sábado, 29 de fevereiro de 2020
sexta-feira, 28 de fevereiro de 2020
Saiba o que fazer para se proteger do novo coronavírus....
Lavar as mãos frequentemente com sabonete, evitar lugares muito movimentados, cobrir a boca ao tossir ou espirrar com um lenço ou com o cotovelo estão entre os comportamentos para diminuir as chances de contágio. O novo coronavírus Sars-Cov-2, que causa a doença Covid-19, é um desafio global que exige uma ação responsável por parte de cada indivíduo. Não só cada cidadão, mas também empresas, instituições e organizações podem tomar medidas para se proteger do vírus e estar preparados para uma pandemia.
Preparativos para um foco pandêmico são concentrados em três áreas: limitação do número de pessoas expostas à infecção, fornecimento de kits para lares privados com o essencial necessário para sobreviver a uma emergência, restrição de grandes distúrbios sociais e eventos em que a infecção possa se espalhar.
Como posso me proteger?
O coronavírus é transmitido por gotículas de saliva. O vírus se multiplica na garganta. A partir daí, os patógenos podem ser expelidos do corpo mais rapidamente do que dos pulmões, através, por exemplo, de espirro, tosse ou sopro. O patógeno também é transmitido por contato com secreções contaminadas, como contato pessoal próximo, toque ou aperto de mão, ou por contato com objetos ou superfícies contaminadas, seguido de contato com a boca, nariz ou olhos. Que medidas concretas os indivíduos podem adotar para proteger a si mesmos e aos outros de uma infecção por gotículas?
Entre as recomendações estão:
- Manter distância de um ou dois metros de qualquer um que esteja infectado;
- Lavar as mãos regularmente e cuidadosamente (por pelo menos 20 segundos, com sabão, incluindo os pulsos);
- Também recomenda-se usar toalhas descartáveis ao secar as mãos;
- Evitar apertos de mãos, abraços ou beijos;
- Desenvolver reflexos de autoproteção: pressionar o botão do elevador com a junta do dedo em vez da ponta, tocar em maçaneta de portas com o pulso ou o cotovelo;
- Evitar lugares e eventos muito frequentados;
- Evitar tocar no próprio rosto ou de amigos e parentes;
- Não tocar as mucosas de boca, olhos e nariz com os dedos;
- Colocar luvas, caso necessário;
- Lavá-las e trocá-las diariamente;
- Não espirrar ou tossir na mão;
- Usar o cotovelo ou um lenço;
- Descartar rapidamente lenços usados.
As máscaras respiratórias oferecem pouca proteção às pessoas saudáveis. Quando usadas, as máscaras ficam úmidas pela entrada de ar. Após apenas 20 minutos, sua barreira protetora se deteriora. Esses itens devem ser reservados a equipes médicas.
Como se preparar para uma pandemia?
Se ocorrer uma intensa onda de infecções, restrições ao movimento provavelmente serão impostas, e isso poderá levar a gargalos no fornecimento. Nesse caso, é importante tomar precauções que possibilitem que a pessoa permaneça em casa por várias semanas, se necessário. É recomendável ter em casa medicamentos importantes para serem usados por um mês. É importante manter um suprimento de alimentos não perecíveis. Devem ser organizadas formas de proteção a amigos e parentes. Os idosos e os doentes com sistema imunológico fraco estão particularmente em risco e dependem de ajuda, além de crianças doentes. Devem ser planejados meios de se cuidar de familiares sem que o cuidador corra risco de contágio.
Como é possível ajudar a comunidade?
Quanto mais as pessoas se esforçam para se preparar, mais aumenta o sentimento de união. É possível melhorar a situação ajudando as comunidades a se organizarem. Após se recuperar da doença Covid-19, o paciente fica imune ao patógeno. Portanto, a pessoa pode sair de casa e se oferecer para assumir outras tarefas como, por exemplo, fazer compras para aqueles que ainda estão doentes.
O que os empregadores podem fazer?
Quando um vírus altamente infeccioso se espalha, as empresas precisam tomar precauções para proteger seus funcionários. Funcionários doentes ou em risco devem ficar em casa.
- Sempre que possível, os empregadores devem oferecer possibilidades de se trabalhar a partir de casa;
- Funcionários com sintomas agudos de doença respiratória (por exemplo, tosse ou falta de ar) devem ser separados dos outros funcionários imediatamente e enviados para casa;
- As empresas devem fornecer ar fresco nos locais de trabalho e nas salas de convívio social e substituir os filtros nos sistemas de ventilação;
- Eles devem fornecer instalações de higiene com água limpa, sabão e toalhas de papel;
- No escritório, lenços e sprays de limpeza para desinfectar teclados e telefones devem ser disponibilizados e usados regularmente;
- Todas as superfícies de trabalho e a área circundante devem ser limpas rotineiramente;
- Funcionários saudáveis, mas com membros da família com Covid-19, devem notificar seu supervisor.
Os supervisores devem identificar posições particularmente relevantes nos processos de trabalho e providenciar substitutos. Assim, a ausência de uma pessoa não colocará em risco ou afetará o funcionamento de toda a organização.
Precauções para viagens de negócios e lazer
Durante uma pandemia, os planos de viagem devem ser revisados regularmente. Empregadores e funcionários precisam estudar as diretrizes e recomendações mais recentes para cada destino. As empresas devem aconselhar seus funcionários a serem examinados quanto a sintomas de doença respiratória aguda antes de viajar, e a ficar em casa se ficarem doentes.
quarta-feira, 26 de fevereiro de 2020
What a Wonderful World....
What a Wonderful World
I see trees of green, red roses too
I see them bloom for me and you
And I think to myself, what a wonderful world
I see skies of blue and clouds of white
The bright blessed days, the dark sacred night
And I think to myself, what a wonderful world
The colors of the rainbow, so pretty in the sky
Are also on the faces of people going by
I see friends shaking hands, saying: How do you do?
They're really saying: I love you!
I hear babies crying, I watch them grow
They'll learn much more, than I'll never know
And I think to myself, what a wonderful world
Yes, I think to myself, what a wonderful world
terça-feira, 25 de fevereiro de 2020
I Live For You
Sim, ele era o mais lindinho do grupo. Foi por causa dele que o grupo foi para a Índia conhecer o Ravi Shankar.
É, gostaria de estar cantando esse música para alguém....
I Live For You
All alone in this world of mine,
Not a care for this world have I,
Only you keep my eyes open wide,
Yes, it's true, I live for you.
Not a thing in this world do I own,
Only sadness and mourn that is grown
In this darkness I wait for the day,
Yes, it's true, I live for you.
Through many years I've wait,
Through many tears I've weeped.
All this time my thoughts return to you,
Give my love that is all I can do,
Wait in line till I feel you inside,
Yes, it's true, I live for you
Through many years I've wait,
Through many tears I've weeped.
All this time my thoughts return to you,
Give my love that is all I can do,
Wait in line till I feel you inside,
Yes, it's true, I live for you.
É, gostaria de estar cantando esse música para alguém....
I Live For You
All alone in this world of mine,
Not a care for this world have I,
Only you keep my eyes open wide,
Yes, it's true, I live for you.
Not a thing in this world do I own,
Only sadness and mourn that is grown
In this darkness I wait for the day,
Yes, it's true, I live for you.
Through many years I've wait,
Through many tears I've weeped.
All this time my thoughts return to you,
Give my love that is all I can do,
Wait in line till I feel you inside,
Yes, it's true, I live for you
Through many years I've wait,
Through many tears I've weeped.
All this time my thoughts return to you,
Give my love that is all I can do,
Wait in line till I feel you inside,
Yes, it's true, I live for you.
Deep Blue...
