necessidade....
Diferenciam-se os comunicadores pela razão de ser de sua função, e pela razão de ser da pessoa que se presta à função. Vejam os jornalistas e os poetas: ambos comunicam coisas de interesse da sociedade, faça prazer ou faça doer, eis sua função. Por mérito da vida, diferenciam-se em sua razão: o primeiro comunica por utilidade, e o segundo por necessidade."
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