Deep Blue
When sunshine is not enough
To make me feel bright
It's got me suffering in the darkness
That's so easy come by on the road-side
Of one loong life-time
It's got me deep blue
You know I'm deep blue
When you stand there, watch tired bodies
Full of sickness and pain
To show you just how helpless you really are
When you get down to the truth
It hurts me
It's got me deep blue
You know I'm deep blue
When I think of the life I'm living
Pray God help me; give me your light
So I can love you and understand
This repetition that keeps me here
Feeling deep blue
It's got me deep blue
You know I'm deep blue
Sobradinho
Sobradinho
Sá e Guarabyra
O homem chega, já desfaz a natureza
Tira gente, põe represa, diz que tudo vai mudar
O São Francisco lá pra cima da Bahia
Diz que dia menos dia vai subir bem devagar
E passo a passo vai cumprindo a profecia do beato que dizia que o Sertão ia alagar
O sertão vai virar mar, dá no coração
O medo que algum dia o mar também vire sertão
Adeus Remanso, Casa Nova, Sento-Sé
Adeus Pilão Arcado vem o rio te engolir
Debaixo d'água lá se vai a vida inteira
Por cima da cachoeira o gaiola vai subir
Vai ter barragem no salto do Sobradinho
E o povo vai-se embora com medo de se afogar.
Remanso, Casa Nova, Sento-Sé
Pilão Arcado, Sobradinho
Adeus, Adeus ...
sábado, 22 de fevereiro de 2020
terça-feira, 18 de fevereiro de 2020
segunda-feira, 17 de fevereiro de 2020
Sim, nós vivemos num Mad World....
All around me are familiar faces
Worn out places
Worn out faces
Bright and early for the daily races
Going no where
Going no where
Their tears are filling up their glasses
No expression
No expression
Hide my head I wanna drown my sorrow
No tomorrow
No tomorrow
And I find it kind of funny
I find it kind of sad
The dreams in which I'm dying
Are the best I've ever had
I find it hard to tell you
I find it hard to take
When people run in circles
It's a very, very
Mad world
Mad world
Children waiting for the day they feel good
Happy birthday
Happy birthday
And I feel the way that every child should
Sit and listen
Sit and listen
Went to school and I was very nervous
No one knew me
No one knew me
Hello teacher tell me what's my lesson
Look right through me
Look right through me
And I find it kind of funny
I find it kind of sad
The dreams in which I'm dying
Are the best I've ever had
I find it hard to tell you
I find it hard to take
When people run in circles it's a very very
Mad world
Mad world
Enlarge your world
Mad world
Alan Watts - Aceite seus Demônios
Gosto imensamente das espetadas de Allan Watts. Certamente o trarei mais aqui.... O único problema do vídeo são as imagens de: Clube da Luta; Donnie Darko e Cisne Negro.... 3 ótimos filmes sobre drama psicológico. Aliás, tema que adoro...
Sociedade Teosófica....
Sugiro a todos que tiverem disposição para estudos espirituais, adquirirem os 6 volumes da Doutrina Secreta e se aprofundarem nos estudos. Mesmo com todas as fofocas egóicas nesse meio, quem se propuser a, realmente, conhecer o que Madame Blavastky, através de seus mestres, tentou divulgar, será agraciado com uma maior compreensão humana.
domingo, 16 de fevereiro de 2020
Highwayman....
Highwayman
I was a highwayman, along the coach roads I did ride
With sword and pistol by my side
Many a young maid lost her baubles to my trade
Many a soldier shed his lifeblood on my blade
The bastards hung me in the spring of '25
But I am still alive
I was a sailor, I was born upon the tide
And with the sea I did abide
I sailed a schooner round the Horn to Mexico
I went aloft and furled the mainsail in a blow
And when the yards broke off they said that I got killed
But I am living still
I was a dam builder across the river deep and wide
Where steel and water did collide
A place called Boulder on the wild Colorado
I slipped and fell into the wet concrete below
They buried me in that great tomb that knows no sound
But I am still around, I'll always be around
And around and around and around and around
I fly a starship across the Universe divide
And when I reach the other side
I'll find a place to rest my spirit if I can
Perhaps I may become a highwayman again
Or I may simply be a single drop of rain
But I will remain
And I'll be back again, and again and again and again and again
host Riders In The Sky.....
Ghost Riders In The Sky
An old cowboy went ridin' out one dark and windy day
Upon a ridge he rested as he went along his way
When all at once a mighty herd of red eyed cows he saw
A-plowin' through the ragged skies, and up a cloudy draw
Their brands were still on fire and their hooves were made of steel
Their horns were black and shiny and their hot breath he could feel
A bolt of fear went through him as they thundered through the sky
For he saw the riders commin' hard, and he heard their mournful cry
Yippie-yi-ohhh, yippie-ya-yaaay
Ghost riders in the sky
Their faces gaunt, their eyes were blurred, their shirts all soaked with sweat
He's ridin' hard to catch that herd, but he ain't caught'em yet
'Cause they've got to ride forever on that range up in the sky
On horses snorting fire, as they ride on hear their cry
As the riders loped on by him, he heard one call his name
If you want to save your soul from hell a-ridin' on our range
Then cowboy change your ways today or with us you will ride
Tryin' to catch the devil's herd, across these endless skies
Yippie-ya-ohhh (yippie-ya-ohhh), yippie-ya-yaaay (yippie-ya-yaaay)
Ghost riders in the sky
Dark Water.... O Preço da Verdade....
Filme bem interessante e caso processual atualíssimo. Como todos os filmes com esse tema, só nos mostra qual o poder das grandes indústrias sobre os governos e justiças de todo o mundo. Sim, essas são uma das mazelas capitalistas. Recomendo. Ótimo elenco.
Man In Black
Well, you wonder why I always dress in black,
Why you never see bright colors on my back,
And why does my appearance seem to have a somber tone.
Well, there's a reason for the things that I have on.
I wear the black for the poor and the beaten down,
Livin' in the hopeless, hungry side of town,
I wear it for the prisoner who has long paid for his crime,
But is there because he's a victim of the times.
I wear the black for those who never read,
Or listened to the words that Jesus said,
About the road to happiness through love and charity,
Why, you'd think He's talking straight to you and me.
Well, we're doin' mighty fine, I do suppose,
In our streak of lightnin' cars and fancy clothes,
But just so we're reminded of the ones who are held back,
Up front there ought 'a be a Man In Black.
I wear it for the sick and lonely old,
For the reckless ones whose bad trip left them cold,
I wear the black in mournin' for the lives that could have been,
Each week we lose a hundred fine young men.
And, I wear it for the thousands who have died,
Believen' that the Lord was on their side,
I wear it for another hundred thousand who have died,
Believen' that we all were on their side.
Well, there's things that never will be right I know,
And things need changin' everywhere you go,
But 'til we start to make a move to make a few things right,
You'll never see me wear a suit of white.
Ah, I'd love to wear a rainbow every day,
And tell the world that everything's OK,
But I'll try to carry off a little darkness on my back,
'Till things are brighter, I'm the Man In Black.
Hurt
I hurt myself today
To see if I still feel
I focus on the pain
The only thing that's real
The needle tears a hole
The old familiar sting
Try to kill it all away
But I remember everything
What have I become
My sweetest friend?
Everyone I know goes away
In the end
And you could have it all
My empire of dirt
I will let you down
I will make you hurt
I wear this crown of thorns
Upon my liar's chair
Full of broken thoughts
I cannot repair
Beneath the stains of time
The feelings disappear
You are someone else
I am still right here
What have I become
My sweetest friend?
Everyone I know goes away
In the end
And you could have it all
My empire of dirt
I will let you down
I will make you hurt
If I could start again
A million miles away
I would keep myself
I would find a way
I Won't Back Down....
I Won't Back Down
Well, I won't back down, no, I won't back down
You can stand me up at the gates of hell
But I won't back down
Gonna stand my ground, won't be turned around
And I'll keep this world from draggin' me down
Gonna stand my ground and I won't back down
Hey baby, there ain't no easy way out
Hey, I will stand my ground and I won't back down
Well, I know what's right, I got just one life
In a world that keeps on pushin' me around
But I stand my ground and I won't back down
Hey baby, there ain't no easy way out
Hey I will stand my ground and I won't back down
No, I won't back down
sexta-feira, 14 de fevereiro de 2020
O retrato de Dorian Gray
O Retrato de Dorian Gray é um dos maiores clássicos da língua inglesa. Apesar de ser lembrado como um terror, o livro é também um romance filosófico, com longas exposições de ideias e conceitos, cheios de desafios intelectuais. Desses que, quando acaba, a cabeça fica girando de tanto pensar!
A história perpassa a vida de Dorian que, ao ser retratado em uma pintura, e influenciado por um amigo, apaixona-se pela sua imagem a ponto de escolher “vender a sua alma” para manter-se sempre jovem e belo. As consequências de tal escolha são avassaladoras e acabam em um final, no mínimo, perturbador.
Apesar da história ter semelhanças com o mito grego de Narciso e a lenda alemã do Dr. Fausto, o livro não tem nenhuma intenção declarada de passar lições de moral.
Oscar Wilde (1854-1900), inclusive, era adepto de uma movimento artístico chamada esteticismo, que acreditava que a arte não serve para provar nada. Ou seja: o artista, na visão do autor, não tem obrigação moral, nem ética, nem política. O Retrato de Dorian Gray foi seu único romance publicado, mas Wilde escreveu muitos contos, novelas e peças de teatro.
Selecionamos alguns ensinamentos extraídos desta obra imperdível da literatura mundial. Afinal, não há como ignorar as profundas lições aprendidas com a aventura deste jovem inglês.
1. Resistir ao narcisismo: beleza sem caráter não leva a lugar nenhum....
Essa parece ser a lição mais óbvia do filme. Dorian passou a praticar ações, no mínimo, duvidosas, e abrir mão de qualquer sentimento positivo em nome da vaidade. O final da história deixa claro que a tal da “beleza interior” que tanto prezam pode ser clichê, sim, mas válido. O que nós temos por dentro acaba sendo muito mais precioso para nossa vivência em sociedade (e individual) do que aquilo que os olhos veem.
"O sentimento da beleza o assaltou como uma revelação. Ele nunca o havia sentido antes."
2. Tudo tem o seu tempo....
O medo de envelhecer e perder sua beleza e juventude leva Dorian Gray a tentar “parar o tempo”: ele quer permanecer intacto, sem lidar com as consequências do envelhecimento. Esta premissa do livro pode nos fazer refletir sobre quando ansiamos por adiantar episódios da vida, ou nos prendemos com medo de viver outros. Isso não funciona: nem na ficção, nem na prática. Viver o hoje e encarar os reflexos imediatos das nossas ações nos traz maturidade e melhor: nos ensina a assimilar melhor as nossas expectativas.
"A beleza não fora senão uma máscara e a juventude uma zombaria. Teria sido melhor para ele que cada pecado tivesse acarretado a respectiva pena, correta, rápida, concomitante."
3. Todo cuidado é pouco com as influências....
Lord Henry foi o maior influenciador de Dorian Gray. Antes de conhecê-lo, o jovem não tinha ambição de beleza eterna. Com uma personalidade cínica, libertina e bastante inteligente, Henry coloca suas ideias na cabeça de Dorian sem que ele perceba. Hoje em dia, com o fenômeno das redes sociais, é muito fácil confundir quais ideias, valores e opiniões são realmente nossas ou simplesmente adquiridas de um grupo. Desde quando você acredita no que você acredita e de onde veio isso? Vale perguntar mais vezes.
"Influenciar uma pessoa é dar a ela a própria alma. Ela passa a não pensar com seus pensamentos naturais."
4. Todos nós temos um lado bom e um lado ruim....
Um dos símbolos mais conhecidos do mundo é o Yin Yang. Ele representa o princípio da dualidade, onde o positivo não vive sem o negativo e vice e versa. Não existe uma pessoa totalmente boa, nem totalmente ruim. Dorian teve seu lado “ruim” ativado, mas no fundo se arrependeu. Entender que as pessoas são feitas de falhas e vitórias é uma das chaves para a tolerância.
"Cada um de nós, Basil, tem em si o céu e o inferno!"
5. Não é bom projetar os nossos ideais em outras pessoas....
Quantas vezes não fantasiamos com pessoas que sequer sabem que estão fazendo parte da nossa criatividade mental? Desejamos que elas sejam de tal e tal jeito e, no final, a tendência é sempre se decepcionar. Quando idealizamos pessoas e relações, estamos iludindo a ambos. Não fez bem a Dorian Gray e com certeza não fará bem a nós também.
"O apaixonado começa iludindo-se a si próprio e acaba enganando os outros. Eis o que o mundo chama um romance."
6. Admirar a arte pela arte
Esta é uma lição, na verdade, um tanto controversa para se aprender com o livro. Veja: o próprio Oscar Wilde encorajava que as pessoas vissem a arte como uma possibilidade de abertura para novas ideias e sensações, e não como uma resposta a perguntas.
Dorian faz muito isso no livro: vive o prazer pelo prazer, e não liga para “licões de vida”. As consequências são ruins, no final, mas o objetivo do autor não parece ser puxar a orelha de ninguém: ele acreditava (e pode mesmo ser interessante) que a arte não tem que gerar nenhum tipo de reflexão, necessariamente. Às vezes algo é só mesmo muito bonito.
"Seu objetivo, na verdade, era ser a experiência em si, e não os frutos da experiência, doce ou amarga como eles poderiam ser. (...) Mas foi para ensinar o homem a se concentrar nos momentos de uma vida que é em si apenas um momento."
7. “Ser bom é estar em harmonia consigo mesmo”
Essa é frase do livro que pode ter dois significados: um egoísta e perigoso, ou seja: não importa nada do que dizem, desde que você esteja se sentindo bem. E outra mais equilibrada: nem tudo precisa se encaixar em padrões, é importante olhar para dentro de si e encontrar o que realmente te faz bem. (Desde que, é claro, isso não seja prejudicial a ninguém).
"Já foi dito que os grandes eventos do mundo ocorrem no cérebro. É no cérebro e que os grandes pecados do mundo também acontecem."
quinta-feira, 13 de fevereiro de 2020
A guerra é bela....
Essa é uma parte do Livro, "O instante certo" de Dorrit Harazim.
A Guerra é bela
O livro de fotografia mais importante dos últimos tempos foi lançado em novembro de 2015 nos Estados Unidos. Ele não traz o cobiçado selo da editora alemã Steidl, por si só garantia de perfeccionismo e qualidade. Tampouco foi publicado pela Phaidon, a casa das artes visuais par excellence. Saiu pela editora de perfil mais offbeat, a powerHouse, porém conseguiu inflamar tanto o mundo da fotografia como o do jornalismo ao levantar uma questão de fundo: a da estetização da guerra na grande imprensa, com a cumplicidade de todos nós, leitores.
O volume de 112 páginas e formato coffee-table chama atenção pela singularidade da capa, de autoria de Milton Glaser. Ela emula uma primeira página de jornal e tem por título, em letras garrafais, a manchete "War is Beautiful". Uma segunda linha fina faz as vezes de subtítulo: "The New York Times Pictorial Guide to the Glamour of Armed Conflict".
Com layout evocativo ao do célebre matutino, na tipografia inclusive, ela traz no centro, como se fosse a foto do dia, uma belíssima imagem em tons de vermelho e amarelo, mas esvaziada de qualquer conteúdo. Não fica claro se se trata de uma pintura ou de uma fotografia de arte. As duas colunas de texto nas laterais, em vez de reportagens noticiosas, são críticas elogiosas ao livro. Levamos alguns segundos para perceber a armadilha.
A intenção do autor David Shields foi justamente essa: desconcertar e desarrumar a cabeça do leitor. Da ironia do título à insolência contundente do texto de apresentação, da cuidadosa seleção das imagens que ilustram sua tese ao impiedoso pos-fácio escrito pelo crítico de arte Dave Hickey, o livro é didático do início ao fim.
Shields, de 59 anos, é o celebrado autor de "A única certeza da vida é que um dia você vai morrer", bem como de outros quinze títulos traduzidos para vinte idiomas. Sua robusta produção abarca vários gêneros e lhe rendeu inúmeros prêmios, além de tê-lo consolidado como um dos mais irrequietos pensadores da literatura americana atual. Professor de escrita criativa no Warren Wilson College, da Carolina do Norte, e escritor residente na Universidade de Washington, ele sempre foi leitor obsessivo do New York Times.
Apesar de morar em Seattle, na Costa Oeste, a 4,5 mil quilômetros de distância de Manhattan, Shields resistiu à praticidade da leitura on-line e nunca abriu mão de tomar café da manhã lendo seu exemplar em papel. É o tipo de assinante que morre sendo assinante do impresso. Ou melhor, era.
Ultimamente começara a observar que as imagens da guerra no Iraque e no Afeganistão publicadas no seu jornal preferido lhe causavam mais impacto estético do que emocional. Apreciava-as pela beleza e composição, independentemente do que retratavam, e percebeu que quase sempre glorificavam a guerra e os sacrifícios feitos em seu nome. Assustou-se. "Ou o problema estava na minha cabeça ou na cabeça do Times", pensou. Tomou a si a tarefa de investigar.
Foi um trabalho insano.
Primeiro definiu que perscrutaria um período longo — de outubro de 1997 a meados de 2014 — para que a amostra fosse representativa. Depois, contando com a mão de obra de um pelotão de alunos, empilhou os milhares de edições do diário numa sala do porão da faculdade e focou apenas nas imagens de primeira página. Da peneirada inicial, separou 1450 edições para análise mais minuciosa. Da segunda rodada sobraram cerca de mil fotografias específicas, e dessas considerou que setecentas confirmavam o desconforto que o assaltara originalmente: eram belas demais, tanto no conteúdo quanto na forma, para serem representações honestas da realidade. O horror, o inferno, estavam ausentes.
"Para um jornal que é tido como referência mundial além de primeiro rascunho da história e registro da notícia, isso me pareceu problemático. Precisava ser apontado", explicou à revista Rolling Stone.
Shields decidiu montar War is Beautiful em cima da tese de que o centenário guardião do Quarto Poder, sinônimo de jornalismo responsável e confiável, faz uma narrativa positiva da guerra através de um fotojornalismo em que vê "toques de pôsteres de recrutamento militar". Por isso, as fotos publicadas são tão digeríveis como cereal do café da manhã. Ele diz:
Convencido de que era hora de despertar o leitor e arrancá-lo do que ele chama de "letargia opiática nacional", Shields fez uma seleta de 64 imagens do lote das setecentas finalistas e com elas montou seu libelo. Listou dez temas que, a seu ver, resumem a forma como o jornal ilustra o noticiário do envolvimento militar americano no Oriente Médio e os transformou em capítulos ilustrados por fotos de página inteira. Abaixo, uma sinopse dos temas detectados por Shields:
Tais categorias atendem ao propósito do autor, porém são por demais subjetivas e genéricas. Uma foto catalogada como PIETÀ, por exemplo, poderia muito bem constar do capítulo PAI ou PINTURA, enquanto um caso inserido em BELEZA serviria para ilustrar AMOR, e assim por diante. Como se sabe, desde que a fotografia fez sua estreia na Guerra Civil Americana (1861-65) como narradora oficial de conflitos armados, não há guerra no mundo em que esses temas não tenham sido retratados de uma forma ou outra, explorados intencionalmente ou não. A generalização e reducionismo da tese de Shields poderia ter minado o projeto.
O fato de o livro ser sobre fotografia sem se referir aos mais de quarenta fotojornalistas de guerra que nele figuram também bastaria para levá-lo a pique, por incongruente — afinal, vários desses profissionais são detentores de merecidos prêmios Pulitzer. Mas a relevância de War is Beautiful não está na avaliação da proficiência de quem está com a câmera na mão, e sim na totalidade da cadeia de produção e consumo do retrato da guerra nos Estados Unidos de hoje.
A obra toca na ferida exposta do jornalismo americano como um todo — aquela que nasceu das cinzas dos atentados terroristas de 2001 às Torres Gêmeas e nunca mais cicatrizou direito. O mérito de David Shields foi ter percebido a anestesia visual com que a ferida tem sido tratada. E explica a contundência do eco com que se acolheu War is Beautiful.
Além do próprio Milton Glaser — "É difícil fazer as pessoas prestarem atenção no que é invisível", escreveu o artista gráfico —, foram inúmeras as vozes respeitadas que se manifestaram. "Shields nos obriga a sentir nossa cumplicidade em criar a mitologia da guerra", opinou o escritor Lawrence Weschler; "Desde Apocalypse Now não percebia a violência tão bela", acrescentou o romancista William T. Vollmann; "Ninguém gosta de fazer o papel de Dom Quixote contra o New York Times. Shields atacou duas veneráveis instituições: o jornalismo e o governo, num mesmo abraço", complementou o ensaísta Andrei Codrescu; "Jornalismo cinemático perturbador", avaliou Ira Glass, produtor do fenomenal This American Life.
Para Michelle McNally, há dez anos diretora de fotografia do Times, ninguém deve fazer um juízo da tese de Shields sem analisar os milhares de páginas não representados nas 64 imagens do livro. "Algumas podem ser anódinas, mas outras são desconcertantes", garante ela, e levam editores a ter de explicar escolhas consideradas "insensíveis" e "gratuitas". Cita como exemplo a publicação em julho de 2014, no alto da primeira página, da foto de um cadáver a céu aberto, toscamente encoberto com plástico transparente. Só que aquela imagem não era de guerra (era de uma das vítimas do voo comercial MHI7 abatido quando sobrevoava a Ucrânia), o morto não era americano, e a foto era belíssima, com uma solitária flor escarlate adornando o plástico molhado. Prevalecera o belo.
Nem sempre foi assim. Exatamente seis décadas atrás, numa enlameada trincheira do Vietnã, o fotógrafo Henri Huet da agência Associated Press (AP) viu emergir um GI paramédico com boa parte do rosto coberta por várias camadas de bandagem. Com um olho às cegas, sobrava-lhe uma nesga de visão com o outro olho. Através dessa nesga o jovem paramédico atendia os companheiros feridos da Primeira Divisão de Cavalaria, e Huet fotografou a série que mereceu doze páginas na revista Life e rendeu a ele o Prêmio Robert Capa de 1966.
Nem na época nem hoje ocorreria a alguém classificar de bela demais nenhuma dessas imagens. Também não viria à mente rotular de PIETÀ ou de qualquer outra coisa além de horror a foto da menina vietnamita nua correndo numa estrada de terra, braços abertos e a pele desfolhada pelo napalm, captada por Nick Ut em 1972.
Tampouco houve composição ou enquadramento no único frame existente do repentino disparo do chefe de polícia de Saigon (hoje Ho Chi Minh) contra a têmpora de um vietcongue que acabara de ser detido. Eddie Adams, veterano da Guerra da Coreia, fotografava uma corriqueira operação de caça a infiltrados comunistas no Sul e por força de hábito acompanhou o movimento de braço do policial ao ver que ele desembainhara a pistola. Jamais imaginou que dali sairia o célebre tiro à queima-roupa sem aviso prévio. Nem sequer sabia o que captara — aqueles eram tempos anteriores à câmera digital. Retornou ao escritório da AP, entregou o material para ser processado, pegou novo lote de filmes virgens e voltou às ruas. Somente à noite pôde ver a imagem que lhe valeu o Pulitzer de 1966 e acordou o público americano para o lado menos nobre da guerra no Sudeste Asiático.
A liberdade concedida a repórteres e fotojornalistas no Vietnã foi sem precedentes. Não havia censura de espécie alguma, e o acesso físico ao campo de batalha, com cada um assumindo seus riscos, jamais se repetiria. Isso resultou numa cobertura ímpar cujo nível de qualidade, densidade e realismo quase apocalíptico custou caro — 75 profissionais, entre os melhores de toda uma geração, morreram naquele infernal campo de trabalho.
Eles se tornaram referências, viraram mitos. Dos mais de 1,6 mil títulos já publicados nos Estados Unidos sobre a Guerra do Vietnã, perto de 150 se referem à fotografia no conflito. Basta pegar um único trabalho, o magistral Vietnam, The Real War, a Photographic History by the Associated Press, para qualquer amador perceber por que as fotos daquele período se grudaram na consciência dos americanos e alteraram o curso da guerra.
Desde então, novas levas de profissionais foram despachadas a campo, talvez pensando-se em emular e honrar o modelo de cobertura do Vietnã. Missão impossível: as guerras e suas regras hoje são outras, a nação americana, suas instituições e imprensa também.
Como sustenta Dave Hickey no posfácio, as coberturas de guerra retornaram à estética de peças para museus, de arquivos da história da arte. "São composições esvaziadas de densidade, de realidade, de vida na morte."
A cobrança, naturalmente, não é por fotos fora de foco, "sujas", mal iluminadas e com enquadramento apressado ou encharcadas de sangue e em ricto de dor. Excesso de drama também anestesia. Leitores de jornal do mundo inteiro só despertaram para a brutalidade do êxodo dos refugiados de 2015 ao verem uma foto plácida em meio à avalanche diária de imagens do horror coletivo. Ela chamou atenção por ter "vida na morte": mostrava o corpo do menino Aylan, de três anos, à beira do mar numa praia turca. Poderia estar adormecido se não estivesse morto.
Vale lembrar que a foto de autoria de Nilüfer Demir, da agência Dogan, tornou-se virai graças ao trabalho de com-partilhamento iniciado por Peter Bouckaert, da Human Rights Watch. Foi por pressão incontornável das mídias sociais que a imagem de Aylan se converteu em símbolo de tantas crianças refugiadas perdidas no Mediterrâneo. Hugh Pinney, vice-presi-dente da Getty Images, sustenta:
A higienização do fotojornalismo e da cobertura de guer-ra ocorrida nos Estados Unidos após o Onze de Setembro foi, de fato, radical. De forma consciente ou não e com poucas ex-ceções, a indústria da comunicação, assim como a nação, aderiu ao espírito do fatídico parágrafo único de sessenta palavras mais danoso da história moderna americana: a Autorização para o Uso de Força Militar (AUMF na sigla em inglês), instrumento que estabeleceu o fundamento legal para o presidente George W. Bush desencadear a "guerra ao terror" e justificar as invasões de países feitas em nome dela.
Bill Kovach, ex-curador da Fundação Nieman de jornalismo, acredita que "o estado emocional da sociedade após o Onze de Setembro induziu a mídia a relutar em ir contra a maré". Greg Dyke, então diretor-geral da BBC, declarou-se chocado com a maneira dócil como o noticiário televisivo da invasão do Iraque era formatado para a audiência americana, em comparação com o que o público europeu via. A decisão do Pentágono de incorporar, ou embed, como a prática passou a ser chamada, mais de seiscentos repórteres e fotógrafos às suas tropas para ver a guerra de perto foi um golpe de mestre. Na Segunda Guerra Mundial, Robert Capa, Lee Miller, David Douglas Duncan e tantos outros também trabalharam embedded. Mas, apesar de vestirem o uniforme dos Estados Unidos, e o fizeram com gosto, apenas a censura contra o inimigo nazista limitou seu trabalho, não normas de higienização de imagens.
Já para as primeiras levas de embedded nas guerras dos Estados Unidos no século XXI as regras eram outras. A começar pela proibição de fotografar membros das forças armadas mortos, gravemente feridos ou executando civis. Em contrapartida, o povo americano podia assistir de casa, de camarote e em tempo real, às operações, dada a abundância de repórteres e fotógrafos que acompanhavam as tropas de assalto. Só mais tarde se percebeu que derrotar as surradas forças de Saddam Hussein foi a parte mais fácil. Faltou, e falta até hoje, garantir o day after.
Como escreveu na época Murrey Marder, o fundador do Projeto Nieman de Vigilância da Imprensa, o que a mídia atrelada às tropas via e relatava dependia das unidades às quais estava anexada. Estar integrado em unidades avançadas numa frente de combate é o sonho de todo repórter. "Mas cabe ao repórter, ao fotojornalista e a seu editor decidir como melhor transformar esse sonho numa cobertura útil", alertava Marder. Em entrevista à rede pública de televisão C-Span, um general da reserva chegou a definir assim a situação: "O Pentágono transformou a mídia em arma". Arma de propaganda gratuita.
No fundo, o libelo de War Beautiful é voltado sobretudo para a retaguarda do trabalho dos profissionais em campo. A saber, os editores nas redações e os consumidores do produto final, que preferiram ser anestesiados com imagens de valentia, honradez e propósito de guerras sem fim que o país preferiria esquecer. Daí a investigação lúcida de Shields na insalubre triangulação entre violência, estética e política.
Não faltam levantamentos paralelos sobre o notável esforço dos fotojornalistas embedded que contornaram a camisa de força e se arriscaram a retratar a guerra em toda a sua toxicidade. Mas essa é a bibliografia convencional.
O trabalho de Shields é fora da curva. E, para quem não tem acesso a seu livro, faz-se aqui a narrativa de um episódio que, embora não conste de War Beautiful, ilustra de forma cristalina a tese do autor.
A cena se passa num início de noite de janeiro de 2005 em Tal Afar, cidade do norte do Iraque ocupada por tropas dos Estados Unidos, hoje em mãos dos jihadistas do Estado Islâmico. Um pelotão de cerca de vinte homens da Companhia Apache patrulha a pé o centro da cidade esvaziada pelo toque de recolher. Vestem uniforme de camuflagem e caminham por um bulevar sem iluminação. À distância, um solitário carro se aproxima. Tiros de alerta são disparados, mas o carro não para e é imediatamente engolido por disparos do pelotão inteiro. Quando os soldados chegam perto do veículo imobilizado e abrem a porta traseira, seis crianças pequenas deságuam do interior, uma com ferimentos graves no abdome. No banco da frente, dois adultos — o pai e a mãe — estão mortos, perfurados de balas.
A família voltava do hospital local, onde fora visitar outro filho, doente. Todos tinham agido segundo o instinto de sobrevivência de cada um. Para aquele pai com mulher e crianças a bordo, o mais sensato era só parar quando chegassem em casa. A noite estava cerrada demais para que pudesse perceber a presença da patrulha ou saber que ali havia um posto de controle. Além disso, entre os tiros de aviso e as rajadas letais o tempo fora insuficiente para ele poder reagir. E, mesmo que ouvisse, seu primeiro instinto seria continuar dirigindo e sair da linha de tiro. Os soldados, por seu lado, agiram segundo as regras de procedimento em combate definidas pelo comando. Nada tinham a esconder. Milhares de militares americanos já haviam morrido ou sofrido amputação por terem sido vítimas de carros-bomba conduzidos por militantes suicidas. Fora um acidente a mais, terrível mas compreensível dadas as circunstâncias, devidamente investigado e arquivado.
Com uma diferença: na patrulha daquela noite estava um repórter fotográfico embedded, o veterano Chris Hondros, da agência Getty. Apesar da total escuridão, do absoluto inesperado da cena e do caos reinante, Hondros captou o episódio inteiro procurando não demonstrar afoiteza. Nada perguntou no trajeto de volta à base.
Mal chegaram, foi chamado a apresentar-se ao major no comando, que o orientou a não transmitir nenhuma foto até a conclusão da investigação dos fatos daquela noite. Hondros respondeu que consultaria a chefia da agência Getty, e saiu correndo para o seu trailer — queria conferir se conseguira capturar a imagem em meio a escuridão da cena. Sabia que os militares, se quisessem, podiam obstruir toda a comunicação na base e confiscar-lhe o celular. Por isso, ao constatar que o material colhido resultara em imagens ricas em informação, não hesitou: transmitiu de imediato tudo o que tinha, dessa vez afoito.
Apenas recomendou por escrito que seu chefe se entendesse com o major antes de disponibilizar o material para jornais de todo o mundo. Mas falhas de comunicação acontecem, às vezes para o bem. Quando o chefe de Hondros entrou em contato com a base em Tal Afar, o major já tinha ido dormir. O capitão que o substituíra entendeu errado a negociação e na manhã seguinte a foto da menina Samar Hassan, de cinco anos, salpicada de sangue, e um grito de socorro a ecoar estava nas primeiras páginas de jornais mundo afora menos na do New York Times.
Passam-se seis anos.
Somente na edição de 7 de maio de 20115 a principal foto de primeira página do matutino mostra Samar. Ela está sentada num sofá, envolta num bonito vestido sem adornos. Tornara-se uma tímida adolescente de doze anos, e estava sendo entrevistada pelo Times em condição mais edificante. Morava em Mosul com o que restava da família. Abaixo da foto apaziguadora, em tamanho bem menor e com seis anos de atraso, o flagrante da fuzilaria que fizera dela o símbolo do custo civil e da destruição de um país. "Eu deveria ter produzido este livro dez anos atrás. Hoje ele chega um pouco atrasado. Ainda assim, espero que as pessoas, inclusive eu, aprendam como é fácil nos tornarmos cordeiros de um abatedouro, o abatedouro da propaganda da guerra", conclui David Shields.
Fevereiro de 2016
A Guerra é bela
O livro de fotografia mais importante dos últimos tempos foi lançado em novembro de 2015 nos Estados Unidos. Ele não traz o cobiçado selo da editora alemã Steidl, por si só garantia de perfeccionismo e qualidade. Tampouco foi publicado pela Phaidon, a casa das artes visuais par excellence. Saiu pela editora de perfil mais offbeat, a powerHouse, porém conseguiu inflamar tanto o mundo da fotografia como o do jornalismo ao levantar uma questão de fundo: a da estetização da guerra na grande imprensa, com a cumplicidade de todos nós, leitores.
O volume de 112 páginas e formato coffee-table chama atenção pela singularidade da capa, de autoria de Milton Glaser. Ela emula uma primeira página de jornal e tem por título, em letras garrafais, a manchete "War is Beautiful". Uma segunda linha fina faz as vezes de subtítulo: "The New York Times Pictorial Guide to the Glamour of Armed Conflict".
Com layout evocativo ao do célebre matutino, na tipografia inclusive, ela traz no centro, como se fosse a foto do dia, uma belíssima imagem em tons de vermelho e amarelo, mas esvaziada de qualquer conteúdo. Não fica claro se se trata de uma pintura ou de uma fotografia de arte. As duas colunas de texto nas laterais, em vez de reportagens noticiosas, são críticas elogiosas ao livro. Levamos alguns segundos para perceber a armadilha.
A intenção do autor David Shields foi justamente essa: desconcertar e desarrumar a cabeça do leitor. Da ironia do título à insolência contundente do texto de apresentação, da cuidadosa seleção das imagens que ilustram sua tese ao impiedoso pos-fácio escrito pelo crítico de arte Dave Hickey, o livro é didático do início ao fim.
Shields, de 59 anos, é o celebrado autor de "A única certeza da vida é que um dia você vai morrer", bem como de outros quinze títulos traduzidos para vinte idiomas. Sua robusta produção abarca vários gêneros e lhe rendeu inúmeros prêmios, além de tê-lo consolidado como um dos mais irrequietos pensadores da literatura americana atual. Professor de escrita criativa no Warren Wilson College, da Carolina do Norte, e escritor residente na Universidade de Washington, ele sempre foi leitor obsessivo do New York Times.
Apesar de morar em Seattle, na Costa Oeste, a 4,5 mil quilômetros de distância de Manhattan, Shields resistiu à praticidade da leitura on-line e nunca abriu mão de tomar café da manhã lendo seu exemplar em papel. É o tipo de assinante que morre sendo assinante do impresso. Ou melhor, era.
Ultimamente começara a observar que as imagens da guerra no Iraque e no Afeganistão publicadas no seu jornal preferido lhe causavam mais impacto estético do que emocional. Apreciava-as pela beleza e composição, independentemente do que retratavam, e percebeu que quase sempre glorificavam a guerra e os sacrifícios feitos em seu nome. Assustou-se. "Ou o problema estava na minha cabeça ou na cabeça do Times", pensou. Tomou a si a tarefa de investigar.
Foi um trabalho insano.
Primeiro definiu que perscrutaria um período longo — de outubro de 1997 a meados de 2014 — para que a amostra fosse representativa. Depois, contando com a mão de obra de um pelotão de alunos, empilhou os milhares de edições do diário numa sala do porão da faculdade e focou apenas nas imagens de primeira página. Da peneirada inicial, separou 1450 edições para análise mais minuciosa. Da segunda rodada sobraram cerca de mil fotografias específicas, e dessas considerou que setecentas confirmavam o desconforto que o assaltara originalmente: eram belas demais, tanto no conteúdo quanto na forma, para serem representações honestas da realidade. O horror, o inferno, estavam ausentes.
"Para um jornal que é tido como referência mundial além de primeiro rascunho da história e registro da notícia, isso me pareceu problemático. Precisava ser apontado", explicou à revista Rolling Stone.
Shields decidiu montar War is Beautiful em cima da tese de que o centenário guardião do Quarto Poder, sinônimo de jornalismo responsável e confiável, faz uma narrativa positiva da guerra através de um fotojornalismo em que vê "toques de pôsteres de recrutamento militar". Por isso, as fotos publicadas são tão digeríveis como cereal do café da manhã. Ele diz:
Em princípio, o jornalismo deve afligir quem está acomodado e confortar quem está aflito, mas o NYT não faz uma coisa nem outra com seu fotojornalismo de guerra. Parece ser sua política institucional selecionar imagens que podem ser emolduradas e penduradas na casa da pessoa. Não têm cheiro nem quentura, não te deixam sem ar, não transmitem nada visceral. Falta o horror.
Convencido de que era hora de despertar o leitor e arrancá-lo do que ele chama de "letargia opiática nacional", Shields fez uma seleta de 64 imagens do lote das setecentas finalistas e com elas montou seu libelo. Listou dez temas que, a seu ver, resumem a forma como o jornal ilustra o noticiário do envolvimento militar americano no Oriente Médio e os transformou em capítulos ilustrados por fotos de página inteira. Abaixo, uma sinopse dos temas detectados por Shields:
NATUREZA - fotos que têm a ação militar como habitat e nas quais o papel do soldado é tão glorioso quanto o da natureza
DIVERSÃO - a guerra, mesmo quando perigosa, retratada como playground para a soldadesca
PAI - apesar de deslocado para combater em outra cultura, o guerreiro americano oferece proteção e conforto aos nativos em meio ao caos
DEUS - os militares comandam o globo e tudo está sob controle
PIETÀ - o retrato da dor e do sofrimento extremos deve ser comedido; histeria, caos e horror estão banidos
PINTURA - algumas imagens parecem quadros e remetem aos épicos da arte militar que precedeu o invento da fotografia
CINEMA - efeitos especiais e tecnologia transformam campos da morte em cenário de filme e deletam as carcaças humanas quando elas são americanas
BELEZA - retratos de mulheres e crianças em busca de salvação; o custo do sacrifício do homem que partiu para a guerra
AMOR - a proximidade da morte na guerra é uma força que dá sentido à vida
MORTE - imagens da máquina bélica que segue seu honroso curso
Tais categorias atendem ao propósito do autor, porém são por demais subjetivas e genéricas. Uma foto catalogada como PIETÀ, por exemplo, poderia muito bem constar do capítulo PAI ou PINTURA, enquanto um caso inserido em BELEZA serviria para ilustrar AMOR, e assim por diante. Como se sabe, desde que a fotografia fez sua estreia na Guerra Civil Americana (1861-65) como narradora oficial de conflitos armados, não há guerra no mundo em que esses temas não tenham sido retratados de uma forma ou outra, explorados intencionalmente ou não. A generalização e reducionismo da tese de Shields poderia ter minado o projeto.
O fato de o livro ser sobre fotografia sem se referir aos mais de quarenta fotojornalistas de guerra que nele figuram também bastaria para levá-lo a pique, por incongruente — afinal, vários desses profissionais são detentores de merecidos prêmios Pulitzer. Mas a relevância de War is Beautiful não está na avaliação da proficiência de quem está com a câmera na mão, e sim na totalidade da cadeia de produção e consumo do retrato da guerra nos Estados Unidos de hoje.
A obra toca na ferida exposta do jornalismo americano como um todo — aquela que nasceu das cinzas dos atentados terroristas de 2001 às Torres Gêmeas e nunca mais cicatrizou direito. O mérito de David Shields foi ter percebido a anestesia visual com que a ferida tem sido tratada. E explica a contundência do eco com que se acolheu War is Beautiful.
Além do próprio Milton Glaser — "É difícil fazer as pessoas prestarem atenção no que é invisível", escreveu o artista gráfico —, foram inúmeras as vozes respeitadas que se manifestaram. "Shields nos obriga a sentir nossa cumplicidade em criar a mitologia da guerra", opinou o escritor Lawrence Weschler; "Desde Apocalypse Now não percebia a violência tão bela", acrescentou o romancista William T. Vollmann; "Ninguém gosta de fazer o papel de Dom Quixote contra o New York Times. Shields atacou duas veneráveis instituições: o jornalismo e o governo, num mesmo abraço", complementou o ensaísta Andrei Codrescu; "Jornalismo cinemático perturbador", avaliou Ira Glass, produtor do fenomenal This American Life.
Para Michelle McNally, há dez anos diretora de fotografia do Times, ninguém deve fazer um juízo da tese de Shields sem analisar os milhares de páginas não representados nas 64 imagens do livro. "Algumas podem ser anódinas, mas outras são desconcertantes", garante ela, e levam editores a ter de explicar escolhas consideradas "insensíveis" e "gratuitas". Cita como exemplo a publicação em julho de 2014, no alto da primeira página, da foto de um cadáver a céu aberto, toscamente encoberto com plástico transparente. Só que aquela imagem não era de guerra (era de uma das vítimas do voo comercial MHI7 abatido quando sobrevoava a Ucrânia), o morto não era americano, e a foto era belíssima, com uma solitária flor escarlate adornando o plástico molhado. Prevalecera o belo.
Nem sempre foi assim. Exatamente seis décadas atrás, numa enlameada trincheira do Vietnã, o fotógrafo Henri Huet da agência Associated Press (AP) viu emergir um GI paramédico com boa parte do rosto coberta por várias camadas de bandagem. Com um olho às cegas, sobrava-lhe uma nesga de visão com o outro olho. Através dessa nesga o jovem paramédico atendia os companheiros feridos da Primeira Divisão de Cavalaria, e Huet fotografou a série que mereceu doze páginas na revista Life e rendeu a ele o Prêmio Robert Capa de 1966.
Nem na época nem hoje ocorreria a alguém classificar de bela demais nenhuma dessas imagens. Também não viria à mente rotular de PIETÀ ou de qualquer outra coisa além de horror a foto da menina vietnamita nua correndo numa estrada de terra, braços abertos e a pele desfolhada pelo napalm, captada por Nick Ut em 1972.
Tampouco houve composição ou enquadramento no único frame existente do repentino disparo do chefe de polícia de Saigon (hoje Ho Chi Minh) contra a têmpora de um vietcongue que acabara de ser detido. Eddie Adams, veterano da Guerra da Coreia, fotografava uma corriqueira operação de caça a infiltrados comunistas no Sul e por força de hábito acompanhou o movimento de braço do policial ao ver que ele desembainhara a pistola. Jamais imaginou que dali sairia o célebre tiro à queima-roupa sem aviso prévio. Nem sequer sabia o que captara — aqueles eram tempos anteriores à câmera digital. Retornou ao escritório da AP, entregou o material para ser processado, pegou novo lote de filmes virgens e voltou às ruas. Somente à noite pôde ver a imagem que lhe valeu o Pulitzer de 1966 e acordou o público americano para o lado menos nobre da guerra no Sudeste Asiático.
A liberdade concedida a repórteres e fotojornalistas no Vietnã foi sem precedentes. Não havia censura de espécie alguma, e o acesso físico ao campo de batalha, com cada um assumindo seus riscos, jamais se repetiria. Isso resultou numa cobertura ímpar cujo nível de qualidade, densidade e realismo quase apocalíptico custou caro — 75 profissionais, entre os melhores de toda uma geração, morreram naquele infernal campo de trabalho.
Eles se tornaram referências, viraram mitos. Dos mais de 1,6 mil títulos já publicados nos Estados Unidos sobre a Guerra do Vietnã, perto de 150 se referem à fotografia no conflito. Basta pegar um único trabalho, o magistral Vietnam, The Real War, a Photographic History by the Associated Press, para qualquer amador perceber por que as fotos daquele período se grudaram na consciência dos americanos e alteraram o curso da guerra.
Desde então, novas levas de profissionais foram despachadas a campo, talvez pensando-se em emular e honrar o modelo de cobertura do Vietnã. Missão impossível: as guerras e suas regras hoje são outras, a nação americana, suas instituições e imprensa também.
Como sustenta Dave Hickey no posfácio, as coberturas de guerra retornaram à estética de peças para museus, de arquivos da história da arte. "São composições esvaziadas de densidade, de realidade, de vida na morte."
A cobrança, naturalmente, não é por fotos fora de foco, "sujas", mal iluminadas e com enquadramento apressado ou encharcadas de sangue e em ricto de dor. Excesso de drama também anestesia. Leitores de jornal do mundo inteiro só despertaram para a brutalidade do êxodo dos refugiados de 2015 ao verem uma foto plácida em meio à avalanche diária de imagens do horror coletivo. Ela chamou atenção por ter "vida na morte": mostrava o corpo do menino Aylan, de três anos, à beira do mar numa praia turca. Poderia estar adormecido se não estivesse morto.
Vale lembrar que a foto de autoria de Nilüfer Demir, da agência Dogan, tornou-se virai graças ao trabalho de com-partilhamento iniciado por Peter Bouckaert, da Human Rights Watch. Foi por pressão incontornável das mídias sociais que a imagem de Aylan se converteu em símbolo de tantas crianças refugiadas perdidas no Mediterrâneo. Hugh Pinney, vice-presi-dente da Getty Images, sustenta:
O motivo pelo qual ainda hoje se fala tanto dessa foto não é pelas circunstâncias em que ela foi feita nem por ter se tornado vira!, mas pelo fato de ter sido publicada na grande imprensa. Um tabu de décadas foi quebrado. Ao ser jogada nas redes sociais por iniciativa individual de algumas pessoas, deu à grande imprensa a coragem e a convicção de fazer o mesmo.
A higienização do fotojornalismo e da cobertura de guer-ra ocorrida nos Estados Unidos após o Onze de Setembro foi, de fato, radical. De forma consciente ou não e com poucas ex-ceções, a indústria da comunicação, assim como a nação, aderiu ao espírito do fatídico parágrafo único de sessenta palavras mais danoso da história moderna americana: a Autorização para o Uso de Força Militar (AUMF na sigla em inglês), instrumento que estabeleceu o fundamento legal para o presidente George W. Bush desencadear a "guerra ao terror" e justificar as invasões de países feitas em nome dela.
Bill Kovach, ex-curador da Fundação Nieman de jornalismo, acredita que "o estado emocional da sociedade após o Onze de Setembro induziu a mídia a relutar em ir contra a maré". Greg Dyke, então diretor-geral da BBC, declarou-se chocado com a maneira dócil como o noticiário televisivo da invasão do Iraque era formatado para a audiência americana, em comparação com o que o público europeu via. A decisão do Pentágono de incorporar, ou embed, como a prática passou a ser chamada, mais de seiscentos repórteres e fotógrafos às suas tropas para ver a guerra de perto foi um golpe de mestre. Na Segunda Guerra Mundial, Robert Capa, Lee Miller, David Douglas Duncan e tantos outros também trabalharam embedded. Mas, apesar de vestirem o uniforme dos Estados Unidos, e o fizeram com gosto, apenas a censura contra o inimigo nazista limitou seu trabalho, não normas de higienização de imagens.
Já para as primeiras levas de embedded nas guerras dos Estados Unidos no século XXI as regras eram outras. A começar pela proibição de fotografar membros das forças armadas mortos, gravemente feridos ou executando civis. Em contrapartida, o povo americano podia assistir de casa, de camarote e em tempo real, às operações, dada a abundância de repórteres e fotógrafos que acompanhavam as tropas de assalto. Só mais tarde se percebeu que derrotar as surradas forças de Saddam Hussein foi a parte mais fácil. Faltou, e falta até hoje, garantir o day after.
Como escreveu na época Murrey Marder, o fundador do Projeto Nieman de Vigilância da Imprensa, o que a mídia atrelada às tropas via e relatava dependia das unidades às quais estava anexada. Estar integrado em unidades avançadas numa frente de combate é o sonho de todo repórter. "Mas cabe ao repórter, ao fotojornalista e a seu editor decidir como melhor transformar esse sonho numa cobertura útil", alertava Marder. Em entrevista à rede pública de televisão C-Span, um general da reserva chegou a definir assim a situação: "O Pentágono transformou a mídia em arma". Arma de propaganda gratuita.
No fundo, o libelo de War Beautiful é voltado sobretudo para a retaguarda do trabalho dos profissionais em campo. A saber, os editores nas redações e os consumidores do produto final, que preferiram ser anestesiados com imagens de valentia, honradez e propósito de guerras sem fim que o país preferiria esquecer. Daí a investigação lúcida de Shields na insalubre triangulação entre violência, estética e política.
Não faltam levantamentos paralelos sobre o notável esforço dos fotojornalistas embedded que contornaram a camisa de força e se arriscaram a retratar a guerra em toda a sua toxicidade. Mas essa é a bibliografia convencional.
O trabalho de Shields é fora da curva. E, para quem não tem acesso a seu livro, faz-se aqui a narrativa de um episódio que, embora não conste de War Beautiful, ilustra de forma cristalina a tese do autor.
A cena se passa num início de noite de janeiro de 2005 em Tal Afar, cidade do norte do Iraque ocupada por tropas dos Estados Unidos, hoje em mãos dos jihadistas do Estado Islâmico. Um pelotão de cerca de vinte homens da Companhia Apache patrulha a pé o centro da cidade esvaziada pelo toque de recolher. Vestem uniforme de camuflagem e caminham por um bulevar sem iluminação. À distância, um solitário carro se aproxima. Tiros de alerta são disparados, mas o carro não para e é imediatamente engolido por disparos do pelotão inteiro. Quando os soldados chegam perto do veículo imobilizado e abrem a porta traseira, seis crianças pequenas deságuam do interior, uma com ferimentos graves no abdome. No banco da frente, dois adultos — o pai e a mãe — estão mortos, perfurados de balas.
A família voltava do hospital local, onde fora visitar outro filho, doente. Todos tinham agido segundo o instinto de sobrevivência de cada um. Para aquele pai com mulher e crianças a bordo, o mais sensato era só parar quando chegassem em casa. A noite estava cerrada demais para que pudesse perceber a presença da patrulha ou saber que ali havia um posto de controle. Além disso, entre os tiros de aviso e as rajadas letais o tempo fora insuficiente para ele poder reagir. E, mesmo que ouvisse, seu primeiro instinto seria continuar dirigindo e sair da linha de tiro. Os soldados, por seu lado, agiram segundo as regras de procedimento em combate definidas pelo comando. Nada tinham a esconder. Milhares de militares americanos já haviam morrido ou sofrido amputação por terem sido vítimas de carros-bomba conduzidos por militantes suicidas. Fora um acidente a mais, terrível mas compreensível dadas as circunstâncias, devidamente investigado e arquivado.
Com uma diferença: na patrulha daquela noite estava um repórter fotográfico embedded, o veterano Chris Hondros, da agência Getty. Apesar da total escuridão, do absoluto inesperado da cena e do caos reinante, Hondros captou o episódio inteiro procurando não demonstrar afoiteza. Nada perguntou no trajeto de volta à base.
Mal chegaram, foi chamado a apresentar-se ao major no comando, que o orientou a não transmitir nenhuma foto até a conclusão da investigação dos fatos daquela noite. Hondros respondeu que consultaria a chefia da agência Getty, e saiu correndo para o seu trailer — queria conferir se conseguira capturar a imagem em meio a escuridão da cena. Sabia que os militares, se quisessem, podiam obstruir toda a comunicação na base e confiscar-lhe o celular. Por isso, ao constatar que o material colhido resultara em imagens ricas em informação, não hesitou: transmitiu de imediato tudo o que tinha, dessa vez afoito.
Apenas recomendou por escrito que seu chefe se entendesse com o major antes de disponibilizar o material para jornais de todo o mundo. Mas falhas de comunicação acontecem, às vezes para o bem. Quando o chefe de Hondros entrou em contato com a base em Tal Afar, o major já tinha ido dormir. O capitão que o substituíra entendeu errado a negociação e na manhã seguinte a foto da menina Samar Hassan, de cinco anos, salpicada de sangue, e um grito de socorro a ecoar estava nas primeiras páginas de jornais mundo afora menos na do New York Times.
Passam-se seis anos.
Somente na edição de 7 de maio de 20115 a principal foto de primeira página do matutino mostra Samar. Ela está sentada num sofá, envolta num bonito vestido sem adornos. Tornara-se uma tímida adolescente de doze anos, e estava sendo entrevistada pelo Times em condição mais edificante. Morava em Mosul com o que restava da família. Abaixo da foto apaziguadora, em tamanho bem menor e com seis anos de atraso, o flagrante da fuzilaria que fizera dela o símbolo do custo civil e da destruição de um país. "Eu deveria ter produzido este livro dez anos atrás. Hoje ele chega um pouco atrasado. Ainda assim, espero que as pessoas, inclusive eu, aprendam como é fácil nos tornarmos cordeiros de um abatedouro, o abatedouro da propaganda da guerra", conclui David Shields.
Fevereiro de 2016
terça-feira, 11 de fevereiro de 2020
Eterno retorno... Quererias?
"E se um dia ou uma noite um demônio se esgueirasse em tua mais solitária solidão e te dissesse: "Esta vida, assim como tu vives agora e como a viveste, terás de vivê-la ainda uma vez e ainda inúmeras vezes: e não haverá nela nada de novo, cada dor e cada prazer e cada pensamento e suspiro e tudo o que há de indivisivelmente pequeno e de grande em tua vida há de te retornar, e tudo na mesma ordem e sequência - e do mesmo modo esta aranha e este luar entre as árvores, e do mesmo modo este instante e eu próprio. A eterna ampulheta da existência será sempre virada outra vez, e tu com ela, poeirinha da poeira!". Não te lançarias ao chão e rangerias os dentes e amaldiçoarias o demônio que te falasses assim? Ou viveste alguma vez um instante descomunal, em que lhe responderías: "Tu és um deus e nunca ouvi nada mais divino!" Se esse pensamento adquirisse poder sobre ti, assim como tu és, ele te transformaria e talvez te triturasse: a pergunta diante de tudo e de cada coisa: "Quero isto ainda uma vez e inúmeras vezes?" pesaria como o mais pesado dos pesos sobre o teu agir! Ou, então, como terias de ficar de bem contigo e mesmo com a vida, para não desejar nada mais do que essa última, eterna confirmação e chancela?"A Gaia Ciência
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